A tocha olímpica, os monstrinhos a serem capturados com celular – em jogo virtual perigoso à segurança pessoal e pública – e a discussão sobre o futuro de Joinville, com a realização da que promete ser a última audiência pública sobre a Lei de Ordenamento Territorial (LOT), na Câmara de Vereadores, marcaram a semana.

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Vou começar pelo terceiro tema. É, de longe, o mais sério deles, com implicações que virão mas ainda são desconhecidas sobre o nosso cotidiano. Explicações técnicas não auxiliam o entendimento. O povo não se constitui de urbanistas e nem de planejadores urbanos. A linguagem usada em algumas das audiências – muitas vezes pouco didáticas – afastou o cidadão médio de quaisquer reuniões.

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A simples e dura realidade de dificuldades para sobreviver, em meio ao desemprego e subemprego, afugenta os milhares e milhares de joinvilenses de debater sobre assuntos áridos, naturalmente incompreensíveis. Não é diferente em outros municípios: a participação da sociedade é mínima. Restrita a minorias incrustadas em castas, cada grupo jogando o jogo que lhe convém.

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Simplificando em demasia o raciocínio, há dois lados nessa batalha. Numa ponta, os interessados em liberar a cidade para usos múltiplos nos espaços urbano e rural e dar-lhe um ar de metrópole. Com mais empreendimentos de todo tipo. São os que, ironicamente, se sentaram à esquerda de quem entra no plenário da Câmara de Vereadores, na audiência pública realizada na noite da última quinta-feira. Construtores e agentes imobiliários, por exemplo.

Do lado direito da sala, representantes de associações de moradores de oito bairros, empresários, cidadãos, revezaram-se ao microfone argumentando até contra a ausência de dados e mapas urbanísticos devidamente explícitos para o que nos aguarda, como sociedade, se a LOT for aprovada do jeito que está posta, com as emendas todas, e a partir do texto original do Executivo. Este grupo defende outros interesses. Os interesses de, tanto quanto for possível, resguardar padrões atuais de uso e ocupação do solo.

Guerreiam, há anos, para tentar manter o status quo, embora saiba da inevitabilidade de que, em algum momento, a LOT vai passar.

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Os agentes da expansão e verticalização da cidade que participaram ativamente, nos bastidores, e em encontros abertos, são os que têm interesses de curto e médio prazos. Legítimos interesses. São os que imaginam Joinville cinza em vez de verde; cheia de prédios altos e menos jardins; com menos sol e mais umidade; com mais congestionamentos e menos tranquilidade. Mais rica. Cada vez mais forte economicamente. O nome disso é adensamento. No Centro e no seu entorno. E também em regiões periféricas, já bem populosas.

Para estes, Lord Keynes está mais vivo do que nunca. Eles, em julho de 2016, evocam, baixinho, a célebre frase do economista e pensador: “No longo prazo, todos estaremos mortos”. Dita num outro e distante contexto socioeconômico, a reflexão sugeria, à época, a imperiosa necessidade de se encontrar soluções para os graves problemas de então. Soluções logo, pediam. Aqui, em Joinville, alguns séculos mais tarde, a frase tem uma clara sintonia com desejos nada reprimidos por negócios de vulto, possíveis de serem feitos em poucos anos. Os efeitos? A maioria dos que se digladiam hoje estará morta.

Joinville está no limiar de um novo momento histórico. O da preparação para o que se tornará daqui a 20, 30, anos. A sociedade, como um todo, não sabe disso. Nem imagina as consequências de decisões que estão na iminência de serem tomadas pelos nossos 19 vereadores, eleitos há quatro anos. O povo, que mora na Joinville atual de 600 mil habitantes, e vê verde e ambiente agradável à sua volta – mas já se revolta com o caos no trânsito em horários mais ou menos conhecidos – não revelou desejo de participar das discussões sobre aquilo que nos envolverá a todos.

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Tomara que a omissão coletiva de agora não nos leva a querer capturar monstrinhos vivos, de corpo presente, daqui alguns anos, em Joinville. E nem que a realidade futura apague a tocha da cidadania, já atualmente tão pouco praticada.