Napoleão Bernardes (PSDB) subiu pelas escadas os três andares que levam ao plenário da Câmara de Vereadores. Acompanhado pelo vice-prefeito e aniversariante do dia Mario Hildebrandt (PSB) e pelo chefe de gabinete Marco Antônio Wanwosky, cumprimentou o secretário Roni Wan-Dall. Dali se sucederam outras centenas de apertos de mãos e tapinhas nos braços em volta de todo o plenário, lotado de autoridades e lideranças de diferentes segmentos sociais, incluindo vereadores mirins. Quando terminou os cumprimentos, aguardou em pé os primeiros três minutos de abertura da sessão do Legislativo até ser chamado à mesa sob aplausos às 15h34min pelo presidente Marcos da Rosa (DEM).
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Assim foram os últimos passos de Napoleão antes de anunciar a decisão de renunciar o cargo de prefeito de Blumenau para participar das eleições de outubro. Logo nos primeiros atos da sessão, após o hino de Blumenau e o momento bíblico, Napoleão foi à tribuna confirmar a decisão antecipada pela manhã.
O anúncio da decisão de deixar o cargo de prefeito ocorreu em um pronunciamento de 28 minutos, repleto de lembranças pessoais sobre as outras cinco eleições disputadas pelo tucano. A escolha pela Câmara se deu, além da questão institucional, porque foi ali que ele ocupou o primeiro cargo público, como vereador, eleito pela primeira vez em 2008. Não usou nenhuma vez a palavra renúncia, mas confirmou a transmissão do cargo para o próximo dia 5 de abril, quinta-feira da próxima semana, às 17h, no Teatro Carlos Gomes. O vice-prefeito Mário Hildebrandt (PSB) assume o cargo de prefeito pelos próximos dois anos e nove meses para completar o mandato.
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A possibilidade de disputar as eleições de 2018 já era cogitada desde a reeleição de Napoleão, em 2014, mas ganhou força nos últimos meses. O nome do tucano é visto com força dentro do PSDB para concorrer uma vaga ao Senado e até ao governo do Estado. Nas eleições, ele não comentava as especulações, mas nos últimos meses passou a circular mais em outras cidades catarinenses e comentar mais abertamente as possibilidades de candidatura. Não antecipou os planos, mas após o discurso, em entrevista, confirmou que o caminho mais provável é uma candidatura ao Senado, já que o PSDB tem dois representantes que deixam o cargo este ano – Dalírio Beber e Paulo Bauer – e que este último tem projeto político encaminhado para concorrer ao governo do Estado.
“Não posso me furtar a esse direito de levar à frente esse ideal”
Na tribuna da Câmara nesta terça-feira Napoleão relembrou a trajetória política, desde a filiação ao PSDB, feita ainda com 16 anos e “com uniforme escolar”, passando pelas cinco campanhas eleitorais que participou – três disputas a vereador, com uma eleição em 2008, e duas a prefeito, ambas vitoriosas. Falou com brevidade sobre vida pessoal ao lembrar a perda do pai, as idas com ele à escola lendo artigos da Constituição e o recente casamento e nascimento da filha Manu.
Disse querer relutar à zona de conforto que poderia ser negar os convites de candidatura para apenas terminar o mandato. Em um tom emocional, que fez lembrar os versos de Raul Seixas em “Prelúdio”, disse que ser prefeito de Blumenau foi um sonho que nasceu individual, mas que ao longo do tempo foi compartilhado por outras pessoas. Comparou as situações dizendo que agora estava sendo chamado para realizar um sonho coletivo.
– Se lá atrás compartilhei meu sonho para que fosse sonhado por tantos outros, hoje aceito esse chamado de Blumenau e Vale do Itajaí para que eu possa encarnar e ser o depositário daquilo que tantos têm acreditado, que é retomar a posição de protagonismo e altivez que a região de Blumenau quer e merece. Não posso me furtar a esse direito de levar à frente esse ideal, essa aspiração que é o desejo de Blumenau e Vale do Itajaí. Sim, eu aceito o desafio, conduzirei essa missão com bravura, credibilidade, colocando Blumenau e o Vale no patamar que a região sonha, precisa, merece – afirmou, em uma rara alteração na voz para um tom grave, com socos na tribuna e longos aplausos do público.
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Frases
“Optei pela Câmara para poder abrir meu coração e externar o que me vem na alma nesse momento, não só pela minha formação democrática, jurídica, mas de valorização do que a Constituição estabelece, de harmonia e convivência soberana entre os poderes”.
“É muito comum aos jovens que sonhem e vislumbrem os 18 anos para terem acesso à CNH, poder dirigir, chegar à vida universitária, trabalhar na área em que desejam. Meu sonho de juventude foi chegar aos 16 para que eu pudesse fazer o título de eleitor e optar por filiação partidária”.
“Quem olhar minha história de trás para a frente vai imaginar que foi um case concatenado de decisões racionais que levassem a um determinado propósito, mas simplesmente intuí, segui o coração, acreditei no ideal e cheguei até aqui.”
“Daquele sonho inaugural individual, que foi sendo compartilhado um pouco em 2000, mais um pouco em 2004, brotou a intuição de que o momento para a candidatura a prefeito era 2012. Alguns não acreditavam, apontavam a idade talvez como uma limitação. Nos cabe a responsabilidade de seguir aquele ideal. Um sonho que se sonha coletivamente, sonhado por muitos, não se tem mais o direito individual de pela zona de conforto abrir mão daquilo que tantos desejam. Assim nasceu aquela eleição de 2012 que inaugurou em Santa Catarina uma subversão total da lógica e da racionalidade em termos de eleição. Se imaginava que o que ganhava eleição era dinheiro, tempo de TV, exército de cabos eleitorais, o que a política dos dias de hoje exige de cada um de nós é que o que vale numa eleição é causa, propósito, ideal”.
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“Dada a reeleição, começaram as especulações, e que não partiram de mim. Sempre respondia que estava ‘de boa’. Vim aqui para abrir o coração. Ser prefeito de Blumenau é absolutamente honroso. Tenho 35 anos, profissionalmente tenho a atividade que gosto. Concluir o mandato é altamente confortável. Tenho uma filha de quatro meses, uma esposa amada, somos muito felizes em família, teria toda a oportunidade de curtir esse momento tão especial com dois anos e oito meses disso que está plantado, legado, posto. E vieram chamamentos, e o sonho não foi meu. A origem do sonho não partiu de mim. Partiu de forma espontânea, esporádica de muita gente de Blumenau, muita gente do Vale do Itajaí. Respondi muitas vezes que estava ‘de boa’, aí vieram os impulsionamentos, os estímulos e o chamamento a uma responsabilidade histórica”.