Para concluir o inquérito que indiciou o ex-deputado federal João Alberto Pizzolatti Júnior por tentativa de homicídio com dolo eventual (quando assume o risco de matar) e embriaguez ao volante, o delegado Douglas Teixeira Barroco, da 2ª Delegacia de Polícia de Blumenau, ouviu 25 testemunhas. Além dos depoimentos, o documento, ao qual a reportagem teve acesso, foi embasado no boletim de ocorrência feito no local do acidente, em laudos do IGP e imagens de celular.
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Entre as testemunhas, há moradores que presenciaram o acidente, motoristas que pararam para ajudar; os policiais militares rodoviários que atenderam a ocorrência, socorristas do Samu e dos bombeiros, e profissionais de saúde do Hospital Santa Isabel — para onde Pizzolatti foi levado após a colisão.
O acidente ocorreu por volta do meio-dia, em 21 de dezembro, na SC-421 (rodovia que liga Blumenau a Pomerode). O veículo conduzido pelo político, um Volvo XC 60, bateu de frente com um Fiat Mobi, dirigido por Paulo Marcelo Santos, 23 anos. O Mobi pegou fogo e o motorista ficou preso nas ferragens. Segundo os depoimentos, Pizzolatti dirigia em zigue e zague quando invadiu a pista contrária.
Todas as testemunhas que presenciaram o acidente ou chegaram na sequência para dar suporte à vítima disseram que o ex-deputado estava com sinais visíveis de embriaguez. Algumas delas, inclusive um bombeiro e os três policiais militares rodoviários, destacaram que havia uma garrafa de Whisky e um copo de plástico com a bebida pela metade dentro do XC 60. Um dos moradores chegou a gravar um vídeo de Pizzolatti confessando ter ingerido bebida alcoólica.
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Um dos bombeiros destacou no depoimento que Santos só sobreviveu porque os moradores e motoristas que prestaram socorro a ele utilizaram seus extintores de incêndio para conter as chamas do veículo.
“A utilização dos extintores pelos populares foi vital para a sobrevivência de Paulo Marcelo”, declarou o socorrista.
A companheira de Santos informou ao delegado que ele precisou fazer enxertos por causa das queimaduras e que corre o risco de perder o movimento dos joelhos. A vítima, que está internada na ala de queimados do Hospital Municipal São José, em Joinville, ainda não tem previsão de alta.
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Embora o laudo do IGP tenha constatado que as queimaduras sofridas por Santos não implicam em risco de morte, o delegado Barroco entendeu que as consequências só não foram mais graves por causa da mobilização rápida dos moradores.
“É imperioso ressaltar que o perigo de vida analisado no laudo alude puramente às lesões apresentadas e não ao fato em si, o qual diante da explosão do veículo que culminou com a queima do mesmo gerou, por óbvio, risco de vida ao ocupante Paulo Marcelo Santos”, anotou Barroco.
Médico ordenou condução de Pizzolatti ao hospital
Outro ponto destacado no inquérito foi a interferência de um médico do Samu no atendimento policial. Quando Pizzolatti já estava dentro da viatura da PMRv prestes a ser conduzido à delegacia, o médico solicitou a transferência dele para a ambulância dos bombeiros, pois entendeu que o ex-deputado deveria receber atendimento em um hospital.
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Os policiais acataram a decisão e os bombeiros fizeram o transporte até o Hospital Santa Isabel, em Blumenau. Chegando lá, os profissionais da unidade disseram que o ex-deputado recusou atendimento e fugiu. Uma médica da unidade afirmou que havia uma pessoa o aguardando na porta e que não interferiu porque não sabia do envolvimento dele no acidente.
O médico do Samu que ordenou a condução de Pizzolatti ao hospital não deu detalhes da decisão no depoimento e disse que se trata de “sigilo médico”. Em conversa com a reportagem, ele disse que não pode dar detalhes sobre o estado de saúde do paciente, mas destacou que “em caso de acidente de grande magnitude é de praxe a condução dos envolvidos ao hospital”.
Os policiais militares relataram que foram até o hospital buscá-lo após concluírem o boletim de ocorrência no local do acidente, mas que o ex-deputado já havia fugido. O desencontro impossibilitou a prisão em flagrante. O próprio comandante da PMRv admitiu o equívoco dos policiais por não terem providenciado escolta até a unidade de saúde.
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Os PMs disseram ainda que Pizzolatti se recusou a fazer o teste do bafômetro e que, por isso, fizeram um auto de constatação de embriaguez ao volante por meio dos sinais visíveis de ingestão de bebida alcoólica.
O ex-deputado só compareceu à delegacia quase um mês depois do acidente, mas decidiu que daria a sua versão em juízo e declarou que estava oferecendo suporte à vítima.
“A previsão do resultado, no âmbito subjetivo do indiciado, decorre, a par de todas as campanhas educativas acerca da segurança no trânsito a envolver o consumo de bebidas alcoólicas, mas, especialmente, da própria condição do indiciado, ex-deputado federal, o qual, com toda certeza, tem plena consciência de que a condução de veículo automotor em uma rodovia, após o consumo de bebidas, pode findar em evento trágico, a exemplo de um eventual homicídio”, concluiu Barroco no documento assinado nesta segunda-feira (29).
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Contraponto
O advogado de defesa do ex-deputado, Honório Nichelatti Júnior, emitiu uma nota dizendo que os esclarecimentos serão feitos no processo judicial e que a vítima está recebendo apoio para amenizar os danos do acidente. Confira o comunicado na íntegra:
“Estamos aguardando acesso ao Inquérito Policial. Todos os esclarecimentos relacionados aos fatos serão relatados tão somente naquele procedimento. Já foram iniciadas tratativas entre as famílias para futuras composições, na busca de amenizar os danos do acidente. Depósitos já foram realizados para as despesas que, em comum acordo, foram consideradas urgentes.”
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