Quando, no final de janeiro, 28 presos fugiram do presídio de Blumenau, o Santa estampou na capa que a fuga acelerou o processo de construção da penitenciária do Vale do Itajaí. Nesta semana, detentos fugiram do presídio de Florianópolis. A manchete do Diário Catarinense afirma: “fuga reforça urgência por novos presídios”.
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Novos presídios, que fique claro, não são necessariamente novos, haja vista aquele que estão construindo na divisa entre Blumenau e Gaspar. Dizem que haverá janelas, pintura clara, algum espaço para atividades de ressocialização. Que as paredes serão disto e daquilo, que o piso impedirá toupeiragens e que haverá três barreiras entre o prédio e a rua. Houve quem lesse e se emocionasse. Alcatraz será fichinha! Tem blumenauense batendo no peito de tão orgulhoso. O Werner, por exemplo, até postou foto sua no feicebúqui posando ao lado da patrola que fazia a terraplanagem do terreno onde serão construídos os tais módulos que, nesta primeira etapa, abrigarão 600 presos. “Um registro para a história”, escreveu ele na legenda.
Não tenho dúvidas de que o cadeião da General Osório há muito deveria estar implodido. Não por causa das escapadas, mas pelas condições degradantes às quais submete seres humanos sob a tutela do Estado. Entretanto, não são estas condições que ofendem a sociedade. O que indigna e ofende são as fugas. As manchetes dos jornais são claras neste sentido. Ninguém faz passeata exigindo que seres humanos sejam tratados como tais, ainda que em conflito com a lei.
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Poucos estão preocupados com as violações aos direitos humanos diuturnamente cometidas dentro dos muros do nosso sistema prisional. O sujeito assiste ao filme Carandiru, emociona-se com a história do Seu Chico, vibra com o amor de Lady Di e Sem Chance, e depois sai por aí dizendo que bandido bom é bandido morto, ou achando que bandido tem mesmo é que apodrecer na cadeia. E dá-lhe levantar muros, módulos e torres! O que a sociedade não quer é que preso fuja. O resto é resto.
Segundo o Centro Internacional de Estudos Prisionais, em 2014 já tínhamos a terceira maior população carcerária do mundo. Perdemos apenas para os EUA e a China. Enquanto que a média mundial de encarceramento é de 144 presos para cada 100 mil habitantes, no Brasil a proporção é de 300 para cada 100 mil. A despeito destes números, a violência cresce. Mesmo assim a gente segue construindo cadeias.
Quem sabe algum dia sejamos capazes de compreender que novos presídios já nascem velhos. Compreender que precisamos mesmo é de uma nova sociedade, na qual prender seja exceção, não regra.