A frase a seguir soa clichê de guia de viagem, mas se justifica: o Sul de Santa Catarina é um lugar de atrativos exclusivos no Brasil. A única mina de carvão turística, o único museu de imigrantes ao ar livre, o farol de maior alcance na América do Sul e a singular interação entre botos e pescadores compõem uma viagem pela região. Este turismo histórico-cultural, às vezes coadjuvante no verão litorâneo, torna-se protagonista no inverno. É um convite para aprendermos de onde viemos. E no Sul a volta no tempo se inicia por onde a história local começou: Laguna, cidade que completa 337 anos na próxima segunda-feira (clique aqui e veja a programação).
Continua depois da publicidade
Laguna foi o início porque era o fim. Os portugueses atracaram, em 1676, para proteger o limite sulista firmado no Tratado de Tordesilhas. Hoje, a área compõe o Centro Histórico da terceira cidade mais antiga do Estado com cerca de 600 prédios tombados como patrimônio nacional. A partir dali, desbravadores expandiram as fronteiras que ajudaram a desenhar o mapa de Santa Catarina e, consequentemente, o brasileiro.
Fonte da Carioca
Continua depois da publicidade
Embrenhar-se no Centro Histórico é descobrir o Brasil colonial e imperial. Caminhe à toa pelas vielas, esqueça o relógio ao observar o casario colorido e aproveite a calmaria costeira para soltar a imaginação sobre a vida ali há mais de 300 anos. Para se refrescar, basta fazer uma concha com as mãos na Fonte da Carioca, construída em 1863 e ornamentada por tanques revestidos de mármore carrara. Água geladinha e cristalina corre pelas torneiras direto da nascente.
Ao lado está a Casa Pinto d’Ulysséa, réplica de uma quinta lusitana revestida de azulejos portugueses. A Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna, de 1789, tornou-se templo artístico no decorrer dos séculos. O interior recebeu os traços do estilo barroco mineiro. Os altares laterais ganharam acabamento em ouro. Em uma das paredes, descansa a tela Imaculada Conceição do catarinense Victor Meirelles.
O altar da matriz ouviu o “sim” no primeiro casamento da filha mais conhecida de Laguna, Anita Garibaldi. A preparação e a festa do casório ocorreu ao lado da igreja, numa pequena casa açoriana. O imóvel recebeu o nome de Casa de Anita e expõe objetos como a tesoura e a máquina de costura usadas na confecção do vestido da noiva.
Continua depois da publicidade
Casa de Anita
O Museu Anita Garibaldi, a alguns minutos dali, explica mais sobre a vida da heroína e a história da República Juliana. O acervo está em uma edificação de 266 anos criada para abrigar a cadeia pública e a câmara legislativa. Conserva arquitetura e mobília originais.
Laguna se divide entre a parte antiga e a moderna. No meio, o Morro da Glória, com um mirante estrategicamente situado. De um lado, avista-se o presente em grandes prédios apagados e de design reto. Do outro, o passado num mosaico decores e arte do telhado à soleira da porta.
No mirante, os olhos alcançam de ponta a ponta os dois quilômetros de terra que avançam mar adentro nos Molhes da Barra. Botos despertaram a atenção do mundo para a entrada dos molhes. Diariamente, os animais auxiliam os pescadores na caça aos cardumes numa interação singular do homem com a vida selvagem.
Continua depois da publicidade
Farol de Santa Marta
A cidade guarda outro enigma da natureza. Geologia e arqueologia especulam, mas não há certeza sobre a formação da Pedra do Frade, na Praia do Gi. O bloco solitário de nove metros de altura e cinco de diâmetro desafia a gravidade à beira do costão. No topo, uma pedra menor aponta o norte magnético.
Quando a noite cai, as luzes protagonizam. O pôr do sol provoca efeito reflexivo nas docas do mercado municipal. E o Farol de Santa Marta, a14 quilômetros do Centro – parte deles de balsa -, acorda para guiar embarcações num alcance visual de 92 quilômetros, o maior da América do Sul.