O eleitor catarinense está mais bem informado, atento a tudo que diz respeito à política e que está mais ciente da importância do seu voto neste momento porque está sentindo na carne o resultado do seu voto. Esta é a leitura que o presidente do Instituto Mapa, José Nazareno Vieira, faz da pesquisa produzida pela empresa a pedido do Grupo RBS e divulgada quinta-feira.

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Diário Catarinense – Como o senhor explica o ator “politicamente correto” no resultado dessa pesquisa?

José Nazareno Vieira – É que as pessoas, ao serem entrevistadas, ou mesmo em público, têm um sentimento que elas não expressam de maneira tão correta quanto na verdade praticam. Então, quando dizem que são totalmente contra preconceito racial, tudo bem, é contra, mas o que eles praticam no dia a dia? Então, é o que a gente considera o “politicamente correto”: opta por aquilo que aceita que seja, mas não necessariamente aquilo que faz. Esse preconceito racial, na prática – 9 para 10 dizer que não tem! –, é algo que a gente associa a uma possibilidade de uma resposta que a gente intui como um sentimento ou uma tendência de “politicamente correto”.

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Por sua experiência com pesquisas, que característica mais chamou a sua atenção no eleitor catarinense?

É um eleitor que está mais atento às coisas. Com esse bombardeio de tudo o que está acontecendo na política, na economia e socialmente no Brasil, ele ficou mais instruído e mais informado, mesmo que, por hábito, ele não tenha todo o interesse ou mesmo costumasse dizer que ‘de política e políticos eu quero distância’. A verdade é que o eleitor hoje é quase que afrontado por essas notícias. Então a tendência que eu acho importante destacar é a de que temos um eleitor mais informado, mais atento a tudo e que sabe mais da importância do seu voto agora porque está sentindo na carne o que as pessoas em quem ele votou e que são seus representantes deram para ele – e contra ele –, como retorno ao voto. E que, assim, ele demonstra uma tendência a escolher algo que não seja continuidade.

Quando questionado com assuntos que lhe exigiam posicionamento ideológico, pode-se dizer que o eleitor catarinense se manifestou de maneira conservadora?

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Eu não diria que é um eleitor conservador, tanto que algumas posições são ambíguas e em algumas questões ele se divide. Não dá para generalizar que é conservador. Ao mesmo tempo em que ele quer um candidato de meia idade ou próximo disso, ele também acha que o que importa é o perfil e o histórico pessoal. Também quer um candidato de nível superior, mas um prefeito que tenha experiência em cargo público e com passagem pela iniciativa privada terá preferência. Ele quer um conjunto de coisas que não dá para dizer se é conservador, liberal ou outro rótulo.

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De que forma o senhor acredita que a reforma eleitoral que valerá a partir deste ano influenciará no posicionamento desse eleitor retratado na pesquisa?

O eleitor terá de fazer sua escolha num período de tempo de campanha curto. Acho, pessoalmente, que foi um erro restringir o tempo de campanha, porque isso vai prejudicar a capacidade de melhor conhecer os candidatos e fazer a escolha. Com tempo mais curto e com teto de gastos, acredito que haverá uma dificuldade maior porque não se vota em quem não se conhece e para ser conhecido, um candidato novo precisa de tempo. A reforma foi muito brusca. Sobre o pretexto de evitar corrupção e tudo o que a gente já viu, não acredito que a melhor solução tenha sido estabelecer teto de tempo. Os eleitores querem eleições gerais, o novo, mudar. Mas como fazer isso com tempo ainda mais restrito?

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A pesquisa traz características que são aparentes contradições. Elas são inerentes a pesquisas como essa?

Isso é inerente a pesquisas, não a esse tipo em específico. Porque nesse conjunto todo de informações e nesse contexto complexo atual que o eleitor tem à disposição, ele não tem opinião formada sobre tudo. Isso sempre aconteceu e, na conjuntura atual, isso tende a ficar mais claro. Mas é um eleitor que, sem dúvida, está disposto a votar melhor.

* A pesquisa do Instituto Mapa foi contratada pelo Grupo RBS e divulgada na última quinta-feira. O levantamento foi feito a partir de entrevistas com 1 mil eleitores em 42 cidades de Santa Catarina entre os dias 18 e 26 de maio. Confira a íntegra das informações aqui.

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