Razoável para Santa Catarina, bom para o governo do Estado, ótimo para o governador Raimundo Colombo (PSD). São essas as nuances que devem ser levadas em conta na análise dos benefícios garantidos pela renegociação da dívidas acertada pelos 27 governadores e o presidente em exercício Michel Temer (PMDB).

Continua depois da publicidade

Colombo promete usar dinheiro da dívida em aporte na saúde e manutenção das contas em dia

Alongando a dívida por 20 anos, até 2048, Santa Catarina vai aumentar essa conta de R$ 22 bilhões para 54 milhões. É mais do que o dobro e assusta pelo valor em si, mas significa um débito mais gerenciável. Antes do acordo, esses R$ 22 bilhões deveriam ser pagos até 2028 — na metade do mandato do terceiro sucessor de Colombo. Com a redução do valor das parcelas e o novo índice de correção, só em 2037 é que o desembolso à União alcança esse patamar.

Upiara Boschi: após ducha de água fria da União, governadores articulam nova reunião sobre dívida

O governo do Estado, por sua vez, ganha fôlego financeiro para sobreviver à recessão. São R$ 2,14 bilhões que deixam de ser repassados a Brasília até a metade de 2018. Com arrecadação em queda e gastos no limite, esse valor deve garantir pagamento em dia ao funcionalismo e quitar dívidas com fornecedores.

Continua depois da publicidade

Raimundo Colombo sai do episódio fortalecido por ter dado início a uma batalha que ganhou dimensão nacional. Começou isolado. Bancou, levou o tema ao Supremo Tribunal Federal e ganhou adesão de diversos Estados. Manteve a posição quando outros governadores ensaiaram aceitar a proposta de renegociação feita pela presidente afastada Dilma Rousseff (PT) — basicamente, o alongamento.

Zerar a dívida com uma argumentação jurídica e contábil sobre juros simples ou compostos era uma aposta que poderia tanto viabilizar a negociação efetiva, como aconteceu, quanto se tornar o voo de Ícaro, o personagem que morreu por querer alcançar o Sol. Colombo nunca teve vocação para Ícaro, mas aprendeu a voar.