Um dos depoimentos mais aguardados pela CPI dos Táxis de Florianópolis e que é um dos indícios do mercado paralelo de placas na Capital ocorreu na tarde desta sexta-feira: o taxista Néri Walmor Machado disse que vendeu seu carro, luminoso e taxímetro para Isaías Gomes dos Santos, suspeito de explorar o sistema irregularmente.

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– No meu tempo, todo mundo negociava a placa, nunca ouvi falar em permissão – disse o taxista aos vereadores depois de reconhecer sua assinatura no contrato que transferiu a placa 0061 em fevereiro de 2005.

Em filmagem feita pelo relator Tiago Silva (PDT) há 20 dias, Néri Walmor Machado contou que recebeu R$ 190 mil (em dinheiro e das mãos de Isaías) pelo táxi. Nesta sexta-feira, no depoimento aos vereadores, o taxista disse que pediu R$ 40 mil, sendo que R$ 10 mil eram destinados ao intermediador da negociação, Luiz Gonzaga Gonçalves, que presidia o Sindicato dos Taxistas de Florianópolis na época. Não soube dizer se o então presidente recebeu o dinheiro porque pediu ao comprador (Isaías) repassar o valor.

Néri Walmor Machado disse que se enganou nos valores (R$ 190 mil na primeira versão e R$ 40 mil na segunda) porque ficou nervoso quando foi procurado pelo vereador. Alegando não lembrar de vários detalhes, não soube explicar contradições envolvendo datas. Entre os problemas apontados pelos vereadores estão o de que o carro foi vendido em fevereiro de 2005, mas o atestado de depressão que justifica a transferência da placa é de abril daquele ano.

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– Está cada vez mais claro para mim que há um conluio entre alguns ex-presidentes do sindicato, gente que atua no mercado paralelo e o próprio poder público – disse o vereador Tiago Silva logo depois de ouvir o depoimento.

O último a depor foi João Lídio Costa, vice-presidente do Sindicato dos Taxistas de Florianópolis. A conversa foi realizada a portas fechadas a pedido do depoente. O taxista negou ter ocorrido qualquer transferência irregular durante sua gestão.

Oficial de Justiça notifica CPI

Impedido de acompanhar os depoimentos desta sexta-feira da CPI dos Táxis de Florianópolis, o advogado Orlando Antonio Rosa Jr., que defende Isaías Gomes dos Santos (suspeito de explorar o sistema irregularmente), obteve mandado de segurança que lhe garante acesso aos documentos coletados pela comissão. Uma oficial de justiça foi até o local para comunicar os vereadores sobre a decisão.

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– Tive meus direitos cerceados: vou aguardar a entrega dos depoimentos, inclusive o do senhor Neri, para me manifestar sobre todas as falas – disse o advogado.

O presidente Guilherme Pereira (PSD), que recebeu a notificação judicial, disse que vai cumprir a decisão. Quanto a polêmica envolvendo Orlando Antonio Rosa Jr., o vereador disse que ele não terá direito de acompanhar os depoimentos a partir de agora.

– Vamos agir dentro da lei: na volta do recesso, vamos entregar as cópias – disse Guilherme Pereira, que na quarta-feira embarca para Belo Horizonte a convite do prefeito Cesar Souza Junior (PSD) para conhecer o sistema de táxi implantado na capital mineira.

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Devido ao recesso da Câmara de Florianópolis, a CPI dos Táxis volta a se reunir no início de agosto. Na próxima terça-feira, os vereadores vão discutir os próximos passos da investigação, que entra na reta final. Entre as decisões que devem ser tomadas estão a de quando deve ocorrer o depoimento de Isaías. Pedido aprovado em plenário ainda nesta semana garantiu a prorrogação dos trabalhos até 23 de agosto.