Já faz 11 anos que uma partida de futebol deixou as páginas de esporte e ganhou destaque nas manchetes policiais ao mudar para sempre a vida do joinvilense Rafael César Bueno. Marcílio Dias e Joinville faziam a bola rolar no Estádio Hercílio Luz, em Itajaí, pelo Catarinense 2005.

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O jogo terminaria empatado em 3 a 3, sem que as duas torcidas pudessem comemorar. Muito menos Rafael, até então um universitário de 20 anos fanático pelo JEC. O que marcaria aquele domingo aconteceu fora do gramado e após o apito final: um tiro disparado por um adolescente em meio à torcida organizada marcilista atingiu Rafael em cheio no olho esquerdo.

Ele ficou entre a vida e a morte por dias e, quando acordou do coma, já estava sem a visão do olho atingido e teve também parte da visão direita comprometida.Como o atirador tinha 17 anos e não foi responsabilizado, Rafael passou a esperar por uma resposta da Justiça numa ação de indenização, já sem poder trabalhar e levar a vida como antes.

A sentença saiu na última semana. O Clube Náutico Marcílio Dias e a Federação Catarinense de Futebol foram condenados a pagar R$ 100 mil por danos morais, além R$ 11,1 mil por danos materiais e mais uma quantia a ser apurada dos chamados lucros cessantes – a conta considera tudo o que a vítima deixa de receber por não ter mais condições de trabalhar.

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O clube foi responsabilizado por ser o mandante do jogo, enquanto a federação responde por ser a entidade fiscalizadora do evento.

-Além do dissabor de ir a um jogo de futebol para se divertir e sofrer um acidente em razão de disparo de arma de fogo efetuado por torcedor do time da casa, a dor da lesão (perda da visão) e o incômodo com o tratamento (observado que o autor ficou vários dias no hospital e realizou diversas cirurgias) são, por si só, motivos que caracterizam a dor moral passível de reparação. Além disto, o autor teve prejuízos materiais e ficou afastado do trabalho – anotou o juiz Fernando Seara Hickel, da 4ª Vara Cível de Joinville.

Rafael, hoje com 30 anos, confirma que os valores da sentença estão próximos da quantia cobrada na ação ajuizada há dez anos. Como cabe recurso contra a sentença, ele ainda não tem acesso aos valores.

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Em conversa com a reportagem, Rafael conta que nunca mais voltou a um estádio e já não tem mais a mesma paixão pelo futebol

“Eu tinha tudo pela frente e hoje sou um dependente”

A Notícia – Como está a sua vida hoje?

Rafael César Bueno – Nunca mais pude trabalhar. Meu pai tem um pequeno negócio e eu o ajudo com algumas coisas simples, mas nada além disso.

AN – Você voltou a frequentar os jogos do JEC?

Rafael – Nunca mais voltei, não dou mais bola. Não perdia um jogo do JEC, um jogo que passasse na TV, mas perdi completamente o interesse. Não paro mais para ver.

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AN – Considerando o que aconteceu em 2005, você imaginava que episódios como aquele se repetiriam no futebol catarinense?

Rafael – Vejo que a cada dia a violência está aumentando e ninguém está fazendo nada, fica sempre por isso. A gente fica triste, chateado. Eu tinha tudo pela frente e hoje em dia sou um dependente. Enquanto não acontece com a própria pessoa ou com alguém da família, parece que não se aprende.