Rígido, um senhor sentado sobre a maca, com o corpo pendendo para fora, entrou na emergência do Hospital São José, em Joinville, na tarde desta terça-feira. Aos 85 anos, encontrado no sofá de casa amarrado e com suspeita de maus-tratos, o idoso faleceu durante a noite no hospital.
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Foi instaurado inquérito na Delegacia de Proteção à Criança, Mulher, ao Adolescente e ao Idoso (DPCAMI) para investigação da suspeita de maus-tratos. Porém, vizinhos se surpreenderam com a suspeita de que o idoso não era bem tratado.
Morando de frente para a residência do idoso encontrado amarrado, a dona de casa Eliane da Silva Duarte garante que nunca viu ou soube que o senhor – o vozinho, como gostava de chamá-lo – sofria maus-tratos. Aos 85 anos, o “vozinho” era amparado por um amigo de uma de suas filhas. Tal amigo cuidava do senhor principalmente na hora do almoço, entre 11 e 13 horas.
– Sempre se preocupava. Avisava que estava indo embora e que o vô ia ficar sozinho – conta.
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Filhas visitavam
Dos quatro filhos, uma das duas moças era a que mais visitava o idoso. Eliane não via a filha dele havia uma semana. A outra mora no Paraná e vinha com menos frequência.
O amigo da família sempre levava o idoso ao bar da esquina. A dona do estabelecimento onde ele gostava de passar as tardes de final de semana assistindo ao futebol e conversando, Rosângela Tosti, há 18 anos convivia com o “nono”. Sabia que a saúde dele não estava boa.
O idoso, antes de cair de bicicleta enquanto descia uma rampa, gostava de pescar. Um ano depois do acidente, ainda usava o andador para se locomover. Chupar bala de café era o que ele mais gostava de fazer no bar.
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O marido de Rosângela levava o idoso para casa quando entardecia. No outro dia, na hora do almoço, o amigo da família chegava novamente. Na tarde em que o Samu atendeu à ocorrência, o amigo que cuidava dele chamou a filha mais próxima.
– Ele demorou no banheiro. Tinha caído. Pedi ajuda para carregá-lo – relatou.
E explica o motivo por ter amarrado o idoso:
– Passei uma atadura ao redor do corpo dele para ele não cair do sofá.
O cuidador não assistiu ao socorro. Precisou se ausentar por motivos pessoais e chamou familiares. A filha do idoso recebeu o Samu e o acompanhou até o hospital. A causa da morte não foi divulgada.