O rastro de destruição deixado na Beira-Mar de Navegantes após o Navegay provocou uma discussão sobre o futuro da festa. As cenas protagonizadas por vândalos – que ao fim da noite de segunda-feira saíram quebrando orelhões, lixeiras e placas, depredando casas e comércio – abriram espaço, nas ruas e nas redes sociais, para um debate que chama atenção à dimensão que o evento vem ganhando nos últimos anos e aos rumos que tem seguido.
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O assunto foi parar na Câmara. O vereador Murilo Cordeiro (PT) voltou atrás durante a sessão ordinária do Legislativo na quinta-feira e decidiu retirar da pauta a indicação em que pedia a extinção do Navegay. O parlamentar entrou em acordo com outros vereadores que haviam se manifestado contrários à indicação na quinta-feira à noite.
Murilo informou que irá protocolar nesta sexta um requerimento solicitando uma audiência pública para debater os rumos da festa de Carnaval mais famosa da região com as autoridades responsáveis pela segurança do evento, como Polícia Militar e Civil e Bombeiros Militar e Voluntário.
– Será mais democrático e a comunidade poderá participar – justificou o vereador.
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O requerimento pode ser votado na sessão da próxima segunda-feira.
Indicação serviria apenas de pressão
A indicação que Murilo Cordeiro iria apresentar à Câmara de Navegantes, na prática, serviria como ferramenta de pressão política. Quando aprovada, é enviado ofício ao gabinete do prefeito formalizando a posição dos parlamentares.
Para que o Legislativo impedisse, por exemplo, o evento seria necessário que, no fim deste ano, ao apreciar o orçamento referente a 2016, os vereadores fizessem emendas destinando o recurso previsto para o Navegay para outras áreas, mas isso também depende de votação e apoio de maioria da Casa.
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OS ARGUMENTOS
De olho em comentários nas redes sociais, na opinião de moradores e comerciantes, e ouvindo prefeitura, entidade de classe e o vereador que propôs o fim da festa, a reportagem aponta os principais argumentos de quem é a favor ou contra o Navegay. Uns falam da importância turística e cultural da programação, que há quase quatro décadas faz parte do Carnaval da cidade. Outros defendem que perdeu-se o controle e a essência da festa. Confira as opiniões:
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DE QUEM É A FAVOR
É essencial para o turismo
O Navegay se tornou o principal atrativo turístico do Carnaval de Navegantes nos últimos anos. O secretário de Turismo, Sérgio Schultz, afirma que em 2015 a ocupação nos hotéis da cidade foi de 97% nesse período. O aluguel de casas também teve bom incremento no período, chegando a 92%. Turistas de todo Estado vem para a festa, que atraiu cerca de 120 mil pessoas nesta edição.
– O investimento de R$ 40 mil no Navegay (montante aplicado em 2015) é muito baixo, se comparado ao retorno que traz. Estão querendo manchar a festa pela ação isolada de um grupo de vândalos – avalia Schultz.
Movimenta a economia
A Secretaria de Turismo defende que o movimento na economia, incluindo comércio, supermercados, bares e restaurantes, é significativo. Ano passado o incremento no setor foi de 35% durante o Carnaval, que tem como principal atrativo o Navegay. Para 2015, a expectativa é superar a marca – o número não foi divulgado. Foram expedidos 103 novos alvarás para o comércio ambulante no Carnaval, conforme a Secretaria de Finanças. Essa é avaliação também do diretor da CDL de Navegantes João Luiz Rescaroli:
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– A festa só eleva o nome do município e incrementa o turismo.
É tradicional e uma festa do povo
Em 2015 o Navegay completou 37 anos de existência. Levantamento da prefeitura aponta que maior bloco de sujos do Sul do país começou em 1978 com oito integrantes da família Souza, no bairro São Domingos. A turma queria se divertir na segunda-feira de Carnaval e resolveu se fantasiar de mulher e sair pelas ruas da cidade. O município passou a oferecer a estrutura necessária após alguns anos, quando a festa se consolidou. Hoje, a festa de Carnaval é considerada umas das maiores do Estado.
Foto: Marcos Porto / Agência RBS
DE QUEM É CONTRA
Festa ficou fora de controle
Quem defende o fim da festa aponta que o Navegay, em função da proporção que tomou, chegam a um público de mais de 100 mil pessoas, está fora do controle da organização e tornou-se insegura. Esse é o principal e mais recorrente argumento contrário ao evento. O vereador Murilo Cordeiro (PT) que propôs a indicação para extinguir o evento acredita que a festa perdeu o sentido original e hoje coleciona flagras de uso de drogas, excesso de bebidas, brigas, atos de vandalismo e libertinagem. Moradores e comerciantes afirmam que, nos últimos cincos anos, o registro de confusões, por exemplo, é recorrente. A Polícia Militar informou que, segunda-feira, durante a programação, precisou intervir para evitar brigas e tumultos desde as 19h.
Comércio fecha e tem prejuízo
Há comerciantes e empresários que defendem que a festa não beneficia o comércio, já que durante o Navegay as lojas fecham as portas para que o bloco passe na Avenida João Sacavem, a principal de Navegantes. Esse coro ganhou também a companhia dos proprietários de estabelecimento alvo de depredação na madrugada de segunda para terça-feira desta semana.
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– Acho a festa legal, mas o fato de fechar ao meio-dia na segunda-feira traz impacto para o negócio. Também tenho receio de que o local seja alvo de vandalismo. Há muita gente na rua, e grande parte sob efeito de álcool – detalhou Leoni Muller, proprietário do Lojão da Economia.
Investimento sem retorno positivo
Os recursos aplicados no Navegay são considerados desnecessários. Moradores, especialmente, opinam que o valor poderia ser gasto em outros setores carentes do município. Há quem questione também se é positiva a visibilidade que a cidade ganha com a festa durante o Carnaval.
– Infelizmente a festa perdeu a essência. Hoje é para bagunça e o resultado é vandalismo e briga. Isso vem ocorrendo há alguns anos. Não é saudável – comenta Maria Goreti da Silva Girão, professora aposentada.
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