Uma percepção recorrente entre os moradores do bairro Vila Nova, na zona Oeste de Joinville, é de que a implantação do binário, há três anos, desafogou o trânsito em direção à região central e revitalizou as ruas São Firmino e Leopoldo Beninca. O mesmo não pode ser dito de um trecho importante da rua 15 de Novembro que faz parte do binário. O percurso entre a intersecção da rua com a Leopoldo Beninca e a Rodovia do Arroz (SC-108) está na 10ª reportagem do Teste AN nas Ruas, expondo problemas como sinalização precária, buracos e ciclofaixas em condições adversas.
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A sensação de esquecimento por parte do poder público acompanha a comunidade ao longo de quatro dos nove quilômetros de extensão da 15 de Novembro, uma das principais vias de ligação dos bairros centrais à zona Oeste de Joinville. Sem uma reivindicação única devido a sua proporção – passa também pelos bairros Glória, América e Centro –, é no trajeto do Vila Nova que estão concentrados os principais pontos que exigem melhorias.
O acúmulo de buracos, desnível asfáltico, a má conservação das faixas de pedestre e das divisórias da pista, além da falta de pavimento nas ruas laterais, são situações que incomodam a população da região. O caminho equivale a um terço do total da 15 de Novembro e contrasta com a realidade das outras duas ruas que formam o binário, a São Firmino e a Leopoldo Beninca. Essas duas últimas fazem o sentido bairro-Centro e contam com pavimentação asfáltica, sinalização, calçadas e ciclofaixas novas.
Para a dona de casa Margarete David, a impressão é de abandono quando se comparam as condições da 15 de Novembro com as ruas que compõem o binário.
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— As faixas deveriam ser revitalizadas, e os inúmeros buracos também são um problema. Já vi muito motorista parado com o pneu furado por causa dos buracos, e a sensação é de que a rua foi abandonada. Esse é um importante ponto de acesso do Centro até o bairro e acredito que deveria estar no mesmo estado de manutenção que a São Firmino — comenta.
Ciclistas precisam desviar de obstáculos
Em dias de chuva, a formação de poças não é restrita aos motoristas, mas também para os ciclistas. É o que relata Jocelaine Mello, que mora há 11 anos na região e diz evitar a ciclofaixa em dias de chuva por medo da irregularidade do caminho e buracos escondidos. A preferência, diz ela, é andar pelas ciclofaixas somente quando é muito necessário ou então utilizar os espaços destinados a ciclistas nas ruas próximas.
Henrique Reinert e Silvio Barbosa concordam que melhorias são necessárias para o tráfego de bicicletas no local. No caso de Henrique, que é educador físico e se desloca diariamente do bairro América até o Vila Nova pela 15 de Novembro para trabalhar, o pneu da bicicleta já estourou por causa dos buracos. Ele percorre 14 km (ida e volta) pela rua, todos os dias.
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As reivindicações dos ciclistas por melhorias são facilmente percebidas por quem trafega pela região. Logo nos primeiros metros depois da área revitalizada da 15 – do viaduto da BR-101 ao início do binário –, o espaço da ciclofaixa desaparece e dá lugar a um trecho de terra batida ao lado do asfalto. O percurso fica assim por cerca de 300 metros. Depois, ainda há pontos em que a faixa desaparece devido ao desgaste da pintura.
— Quando o dia está seco, enfrentamos o pó; já quando chove, é a lama que toma conta. Fora isso, ainda temos que desviar dos buracos que se formam no chão — afirma Silvio, morador da rua e usuário de bicicleta.
Prefeitura não estipula prazos
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Joinville diz não ter previsão de fazer a aplicação asfáltica ou de dar continuidade à ciclofaixa no trecho citado, uma vez que as melhorias são feitas a partir da liberação de recursos para a pavimentação.
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Já com relação à pintura das ciclofaixas, faixas de segurança e divisórias, a administração municipal afirma que iniciou as ações de revitalização da sinalização na cidade e a operação no Vila Nova está nos planos, embora ainda sem prazo definido. Sobre a área ainda não revitalizada da 15 de Novembro, o município explica que, no momento, não tem recursos para executar a obra. Existe um projeto orçado em R$ 3,8 milhões para o trecho, no entanto, a Prefeitura busca recursos junto ao governo do Estado para viabilizar o início dos trabalhos na rua. A expectativa é de que isso ocorra no ano que vem.
O Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) de Joinville confirma que o Executivo municipal solicitou ajuda ao Estado para obter recursos para a revitalização, planejada de forma complementar ao investimento já executado do binário. Contudo, o governo estadual não dispõe de recursos e prazos e não se compromete a realizar a obra.
Binário melhorou o trânsito
Apesar dos problemas citados, a rua é elogiada em outros quesitos pelos moradores. Para Jocelaine Mello, o binário melhorou o trânsito, e as filas que costumavam aparecer, entre as 16h30 e as 18h30 (no sentido Centro), foram reduzidas. As condições também são elogiadas pela professora aposentada Sandra Mara, que tinha como expectativa a pavimentação de ruas adjacentes à 15 e lamenta que isso ainda não ocorreu.
