Jarvis Pavão foi tratado com deferência pelos policiais paraguaios que o levaram até o avião, rumo ao Brasil. É encarado no Paraguai como “capo de tutti capi” dos mafiosos – chefe de todos os chefes. A cela na qual viveu nos últimos anos, em um presídio na capital paraguaia, era na verdade um apartamento de luxo, com tudo que alguém de bom gosto pode querer: mobiliário, eletrodomésticos, livros, filmes em DVD (inclusive uma série sobre o megatraficante colombiano Pablo Escobar…).
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Pavão é apontado, por autoridades paraguaias e brasileiras, como pivô da maior onda de chacinas já registradas em presídios do Brasil. É que ele fornecia drogas para as duas maiores facções criminais brasileiras, o PCC paulista e o CV carioca. Ele garantia envio de maconha e cocaína a Rio e São Paulo, mas tinha rivais. O principal deles, Jorge Rafaat, era um paraguaio que representava os pequenos traficantes paraguaios competidores de Pavão. Foi metralhado, assim como outros de seu grupo. Pavão é suspeito de arquitetar a execução, para ficar sozinho. Para isso, teria contado com pistoleiros do PCC. Três integrantes da organização foram identificados como matadores.
A morte de Rafaat provocou gigantesco racha. Conforme policiais federais, o PCC, com apoio de Pavão, passou a dominar a fronteira. O CV e os traficantes médios paraguaios ficaram sem o principal fornecedor de armas e drogas. Agora eles têm de comprar cocaína na Amazônia, muito longe do Rio.
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A cisão levou à matança nos presídios. Em janeiro de 2017, 60 presos do PCC foram massacrados em Manaus (AM), a mando da Família do Norte (aliada ao CV). No mesmo mês, 33 presos do PCC foram executados em Boa Vista (RO). Janeiro fechou com mais 26 mortos em um presídio nos arredores de Natal (RN), gente do PCC executada pela facção Sindicato do Crime (aliada do CV).
Seria o troco pelo domínio do PCC – e de Pavão – na fronteira Brasil-Paraguai. Uma guerra que continua.