Há seis anos, Vanderlei Zen, 39 anos, vê a vida passar pela janela, deitado na cama de solteiro da casa situada em Barreiros, São José. Num pedaço da sala, um quarto improvisado permite que a mãe fique sempre de olho no filho, que precisa de ajuda até mesmo para as necessidades mais básicas, como comer e ir ao banheiro. Vanderlei é mais uma vítima da violência no trânsito que, depois de sete anos, ainda não teve justiça.
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Ele foi atropelado no dia 16 de fevereiro de 2009, quando caminhava pelo acostamento na rodovia SC-403, recentemente duplicada no norte da Ilha. O motorista fugiu sem prestar socorro.
Vanderlei teve traumatismo craniano e fraturas por todo o corpo. Como estava sem documento no dia do atropelamento, a família demorou uma semana até descobrir o que tinha acontecido. Um ano depois, teve um AVC e ficou com sequelas neurológicas, sendo internado na Colônia Santana para favorecer a recuperação. Com o tempo foi piorando, até que ficou acamado.
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Família de ciclista morta busca por justiça
Com 42 kg e sérios problemas na coluna, agravados pela necessidade de carregar o filho de 90 quilos, a mãe, Lúcia Zen, viu sua vida mudar depois do acidente. O filho que trabalhava como pintor, passou a depender dela totalmente. Lúcia precisou sair do trabalho que tinha como empregada doméstica e se dividiu entre os cuidados com o filho e a busca por justiça.
– Ele morava comigo na época e às vezes ficava alguns dias sem aparecer em casa, mas estranhei quando ele não avisou e comecei a procurar. Fui em delegacias e ninguém tinha informação, até que resolvi ir nos hospitais e encontrei ele no Celso Ramos – recorda a mãe.
A mãe lembra que o filho estava muito mal e os médicos chegaram a preparar ela e o marido para o pior. Com o tratamento e fisioterapia, o estado de Vanderlei melhorou e ele foi liberado para voltar para casa.
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Sete anos depois
Na época, Lúcia conta que o marido registrou um boletim de ocorrência na delegacia de Canasvieiras e soube que foi feita uma investigação. Uma testemunha afirmou que uma parati teria sido responsável pelo atropelamento:
– Depois nunca soubemos de mais nada. A única coisa que ele recebe é uma pensão do Estado. Hoje estou mais conformada, mas vejo pelo outros, quantos casos de motoristas que atropelam e fogem e não acontece nada. Meu sentimento é que Deus perdoe quem fez isso com ele, pelo menos meu filho tá vivo, nessas condições, mas está comigo, poderia ter morrido.
Ao acompanhar os recentes casos de atropelamento, Lúcia diz que vem tudo à tona e fica sem esperança de algum dia ter justiça. Segundo ela, a morte da auxiliar de cozinha Simoni Bridi, 28 anos, atropelada por um motorista que fugiu sem prestar socorro na madrugada do último domingo, na SC-401, foi a gota d´água para impulsioná-la a contar a história do filho Vanderlei.
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Triste de ver outra família sendo destruída pela violência e impunidade no trânsito, ela desabafa:
– Acaba ficando tudo na impunidade, a pessoa não assume. Nossa lei é injusta, lenta, fraca, deveria ser mais rigorosa. Quando a Polícia pega um embriagado dirigindo, deveria tirar a carteira. Tem que ser para todos os casos. Mas não é isso que acontece, esses bêbados atropelam, matam e não acontece nada. Se negam a fazer o bafômetro e depois não tem como provar. Acho errado pagar a fiança e ficar livre. Então, quem tem dinheiro pode matar que fica livre.