Neste inverno Santa Catarina registrou uma das mais altas taxas de mortalidade do mundo em razão da Gripe A. Foram 72 mortes até o fim de julho, uma média de uma morte para cada 100 mil habitantes. Números que não foram suavizados pelo melhor desempenho de vacinação do país atingindo 94,54%, nem pelas 580 mil cápsulas de Tamiflu distribuídas gratuitamente nas redes de saúde. Entre as hipóteses para responder este cenário estão a demora da população em procurar a ajuda e lentidão dos médicos ao prescrever o uso da medicação.

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Os dados preliminares que deixam Santa Catarina no topo mundial de mortalidade por gripe A foram cruzados com informações obtidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde. Os números não são precisos porque as notificações demoram para chegar à OMS. Os dados dos países do Hemisfério Sul são menos completos do que os do Hemisfério Norte, onde o inverno já acabou, e os padrões de vigilância epidemiológica variam bastante.

Mesmo assim, as notificações dos países que já enviaram seus dados indicam que o Brasil é um dos principais focos da gripe A no mundo hoje. As 257 mortes registradas até a última semana de julho (157 somente no Sul) colocam o país entre as regiões mais afetadas no planeta pelo vírus Influenza A (H1N1). E no Brasil, Santa Catarina está no topo no número de mortes.

Para saber qual é a mortalidade do país ou região é preciso comparar o número de casos com o de mortes e com o da população. Na Índia, por exemplo, onde vivem 1,2 bilhão de habitantes foram verificados 122 mortos (veja no mapa) até a última semana de julho. Em Santa Catarina onde vivem 6,2 milhões de habitantes, 72 pessoas morreram pelo H1N1, 50 casos a menos que a Índia, um dos países mais populosas do planeta.

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As informações disponíveis fazem com que a infectologista Nancy Bellei, professora da Universidade Federal de São Paulo ( Unifesp) e uma das principais especialistas em Influenza do país, sustente que o Brasil tem uma das piores situações conhecidas em relação ao H1N1 este ano.

– Claro que o clima interfere, mas isso tem de ser melhor estudado porque outros países frios não enfrentam o mesmo cenário – afirma a especialista.

Uma das razões para o Brasil padecer com a gripe A é que outras regiões do Hemisfério Sul, como Argentina, Chile, Austrália ou Nova Zelândia, estão apresentando circulação predominante de outros tipos de vírus Influenza, como o B ou o H3N2. Também pela avaliação de especialistas, a falta de uma política de prevenção específica para o sul do Brasil e deficiências no atendimento primário como a demora para a aplicação do antiviral Tamiflu ajudam a explicar por que o país, apresenta uma escalada de mortes superior a outras regiões do globo.

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Segundo pesquisa do Ministério da Saúde nas primeiras 28 mortes por H1N1 em Santa Catarina, 50% delas poderiam ter sido evitadas se os pacientes tivessem tomado o Tamiflu em até 48 horas depois dos primeiros sintomas. Um exemplo foi a primeira morte por Gripe A do Estado. Uma menina de dois anos morreu três dias após a contaminação pelo vírus ter sido diagnosticada, mas a criança já estava com os sintomas há quase 15 dias.

– Acredito que reforçar as medidas educativas, não apenas junto à população, mas em relação aos profissionais da saúde quanto à importância de recomendar a vacinação anual e incorporar o uso precoce de antiviral quando houver indicação são imprescindíveis para evitar este elevado número de mortes – diz a infectologista.

O que não repetir em 2013

1 – Falta de estratégias regionalizadas

Especialistas consideram um erro para um país com o tamanho e as variações geográficas, climáticas e populacionais do Brasil ter uma estratégia unificada de combate ao vírus. Regiões costumeiramente mais afetadas pelo vírus Influenza, como o sul do Brasil, em especial, Santa Catarina, deveriam contar com um tratamento diferenciado.

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Isso poderia prever, por exemplo, vacinações mais abrangentes incluindo mais faixas etárias do que a regra nacional de menos de dois ou mais de 60 anos.

2 – Falhas no atendimento do sistema de saúde

Na avaliação da infectologista Nancy Bellei, os profissionais de saúde do país ainda não apresentam a agilidade necessária para ministrar o antiviral Tamiflu no prazo indicado de 48 horas desde o início dos sintomas.

– Muitos pacientes que foram a óbito receberam tratamento tardio. Isso precisa ser resolvido – observa Nancy.

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3 – Falta de agilidade e burocracia

Por ser uma doença de rápida disseminação, a gripe tende a desafiar as estruturas burocráticas destinadas a monitorá- la e combatê- la. Segundo a infectologista Nancy Bellei, atualmente, no país, demora-se até seis semanas desde que o vírus Influenza começa a circular para essa informação ser oficial.

São cerca de três semanas para ocorrerem os primeiros casos graves, e outras duas ou três semanas para o resultado de exames ser inserido em boletins oficiais.

Países como Argentina e Chile, segundo ela, conseguiram rastrear os surtos em menos tempo.

4 – Relaxamento da população

Depois da pandemia de 2009, parte da população brasileira abandonou hábitos fundamentais como higienizar adequadamente as mãos ou se vacinar precocemente para enfrentar o período mais rigoroso do inverno. Em matéria do DC em 21 de junho uma pesquisa pelas ruas da Capital e em Blumenau mostrava a falta de preocupação das pessoas com os cuidados básicos.

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O que fazer em 2013

– O acesso rápido ao Tamiflu, segundo o Ministério da Saúde, é a melhor ação para evitar os casos graves e óbitos. Dessa forma, quem apresentar sintomas como febre alta de início repentino, acompanhada por dores musculares, dor de cabeça, mal estar intenso, tosse coriza e rinite, entre outros, deve, imediatamente, procurar um posto de saúde, onde o médico avaliará o caso e poderá prescrever o uso do medicamento sem necessidade de aguardar resultados laboratoriais.

– O Ministério da Saúde recomenda também às secretarias de saúde dos estados e municípios que descentralizem os estoques do medicamento, para que as pessoas que o necessitam tenham acesso imediato.

– 80% dos grupos de cobertura da vacinação devem ser imunizados. São eles: idosos a partir dos 60 anos, crianças de 6 meses a menores de 2 anos, grávidas em qualquer período da gestação, população indígena, profissionais que trabalham nas unidades de saúde e pessoas com doenças crônicas.

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Para ficar atento:

São sinais de agravamento da doença:

– dificuldade de respiração;

– persistência ou aumento da febre por mais de três dias;

– agravamento de uma doença pulmonar crônica;

– agravamento de doença cardíaca pré-existente;

– desidratação.