Apesar de a Polícia Civil não considerar crime de ódio ou transfobia a morte de Jennifer Celia Henrique, de 37 anos, entidades LGBT e de igualdade de gênero pensam exatamente o contrário. Para Kelly Vieira Meira, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher em Florianópolis, trata-se de um caso claro de preconceito contra uma pessoa trans e que foi determinante para a morte dela.
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O delegado Eduardo Mattos afirmou na manhã desta segunda-feira (24) que o assassino confesso Dik Greisson Isidoro da Silva, 22 anos, teve relações sexuais com a vítima antes do crime, e que por isso não vê como crime de transfobia. Conforme o depoimento do suspeito, ele matou Jenni após ela ameaçar contar para os amigos dele sobre o envolvimento entre os dois.
— No momento em que ele pensou que amigos iriam zombar, que a família iria condenar, achou justificável matar para não passar vergonha. É transfobia sim e tem uma proximidade muito grande com a misoginia — argumenta Kelly Meira, a primeira transgênero líder de um órgão em defesa dos direitos femininos no Brasil.
— A Jenni foi duas vezes diminuída, uma por ser mulher e outra porque negou sua condição de masculino — conclui.
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Para a ativista, é urgente a tipificação desse tipo de crime, já que as leis brasileiras não protegem gays, travestis e transexuais vítimas de violência. Por isso a nomenclatura é tão necessária. Kelly afirma que considerar apenas crime passional é relativizar o preconceito de gênero.
Suspeito foi preso na noite de domingo
A Delegacia de Homicídios de Florianópolis esclareceu nesta segunda-feira a morte de Jennifer. Em coletiva de imprensa, o delegado Eduardo Mattos informou que Dik Greisson foi preso pela PM na noite de domingo no bairro Itacorubi. Segundo o próprio depoimento do suspeito, o jovem matou a vítima a pauladas após os dois terem relações sexuais em uma obra na servidão Paraíso dos Ingleses.
— Ele contou que após a relação sexual, a vítima falou para ele que gostaria de manter sempre relações sexuais com ele. Eles tiveram uma discussão breve ali e ela ameaçou de contar a relação que eles tiveram para os amigos dele. Em razão disso, ele teve a reação de golpear com um pedaço de pau na região do pescoço.
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O delegado descartou transfobia pelo fato de os dois terem mantido relações sexuais. Ele está detido no presídio da Agronômica e será denunciado por homicídio duplamente qualificado: por motivo fútil e que impossibilitou a defesa da vítima. Eduardo Mattos também pedirá a conversão de prisão temporária em preventiva.
A Polícia Civil chegou até o suspeito após ouvir outros moradores de rua que costumam ficar próximo ao local do crime. Também analisou imagens de videomonitoramento que mostram Dik Greison e Jenni entrando na obra e em seguida apenas o jovem saindo. O suspeito disse que estava sob efeito de crack.
Sobre o fato de haverem dois pedaços de pau com marcas de sangue, o que levou a polícia a acreditar que duas pessoas pudessem ter matado Jenni, o delegado Matos explicou que foi o próprio Dik quem usou os as duas armas. No local do crime, os agentes também encontraram R$ 150 que pertenciam a Jenni, o que descartou o crime de latrocínio.
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Dik Greison não tinha antecedentes criminais. Ele era natural de Criciúma e informou que trabalhava como reciclador. Após o crime, perambulou pelas ruas da Praia do Forte, Barra da Lagoa, e Centro, até ser detido no Itacorubi.
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Quem era Jenni
Nas redes sociais, onde a morte teve grande repercussão, amigos e familiares da vítima afirmam que o homicídio teve motivações preconceituosas, intolerantes e de transfobia. Jennifer, conhecida por todos no Norte da Ilha como Jenny, tinha forte atuação em movimentos de causas de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT), além de ser muito conhecida nas regiões dos Ingleses e Santinho, onde morava com seus pais. Jenny trabalhava como revendedora de uma marca de cosméticos.
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