Questão histórica em Santa Catarina, a defasagem no efetivo da segurança pública ganha uma companhia à altura no rol de polêmicas com a chegada da Operação Veraneio. Com as ações operacionais iniciadas terça-feira, fica em evidência o problema do baixo valor das diárias pagas aos policiais e bombeiros que se deslocam pelo Estado, o que se desenrola em pelo menos mais duas dificuldades: as acomodações precárias em alguns alojamentos e a desmotivação dos agentes em mudar de cidade para trabalhar no verão.
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Um decreto assinado pelo secretário de Estado de Segurança, César Grubba, aumentou as diárias de R$ 110 para R$ 156 durante o período de ações especiais, que vai até depois do Carnaval. Mesmo assim, a verba é considerada insuficiente para hospedagem e alimentação – principalmente nas regiões de Balneário Camboriú e de Florianópolis. Policiais que conversaram com o DC na condição de anonimato dizem que, em alguns municípios, só o almoço já leva quase um terço desse orçamento. Afirmam ainda que hotéis, pousadas ou locações de apartamentos por períodos maiores são ainda mais inviáveis, tanto pela falta de oferta em boa parte da temporada quanto pelo preço.
Se quem mora ou conhece essas áreas já percebe o custo de vida elevado, a impressão dos altos preços é reforçada por pesquisas e sites especializados no assunto. O Expatistan.com, página colaborativa com preços informados por moradores e turistas, coloca Balneário e Floripa entre as cidades mais caras do país. A capital catarinense também aparece entre os líderes do ranking do site Custo de Vida, que tem proposta semelhante a do Expatistan.
– Muitos policiais não desejam mais ir porque, além de deixar a família, enfrentam condições precárias. O valor da diária é a grande luta, porque ela destoa dos outros poderes e não cobre a despesa toda. Imagina passar um dia hospedado em Balneário com R$ 156? Então tem locais que o pessoal se junta e aluga uma casa e tem gente que consegue parceria para ficar em alojamento, que às vezes têm condições bem ruins – comenta o presidente da Associação de Praças do Estado de Santa Catarina (Aprasc), subtenente Edson Garcia Fortuna.
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Procurado pela reportagem, o secretário adjunto da Segurança Pública do Estado, Aldo Pinheiro D?Ávila, informou que o valor das diárias é determinado por lei e admitiu que não há uma análise dos valores pelo perfil da cidade.
– Não fazemos essa avaliação (da diária ser baixa para o custo de vida em cidades como BC e Florianópolis). Tem uma mudança na faixa das diárias com o decreto e a melhora no valor delas. Temos que trazer as coisas para a nossa realidade e para a possibilidade financeira do Estado. É tudo dinheiro que sai do bolso da população – declarou.
Operação Veraneio começa com reforço policial no Litoral Norte de SC
Mais de 5 mil policiais militares atuarão na temporada em SC
Corporação que mais envolve agentes na Operação Veraneio, a Polícia Militar terá pelo menos 5 mil entre os cerca de 7 mil profissionais da segurança pública atuando nesta temporada. Para reforçar o efetivo nas áreas que mais recebem turistas no verão, o deslocamento dos policiais se dá principalmente do Oeste, da Serra e do Vale do Itajaí para o litoral. Há também importante participação do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP), com mais de 300 alunos soldados se deslocando para nas ações.
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Os principais problemas apontados pela Associação de Praças do Estado de Santa Catarina (Aprasc) nesta reengenharia de policiais são, além do baixo efetivo, as condições ruins de hospedagem que muitos dos agentes enfrentam e a própria dificuldade de atuação nas regiões pelo Estado.
– Há uma demanda alta de ocorrências e o policial não conhece a rotina da área. Quando ele está na sua região de atuação, sabe da rotina, das particularidades e consegue mapear melhor as ações – pondera o presidente da associação, subtenente Edson Fortuna.
Ele também reconhece que, por outro lado, parte significativa dos policias gosta de participar da operação por ter familiares e amigos em regiões que atuará temporariamente ou mesmo para aproveitar as escalas de folga em uma cidade litorânea.
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Não há uma regra definitiva para o deslocamento dos agentes pelas regiões, sendo que muitos podem passar por mais de um município ao longo dos mais de dois meses de força-tarefa nas praias e estâncias hidrominerais. O mínimo de permanência em uma mesma cidade é de 14 dias, mas a escala pode durar até 30 ou 45 dias. De qualquer forma, as mudanças ocorrem por proximidade, considerando a logística envolvida.
Deslocamento obedece demanda dos turistas
O major Aires Pilonetto, da Comunicação da Polícia Militar, informou que o deslocamento entre regiões obedece a lógica da demanda de turistas nesta época do ano e está em constante avaliação, sempre observando o cuidado com a população de todas as cidades de Santa Catarina, dentro ou fora da Operação Veraneio.
Alojamentos são alternativa barata para hospedagem
Com a dificuldade em encontrar hospedagem compatível com o valor das diárias, o jeito dado pela maioria dos policiais deslocados na Operação Veraneio é improvisar. Enquanto alguns vão para a casa de familiares e amigos, outros ficam em alojamentos oferecidos via parceria com prefeituras, iniciativa privada ou o próprio batalhão da Polícia Militar da cidade. E aí a realidade nem sempre é das melhores.
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Em Balneário Camboriú, a prefeitura ofereceu um ginásio de esportes no bairro da Barra. A Aprasc inclusive visitou o local junto com o comando regional da PM e apontou que, diferentemente de anos anteriores, desta vez o espaço é adequado e oferece boas condições de higiene, alimentação e descanso.
– Em épocas passadas, tivemos problema na área de Balneário, mas agora não. Vistoriamos o ginásio e tem ar-condicionado, colchões novos, beliches com madeira boa, nada quebrado e banheiros com duchas quentes – destacou o secretário da Aprasc, sargento Luis Fernando Soares Bittencourt.
Pelo Estado, há relatos de acomodações em boas condições em Laguna, Barra Velha, Itapema e Imbituba. Em Palhoça, quem atuará são alunos, sargento em formação no CFAP em Florianópolis, que retornarão para a Capital ao fim dos turnos.
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Em Governador Celso Ramos ficará o pessoal administrativo deslocado da Capital, também voltando ao término do trabalho diário.
Em situação oposta estava o alojamento em Porto Belo nos primeiros dias da operação. Localizado junto à companhia da PM na cidade, havia lixo e entulhos acumulados, banheiros sujos e dormitórios extremamente apertados. Nesta quarta-feira, uma força-tarefa limpou e organizou melhor todo o local.
– Sabemos que há alojamentos precários. Eu mesmo já peguei locais em escolas com salas de aula sem água e nem banheiro, às vezes. Temos previsão de verificar as instalações pelo Estado assim que formos mapeando todos os pontos – explica o presidente da Aprasc, subtenente Edson Fortuna.
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