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Eu ando aqui (na 15) a pé, de carro e de bike e vejo a situação como satisfatória, tendo em vista a realidade de outras ruas da cidade. Os buracos, eles (Prefeitura) estão tapando conforme dá. O que incomoda são as (ruas) laterais. Elas não têm pavimentação e, já que fizeram o binário, poderiam ser revitalizadas. Para fugir da poeira ou da lama, é preciso dar uma volta muito grande para chegar em casa — diz.
Em resposta ao “AN” quanto à pavimentação na região, a administração municipal informou que nas ruas que fazem a ligação da 15 de Novembro com o binário foi realizada pavimentação comunitária na rua Maria Santa Correa. Há ainda licitação para a rua Hermínia Penski e, segundo a Secretaria de Infraestrutura Urbana (Seinfra), as obras devem iniciar ainda neste ano. Outras duas vias foram pavimentadas com a aprovação de novos loteamentos (ruas ainda sem denominação), e nas demais ligações (cinco ruas) ainda não há previsão para pavimentação, informou a Prefeitura.
Alta velocidade também preocupa
Passado o trecho do bairro Vila Nova, a rua 15 de Novembro se estende por mais cinco quilômetros entre o viaduto Norberto Willy Schossland, na BR-101, até o Centro. A impressão que se tem ao fazer o percurso é de que se trata de outra rua, apesar dos sobressaltos na sinalização e do desgaste da sinalização em alguns pontos. A grande mudança está no asfalto, que deixa de ser um problema nesta parte da rua.
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Entre a entrada do complexo da Expoville, no bairro Glória, e a avenida Dr. Albano Schulz, no Centro, chama a atenção também o desrespeito dos motoristas aos limites de velocidade permitidos na via. Em compensação, nos horários de pico, as filas se arrastam por quilômetros, tanto no sentido Centro quanto no acesso à BR-101.
Em relação aos problemas de excesso de velocidade, a situação é provocada pela falta de redutores de velocidade, principalmente no bairro Glória. Não há radares e, para os moradores locais, as faixas são insuficientes para conscientizar motoristas infratores.
Em um ponto específico, logo após a ligação da rua com a avenida Marquês de Olinda, por exemplo, há uma placa indicando velocidade máxima de 40 km/h e um obstáculo na pista composto por tachões. Porém, do redutor sobrou apenas a placa de aviso e quase nenhum tachão.
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— Se pudessem repor o redutor aqui na frente (da loja), seria bom porque os motoristas passam como um foguete e, nesse trecho, não há nem mesmo faixa de pedestres, dificultando a travessia e até mesmo a chegada da clientela — comenta Luciano Krestzler, técnico em uma loja de som automotivo em frente ao antigo obstáculo.
Segundo a Prefeitura, não há previsão de instalação de novos redutores neste trecho.
Se ao longo do dia o perigo está na alta velocidade, no início ou no fim dele, trafegar pela 15 de Novembro, na região central, exige paciência. No último trecho, o maior entrave é o alto fluxo de veículos, principalmente no entroncamento com a rua Blumenau. Também existe ponto de lentidão nas proximidades da BR-101, das 18h às 19h.
Paciência nos horários de pico
Para o mecânico Anderson Luiz dos Santos, transitar pela 15 de Novembro é sempre um sofoco. Ele usa a via para buscar a mulher no trabalho todos os dias, em um prédio comercial localizado no Centro. Anderson diz que nos dias em que há maior movimento de veículos na rua, já chegou a ficar uma hora parado na 15 de Novembro, entre as ruas Marquês de Olinda e Blumenau.
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Para outro joinvilense usuário da 15 e que preferiu não se identificar, o trânsito intenso começa por volta das 18 horas e faz com que ele prefira voltar do trabalho de bicicleta. Do bairro Adhemar Garcia até as proximidades do Hospital Dona Helena, seguindo pela rua 15 de Novembro, ele diz economizar cerca de dez minutos na ida e na volta quando faz o trajeto de bicicleta.
Para Almir de Oliveira, usuário da 15 de Novembro e morador do bairro Floresta, a percepção é um pouco diferente.
— A 15 é larga, aqui tem três pistas. Então, vejo que o problema não é tanto a falta de planejamento, mas, sim, o aumento do número de veículos que circulam em Joinville, o que contribui para a lentidão no trânsito — ressalta.
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De fato, Joinville tem a maior frota de veículos em circulação no Estado. No mês passado, o número chegou a 387.255 veículos. O jornal “A Notícia” perguntou ao município se há planejamento ou cronograma para que ações ocorram na região para melhorar as condições de tráfego, e a resposta é que não existe previsão de mudanças neste trecho.