Dono de uma das mais tradicionais empresas de pesca de Itajaí, Jorge Seif enfrenta o primeiro naufrágio de uma de suas embarcações em 35 anos como armador. Acusado por familiares dos pescadores desaparecidos de não ter dado a assistência necessária para tranquilizar quem espera por notícias, ele afirma sentir-se impotente nas buscas.

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A empresa está prestando informações às famílias?

Todo mundo está muito nervoso, mas estamos impotentes, não temos o que fazer. Querem que eu resolva, mas não consigo. Tudo é competência da Marinha. Sabemos que as buscas continuam, ficou decidido que levaríamos as famílias a Imbituba, porque acreditam que lá terão mais informação. A gente não sabe o que fazer.

Como ocorreu o acidente?

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É um barco de isca viva, que pesca até 100, 150 quilômetros da costa. Ele tem GPS, radar, sondas, rádios de comunicação, o que dá a ele previsão do tempo, condição de falar com a Marinha, com todos os portos de comunicação, com as rádios costeiras que nos informam as condições do tempo. No momento do naufrágio, o barco estava parado. Não sei por quais razões. Vieram duas ou três ondas grandes… A decisão é 100% do comandante. Quando o barco sai do porto, não temos gerência.

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Sua frota já tinha passado por um acidente?

Em 35 anos, tive 15 barcos e é a primeira vez, infelizmente. As melhores embarcações vistoriadas na capitania são as minhas. A pesca é um desafio entre homem e natureza, e com ela não se pode brincar. Tem que fazer tudo superdimensionado.

O naufrágio poderia ter sido evitado?

Foi uma fatalidade. O barco estava ali numa hora errada. Vieram aquelas ondas… Eu estranhei ele ter ido para o Sul, porque estava havendo aquele tempo ruim, e ele deveria estar indo para o Norte, mas a informação é de que um amigo (do comandante do barco) que estava no Sul chamou dizendo que tinha encontrado muito peixe. Por isso mudou a rota. Ele ia pro Rio de Janeiro, pra Santos. Foi uma infelicidade. Coisa do destino.

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A empresa demorou para avisar as famílias?

Não é verdade. O número de pessoas é grande. Estão dizendo que estamos desdenhando, isso é uma inverdade. Passei mal nos últimos dias. São os piores dias da minha vida. Sempre fui muito cauteloso. Sou muito responsável porque sei que com a natureza não se brinca. Só podemos nos agarrar a Deus agora e pedir que tenham paciência.