É sempre gratificante receber o disco de um músico já associado a um estilo específico, mas que, quando colocamos a bolacha para rodar, a proposta é completamente diferente do que se poderia imaginar. Neste caso, temos Alexei Leão – vulgo Xei –, que se tornou conhecido por ser o vocalista da banda de heavy metal Stormental, de Florianópolis (SC), e que agora está liberando seu primeiro registro solo chamado #320 On Hart Street no formato acústico.
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Resenha de Archangel, do Soulfly, na coluna da semana passada
Infidel, do Insane Devotion., na coluna da semana passada
O álbum foi composto no período em que Xei esteve se aprimorando em engenharia de áudio e produção no renomado Institute of Audio Research em Nova York, e, como não poderia deixar de ser, o vocalista assumiu a produção do disco, que foi gravado, mixado e masterizado no AML Studio NY. Longe de uma banda real e do local onde cresceu, o resultado é intimista, carregado de melancolia e, ainda que acessível, passa longe da pieguice do pop.
O repertório prima pela linearidade, mas dá para destacar Darkness’ Lullaby e Lost in the Way, com violões e discretos teclados, que de alguma forma remetem aos tempos antigos. Vale citar An Angel on Hart pela homenagem ao falecido Rafael Scopel; Hey Darling, com o cello de Daniel Galvão (Camerata Florianópolis); e a mais distinta de todas, Karma, com trechos cantados em português e que tem como convidados especiais o rapper norte-americano Ralph G.A.M.B.L.E. e o baterista Marcelo Moreira (Circle II Circle, Marmor).
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O título do disco, que pode ser intrigante aos brasileiros, é o endereço onde Xei morou em New York. Além do formato digital, #320 On Hart Street foi prensado em vinil branco (yeah!!!), sendo digno de constar na prateleira de qualquer colecionador que aprecia boa música folk, e, evidentemente, ao headbanger afeito a trabalhos que se esquivam da distorção do heavy metal. São cerca de 30 minutos para se escutar na penumbra, acompanhado de uma taça de bom vinho. |m|
XEI TAMBÉM QUER FALAR:
Olá, Xei. Primeiramente, parabéns pelo novo disco! Confesso que foi uma surpresa esse formato¿ Qual é a ideia por trás dos temas acústicos de #320 on Hart Street? Os arranjos fluíram naturalmente ou era uma vontade antiga que somente saiu da gaveta em sua estadia nos EUA?
Acho que surpreendeu muita gente, inclusive a mim (risos). Honestamente, esse formato não foi nada forçado, nem sequer pensado. Sempre compus e cantei em bandas de heavy metal, mas o fato de ter optado por não entrar em nenhuma banda aqui nos EUA me fez descobrir um outro lado que eu nunca tinha explorado como músico e compositor.
Você se formou em primeiro lugar no curso de Engenharia de Audio e Produção Musical no Institute of Audio Research. Quais seus planos? Volta para Florianópolis ou fica nos EUA?
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Várias coisas boas surgiram após o término do curso no IAR, fiz grandes contatos e trabalhei com grandes profissionais do meio musical. Porém meu tempo em Nova York se encerrou e esse álbum foi como o fechamento do meu ciclo nessa cidade, mas não pretendo voltar ao Brasil ainda. Estou mudando para Los Angeles devido a uma oportunidade de trabalho, tenho boas expectativas.
Você se envolveu em propostas distintas ao longo dos anos. Considerando que você está se estabelecendo definitivamente nos EUA, que tipo de projeto você ainda pretende levar adiante no futuro?
Puxa, não sei ainda. Sempre fui aberto a experimentar nos meus projetos e não pretendo mudar isso. Para 2016, tenho encaminhado o lançamento do crowdfunding do Marmor, projeto onde atuo como produtor, compositor e baixista, para lançarmos a trilha sonora da série de livros Espadachim de Carvão do escritor Affonso Solano (através da editora Leya, a mesma de Game of Thrones). Sob o nome XEI lancei o #320 On Hart Street que é um álbum bem pessoal, com uma temática mais pesada, o que não deixa de ser bastante inspirado por Nova York. Quem sabe o próximo passo seja lançar algo inspirado pela Califórnia, porém mais feliz desta vez… (risos).

Os catarinenses associam o nome Xei ao Stormental. Afinal, o heavy metal ainda te satisfaz artisticamente?
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Sem a menor dúvida! Heavy metal pra mim é mais que somente música, é um estilo de vida. Acho que já estou velhinho para mudar isso a essa altura (risos). Apesar de estarmos dando uma pausa com o Stormental, pelo fato de eu estar fora do Brasil e também do baterista Marcos estar em Berlim, pretendemos nos reunir e lançar alguma coisa em 2016 (talvez um single ou EP) e fazer alguns shows.
Para finalizar, uma curiosidade de quem esteve in loco¿ Como é a cena heavy metal na Nova York deste século 21?
Apesar de existirem shows frequentes, e lotados, de grandes nomes do estilo, o heavy metal em si não é tão forte, mas existem várias vertentes mais extremas com bastante público e bandas, como do estilo death core. Também existem casas que recebem somente bandas de som pesado de pequeno a médio porte, com shows de segunda a segunda como o bar Saint Vitus. O legal de Nova Yorque é que ela é realmente a cidade que nunca dorme, existem sempre opções, inclusive para metal heads!
Ben Ami Scopinho está há mais tempo em Floripa do que passou em sua terra natal, São Paulo. Ilustrador e designer no DC, tem como hobby colecionar vinis e CDs de hard rock e heavy metal. E vez ou outra também escreve sobre o assunto.
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