Nas questões da pesquisa do Instituto Mapa que exigiram posicionamentos sobre direitos dos homossexuais, legalização do uso de drogas e ampliação do direito do aborto, o eleitor catarinense se manifestou de maneira parecida à dos vereadores eleitos em 2012 em Santa Catarina. A opinião é de Jacques Mick, um dos coordenadores do 1º Censo Legislativo Municipal Catarinense, estudo lançado em 2015 que traçou um perfil dos ocupantes das câmaras municipais do Estadona na atual legislatura.
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– Nesses tópicos, há convergências no sentido geral das posições do eleitorado e dos vereadores em fim de mandato, ainda que as opiniões de uma parcela dos parlamentares pareçam menos conservadoras do que as dos entrevistados pelo Mapa.
Sobre o aborto, 59,1% dos parlamentares se manifestaram contra o ¿direito de a mulher decidir se faz ou não um aborto, sem ser criminalizada por isso¿ – na pesquisa Mapa, o percentual foi de 68,8% total ou parcialmente contrários à ¿regularização do aborto¿. Já 40,9% dos vereadores se disseram favoráveis ao direito, enquanto que 25,2% dos eleitores são total ou parcialmente a favor.
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Aos vereadores, foi perguntado se eram favoráveis à ¿criminalização da homofobia (expressão do preconceito contra homossexuais)¿: 47,4% responderam sim, e 52,6%, contra. Já para os eleitores a questão foi sobre a¿regularização do casamento gay¿: 46,4% discordaram total ou parcialmente, e 41,1% se posicionaram favoravelmente.
– Apesar do foco em aspectos diferentes dos direitos dessa população, tanto entre os parlamentares quanto entre os cidadãos prevalecem posições preconceituosas, contrárias à expansão dos direitos – afirma Mick.
No que diz respeito às drogas, os vereadores opinaram genericamente sobre a descriminalização: 69,2% são contrários e 30,8%, a favor. Já a questão para os eleitores tratava da ¿legalização do uso da maconha¿. Ainda assim, 68,5% dos respondentes são total ou parcialmente contrários à medida, enquanto 24,2% são favoráveis.
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– São, portanto, muito próximos os percentuais de cidadãos catarinenses e vereadores resistentes a avanços na legislação antidrogas, discutidos recentemente na Assembleia Geral da ONU sobre Drogas.
Na questão do preconceito racial, Mick considera que seria necessário ter mais respostas dos eleitores para que ficasse mais evidente o seu real posicionamento. O professor lembra que o Brasil tem rica trajetória de pesquisas sobre raça-cor e que desde 1995, via pesquisa Datafolha, sabe-se que os entrevistados tendem a negar seu próprio racismo diante de uma pergunta explícita, embora o manifestem diante de questões que referem-se indiretamente ao preconceito.
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– Naquela ocasião, 88% responderam ‘não’ à questão ‘Você tem preconceito de cor em relação ao negro?¿, percentual bem próximo ao dos catarinenses que se recusaram a admitir o próprio racismo (91,3%).Mas 51% dos entrevistados pelo Datafolha manifestaram preconceito mediana ou fortemente, num conjunto combinado de questões relacionadas a preconceito – completa.
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Outra observação do pesquisador se refere às expectativas que o eleitor manifestou a respeito do perfil de candidatos que quer eleger e o que ele elegeu para as Câmaras de Vereadores em 2012. Nesse sentido, os eleitores manifestaram preferência por pessoas com formação superior, que não venham de família de políticos, de classe média e de meia idade. Parte dessas características, contudo, não corresponde ao perfil dos atuais vereadores: têm curso superior completo 35,5% deles (8,8% incompleto), e 45% têm parentes na política.
– Isso indica que há desajustes entre certas expectativas do eleitorado e as características do campo político, que favorecem o ingresso de agentes dotados de relações de parentesco ou que já tenham ocupado cargos eletivos ou não. Mas a maior parcela dos vereadores é de fato formada por profissionais de classe média (servidores públicos, pequenos proprietários de terra ou empresas comerciais) e de meia idade (64,5% têm entre 31 e 50 anos).
* A pesquisa do Instituto Mapa foi contratada pelo Grupo RBS e divulgada na última quinta-feira. O levantamento foi feito a partir de entrevistas com 1 mil eleitores em 42 cidades de Santa Catarina entre os dias 18 e 26 de maio. Confira a íntegra das informações aqui.
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