No portal do inferno de Dante, em sua Divina Comédia, havia um aviso para quem entrasse deixasse do lado de fora toda a esperança. Em tons muito menos dramáticos, é possível dizer que a campanha eleitoral de Joinville atravessou uma linha muito perigosa para o futuro do consórcio político que ainda mantém unidos o PSD e o PMDB em nível estadual.
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Upiara Boschi: Disputa em Joinville é entre prefeitura e governo do Estado
A contraposição entre prefeitura e governo do Estado, personificados nas campanhas do prefeito Udo Döhler (PMDB) e do deputado estadual Darci de Matos (PSD) estava insinuada desde o início do segundo turno. Na noite de quarta-feira, ganhou contornos explícitos quando o governador Raimundo Colombo (PSD) abriu o programa eleitoral do PSD pedindo ¿compromisso com a verdade¿. O pessedista estava lá para rebater as críticas de Udo Döhler (PMDB) de que houve omissão do governo estadual em relação ao pedido de ajuda para construção de uma ponte no bairro Ademar Garcia – reivindicação antiga do joinvilenses e promessa do peemedebista em 2012.
Havia muita expectativa desde a véspera quanto a participação de Colombo na campanha de Darci. Ele já havia gravado no primeiro turno, mas em um tom que se limitava aos elogios à candidatura pessedista, citação a obras estaduais na cidade e promessas de parceria. Não criticara Udo diretamente. Agora, surge um Colombo disposto a rebater o peemedebista. Segundo ele, não se negou a ajudar na construção da ponte, mas ainda faltam licenças ambientais, licitação e contrato.
— Como é que a gente pode ajudar uma obra que não existe? — questionou.
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Em seu horário eleitoral, Udo tem dito que diante da omissão do Centro Administrativo, buscou ele mesmo financiamento para a construção da ponte, o que seria viabilizado no segundo mandato. Nas redes sociais, o discurso de Colombo foi imediatamente rebatido por apoiadores do peemedebista. Eles fazem circular questionamentos às ações do governo Colombo na cidade – especialmente o gasto de R$ 60 milhões na reforma do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, que alegam ter sido menos. A tendência é o antagonismo entre prefeitura e governo aumentar até as urnas decidirem quem tem a razão.
Nesta peculiar briga de sócios travada pelo PSD e pelo PMDB em nível estadual, Joinville tornou-se o palco principal. Mesmo que uma vitória de Udo não tenha efeito eleitoral direto sobre os caciques peemedebistas — Eduardo Pinho Moreira, Mauro Mariani, Dário Berger — seria uma derrota à articulação de Gelson Merisio de olho em 2018 e, agora, à soma de Colombo a esse projeto. Deixem do lado de fora toda esperança de que será possível voltar ao que era antes.