“O problema do nosso tempo é que o futuro não é mais o que costumava ser.” A frase do filósofo francês Paul Valéry, apesar de ser do século passado, parece fazer mais sentido do que nunca. Essa citação abre o prefácio e dá o tom do Projeto Brasil 2035, uma publicação de cerca de 300 páginas produzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que tenta construir alternativas para o planejamento do país no longo prazo.
Continua depois da publicidade
O calhamaço é denso, mas divertido. Brinca com quatro cenários possíveis, discutindo quais caminhos o Brasil precisa trilhar até 2035 para se tornar uma nação menos desigual, mais desenvolvida, livre e solidária em 2100.
São peças ficcionais, mas fortemente inspiradas na realidade. Em Vai Levando, o Brasil é apresentado como um país que segue como um grande exportador de commodities e a economia sofre com a volatilidade do ambiente externo. Os sistemas públicos de educação básica e saúde permanecem com baixa qualidade, mas há ilhas de excelência no setor público e na iniciativa privada. Com uma reforma política limitada, a sociedade civil segue fragmentada.
Na sequência, conhecemos uma hipótese batizada de Novo Pacto Social. O enfrentamento da dívida social foi a prioridade de sucessivos governos brasileiros, contribuindo para o crescimento moderado da economia. Os investimentos nas áreas de infraestrutura, ciência,
tecnologia, inovação e novas tecnologias permaneceram associados a setores tradicionais da economia e não se disseminaram para atividades econômicas inovadoras.
Continua depois da publicidade
Já em Crescer é o Lema, o crescimento tornou-se a prioridade dos governos, mas os avanços não foram distribuídos a todos. A agenda político-econômica permitiu a elevação significativa das taxas de investimentos, integrando Estado, mercado global e setor produtivo nacional. A dívida social foi relegada a segundo plano, provocando cada vez mais tensões.
Por fim, descobrimos o que aconteceria se o Brasil tivesse avançado de forma lenta para conciliar políticas sociais e econômicas em uma estratégia de crescimento sustentável. Para isso, os governos teriam firmado acordos entre as partes envolvidas. Houve um fortalecimento do planejamento de longo prazo, que resultou em uma coordenação duradoura entre os investimentos públicos e privados, na construção das bases de uma sociedade mais dinâmica e inovadora. Esse é o futuro de Construção.
E parece que só a construção de algo conjunto vai permitir essa realidade. Exercícios de previsão à parte, o texto coloca o dedo em uma ferida que o país sabe que está lá, mas parece ter dificuldade de solucionar: a cultura curto-prazista. Como diz a publicação, o foco no curto prazo leva o Brasil a ficar resolvendo problemas no passado e criar um ambiente de futuro fragilizado. Ou seja, sem uma estratégia de longo prazo, o Brasil vai continuar dependendo da estratégia de outros.
Leia também: Giro Financeiro: jornais da NSC Comunicação ganham novo espaço de opinião sobre economia
Continua depois da publicidade
Mais Giro Financeiro: