A Granja Comary sempre foi uma obsessão de Carlos Alberto Parreira. Durante a Copa das Confederações, nos bate-papos informais com jornalistas, era ele quem mais insistia na necessidade de levar os 23 jogadores para uma casa de verdade. Como esta que, a partir desta segunda-feira, de certa forma, será um pouco a casa de todos nós.

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Numa dessas conversas, em Fortaleza, dei uma cutucada no coordenador técnico da Seleção Brasileira. Perguntei se o zigue- zague no mapa dos jogos (São Paulo, Fortaleza, Brasília, Belo Horizonte), tendo de voltar sempre a Teresópolis, na região serrana fluminense, não seria cansativo demais na Copa do Mundo, quem sabe atrapalhando em vez de ajudar.

– Não, não – resmungou Parreira com alguma impaciência, meneando a cabeça. – Temos de ficar na Granja. A Granja é a casa da Seleção. Lá é o nosso lugar, o nosso canto. Tem de ser lá. A CBF precisa reformar porque ela está defasada. Não há plano B. É Granja ou Granja.

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Ainda no sábado à noite, em Porto Alegre, já depois de encarar as filas no caixa do supermercado, quem irrompe à minha frente? Paulo Paixão, o homem encarregado de, nestes primeiros dias em Teresópolis, comandar exames físicos decisivos para saber quanto cada um pode e deve suportar nos treinos. Um errinho nessa medida pode significar um músculo estourado ali adiante. Na preparação para a Copa de 1998, na França, Paixão passou noites em claro estudando novas maneiras de entregar um grupo homogêneo a Zagallo. Dezesseis anos mais experiente, tira de letra.

Depois de uma rápida troca de informações sobre voos, hotéis e arrumação de bagagens até Teresópolis (escurece no meio da tarde, ele me advertiu; e ele tinha razão), não demorou para falarmos, entre sacolas e carrinhos, da Granja.

– Pena que eu não estou com o meu iPad aqui para te mostrar as fotos. Cara, a Granja ficou maravilhosa! – exclamou Paixão, que chegou ontem a Teresópolis, assim como Felipão e Parreira.

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Deve ter ficado mesmo, pensei. A CBF despejou R$ 15 milhões numa reforma que resultou em quatro campos com dimensões Fifa, modernas instalações de imprensa para os mais de mil jornalistas credenciados, 30 quartos individuais, piscina (térmica também), áreas de lazer, área para receber visitas de amigos e familiares nos dias de folga, salas de musculação e fisioterapia, restaurante e tantas outras melhorias que, talvez, nem mesmo Paixão saiba de cor.

Na Granja, felipão praticará o convívio

Descrevi a conversa com Parreira ali mesmo, na correria do súper. Paixão sorriu aquele sorriso de Acadêmicos do Salgueiro e entregou o que há por trás do projeto Granja Comary:

– A gente meditou sobre isso. E percebeu que nada se compara ao ambiente que poderemos criar. Nada se compara a, depois de um jogo tenso, poder colocar um chinelinho e caminhar entre as árvores, com aquele visual lindo, pegar um sol na piscina, fazer as refeições sossegado, discutir o que deu certo ou errado só entre a gente. Na Granja, o Felipão vai ter mais liberdade para praticar uma arte da qual ele é mestre: o convívio.

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Haverá uns probleminhas. Treino fechado, nem pensar. As casas em áreas mais altas das cercanias já estão alugadas por emissoras de TV de todos os cantos do mundo. A torcida, é verdade, não chegará nem perto. A comissão técnica teme parecer antipática, mas são questões de segurança – e de privacidade também. Dos 23 convocados, 17 são estreantes em Copa. Felipão quer conhecêlos como jamais teve chance. E o fará no recôndito do lar.

– Bom, preciso arrumar as malas – avisa Paixão, acelerando o passo, mas não sem antes olhar para trás e deixar a senha do que significa o dia de hoje na caminhada rumo ao sonho da sexta estrela no peito:

– Vai começar.

Os primeiros dias da campanha pelo hexa:

Nesta segunda-feira

– Os 23 convocados devem se apresentar até 10h no Aeroporto do Galeão, no Rio (alguns chegarão de avião – parte deles no Santos Dumont -, outros já estarão na cidade). A delegação embarca em um ônibus direto para a Granja Comary, onde, às 15h, começarão os exames médicos. Está prevista uma entrevista coletiva às 16h, mas não necessariamente com a participação de algum jogador.

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Terça-feira

Exames médicos e avaliação física.

Quarta-feira

– Primeiro treino com bola, na parte da tarde.

Domingo

– Treino e viagem para Goiânia.

Dia 3/6

– Amistoso Brasil x Panamá, no Serra Dourada.