— A gente não pode nem gastar por conta, porque não vai conseguir o dinheiro depois.
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A frase é de um político catarinense bem conhecido, daqueles que passaram por vários cargos e têm muita experiência em campanhas eleitorais. Mesmo que tenha um tanto de choro ou discurso, a frase aponta para uma realidade que a eleição de outubro apresenta claramente. Mais do que qualquer uma das novas regras aprovadas ano passado pelo Congresso Nacional, a proibição das doações empresariais para as campanhas vai afetar diretamente o jeito de pedir voto e promover os candidatos.
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Para muitos doadores tradicionais, a medida determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), veio a calhar. A Operação Lava-Jato descortinou a promiscuidade da relação empresas, doações eleitorais, favores de governo. Há um ambiente de criminalização da contribuição financeira à política que somado à crise econômica, cria o cenário perfeito para o empresário dizer não aos pedidos de ajuda.
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Ao mesmo tempo, as novas regras finalmente estabeleceram um verdadeiro teto de gastos para as campanhas. Antes, o céu era o limite – o valor máximo era estipulado pelo próprio candidato. Agora, o teto é de 70% dos recursos do maior gastador na eleição anterior (50% se houve segundo turno). Nas últimas eleições municipais, os prefeitos Cesar Souza Junior (PSD), de Florianópolis, e Udo Döhler (PMDB), de Joinville, declararam gastos acima dos R$ 5 milhões em suas vitoriosas campanhas. Número que já não se repetiriam pela dificuldade de arrecadação, mas que também sofrem o efeito dos novos e bem-vindos limites.
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Dois efeitos colaterais são previsíveis. Um deles, benéfico, é o barateamento das campanhas. Não é à toa que já tivemos marqueteiro baladado dizendo que não vai trabalhar nas eleições deste ano. O segundo efeito é uma possível explosão de caixa dois – pagamentos por fora, gastos disfarçados. Nas eleições de 2014, 326 empresas injetaram R$ 44,7 milhões na eleição catarinense – contra R$ 6,6 milhões doados por 2.486 pessoas físicas. Nessa proporção, a conta não fecha. A Justiça Eleitoral que se prepare para uma enxurrada de denúncias.
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Ciclismo fiscal
O volume de atrasos do governo estadual no pagamento de fornecedores, especialmente na área da saúde, deve motivar ações do Ministério Público de Contas tentando configurar os calotes como operações de crédito. Em uma época em que o ciclismo fiscal derruba presidentes, estas seriam as pedaladas de Raimundo Colombo (PSD).
Vida privada, vida pública
A pressão, especialmente das corporações militares, fez o governador Raimundo Colombo voltar atrás na intenção de suspender as promoções dos servidores públicos – a resolução do grupo gestor durou 48 horas. Um comentário ouvido no Centro Administrativo:
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— Nos últimos 12 meses, 82 mil catarinenses perderam o emprego em Santa Catarina. E os servidores não podem ficar sem promoções.
Olha ele
O ex-deputado estadual Gilmar Knaesel (PSDB) pediu licença do serviço público estadual para ficar apto a concorrer em outubro. Depois de seis mandatos consecutivos na Assembleia, ele desistiu de concorrer à reeleição em 2014 após ser barrado pela Lei Ficha Limpa. Servidor de carreira da Secretaria da Fazenda, ele estava cedido ao parlamento. Ano passado, Knasel chegou a manter conversar com o PMDB sobre disputar a prefeitura de Pomerode.