A cena das senadoras na penumbra a comer marmitas na mesa do Senado, atrasando por seis horas a aprovação da reforma trabalhista, ajuda a ilustrar um país no escuro. A Lava-Jato gerou inquéritos contra parlamentares no STF, o presidente da República foi denunciado por corrupção passiva e abastece com cargos e emendas o rolo compressor na Câmara — deixando escassear o dinheiro para serviços essenciais —, enquanto a oposição adotou postura autoritária no Senado. Quem bradava pela defesa da democracia na militância contra o impeachment de Dilma Rousseff e no coro pró-Diretas, tomou atitude oposta ontem. Não discuto o mérito do projeto, critico apenas a postura. Gostando ou não, os senadores da base governista foram eleitos na urna, sem nomeação no Diário Oficial. As parlamentares do PT, PC do B, PSB, PDT e até do PMDB de Temer desejavam emplacar um destaque na reforma, capaz de corrigir distorção e devolvê-la à Câmara. Sem maioria, tentaram no muque. Tiveram de ouvir a corneta do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), o Índio na deleção da Odebrecht: “Nem a ditadura militar ousou ocupar a mesa do Congresso”. Passando a régua, as senadoras chamaram atenção e fizeram lives no Facebook, buscando melhor conexão com movimentos sociais. Se a atitude da oposição foi truculenta, também é lamentável, do ponto de vista moral, o troca-troca promovido pelo Planalto de titulares na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara afim de blindar Michel Temer. Dentro do regimento, ele impõe na força uma posição. Para o lado que o eleitor olha, fica difícil encontrar uma saída razoável. A penumbra é geral.

Continua depois da publicidade

TRATOR I

O PMDB reúne na manhã de hoje sua Executiva Nacional para fechar questão contra a denúncia da PGR. Quem desrespeitar a posição, pode ser suspenso ou expulso. PP e PR discutem a mesma medida, o que garantiria a Temer quase 150 votos na Câmara.

TRATOR II

Com divergências sobre a denúncia, os seis deputados do PP-RS pressionam para que o partido não feche questão. E lembram que, no impeachment de Dilma, os infiéis não foram expulsos. Waldir Maranhão (PP-MA) segue no partido.

Continua depois da publicidade

“Considero uma condecoração.”

Esperidião Amin (PP-SC), sobre a saída da CCJ da Câmara em razão do apoio a denúncia contra Temer.

Colaborou Silvana Pires

Leia mais:

Guilherme Mazui: o primeiro revés da semana

Guilherme Mazui: cinco dias decisivos

Guilherme Mazui: Maia está fardado