Em casa há duas semanas, 15 alunos do 2º ano do ensino fundamental da Escola Básica Jurema Cavallazzi no bairro José Mendes, em Florianópolis, estão perto de reprovarem. A única sala desta classe na unidade de ensino já teve três professoras, mas o Estado não consegue um substituto. O problema se agrava porque as crianças de sete anos estão em fase de alfabetização. Desde o início do ano letivo, os estudantes não tiveram dois meses seguidos de aula.

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– A escola está uma bagunça. A minha filha ainda não sabe ler. Como o professor conseguirá aplicar todo o conteúdo até o fim do ano? – questiona a aposentada Rosangela Botelho, 46 anos, mãe da estudante Hellen, sete.

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Segundo os funcionários da escola, a primeira professora passou no concurso do município de Florianópolis. A segunda teve um problema médico e também engravidou. Já a terceira foi ameaçada pela mãe de um aluno e deixou o colégio. Desde então, a direção da Escola Básica Jurema Cavallazzi não consegue arrumar uma substituta.

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Artesã deixa de trabalhar

A artesã Silvia Amélia Souza de Costa, 46, cuida da neta Victoria de Aguiar, sete anos, durante o período vespertino. Neste horário, Victoria deveria estar em sala de aula e Silvia trabalhando. Como os pais da aluna trabalham durante o horário da escola, ela precisa ficar com a avó.

– Nosso receio é que ela reprove e perca um ano, mas o pior é a falta do conhecimento que o estudo proporciona. Ela gosta de estudar, mas algumas vezes volta para a casa apenas com desenhos no caderno – desabafou a avó.

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Marcos brinca pelo Morro da Queimada

Marcos Henrique da Silva Pedro, sete anos, também estuda no 2º ano do ensino fundamental da Escola Básica Jurema Cavallazzi. Sem ter o que fazer, o menino passa as tardes correndo pelo Morro da Queimada. Ao invés de ser alfabetizado, ele corre o risco de ser aprovado sem ter recebido o conteúdo programado para o ano.

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– A mãe está trabalhando e às vezes ele fica sozinho, mas a bisavó mora ao lado. Além de não ter com quem deixar, a nossa preocupação é com a educação que ele está deixando de receber – lamentou a avó, que também trabalha como zeladora, Ana Lúcia Segundo, 46 anos.

“Não sabia que as crianças estavam em casa”, diz gerente

A gerente de educação da Grande Florianópolis, Dagmar Pacher, explicou que a última professora foi ameaça e deixou a escola. Ainda não apareceram candidatas para a vaga.

– Colocamos essa vaga à disposição toda semana, mas ninguém se candidata por causa da ameaça de um familiar. Não tem o que fazer, mas não sabia que as crianças estavam em casa, porque a direção precisa arrumar um substituto. Vamos conversar com a direção – prometeu a gerente.

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A diretora da Escola Básica Jurema Cavallazzi não foi encontrada.