Defendida como única maneira de aniquilar a comunicação dos detentos do Primeiro Grupo Catarinense (PGC) com criminosos que estão nas ruas, a transferência dos líderes para o isolamento do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) em presídios federais é desprezada pelas autoridades do sistema prisional do Estado.

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O secretário de Segurança Pública, César Grubba, a favor da transferência dos líderes para o RDD, disse ao DC ter a informação do governo federal da existência de 30 vagas nessas prisões para criminosos que oferecem risco aos estados. Por enquanto, o Departamento de Administração Prisional (Deap) e a Secretaria da Justiça e Cidadania afirmam nas suas manifestações serem contrários à ida dos criminosos do PGC para presídios federais.

O motivo, sustentam, é que os presos daqui retornariam mais tarde ainda mais fortalecidos com associações a outras facções como, por exemplo, o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. Para especialistas, é consenso que isso não serve como argumento porque eles ficam no máximo até dois anos fora e esse período seria mais do que suficiente para erguer prisões e isolar os líderes.

O diretor do Deap, Leandro Lima, justifica ainda que há investigações em andamento sobre o PGC. Ele argumentou que se os líderes da facção forem encaminhados para o sistema penitenciário federal, a capacidade de comunicação destes criminosos será extinta e as conexões deles não serão conhecidas.

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O delegado-geral da Polícia Civil, Aldo Pinheiro D´Ávila, pensa que o RDD precisa ser aplicado, pois está comprovada a sua eficiência.

– Não cabe a nós decidir esse tipo de situação. Mas eu entendo que é uma excelente medida. Nos outros estados, em presídios federais, está surtindo efeito. São pessoas que causam um mal social muito grande. A sociedade não merece que esse tipo de criminoso, de alta periculosidade, tenha certas regalias, como conversa livre, com familiares, contato direto – defende o delegado.

Em 2011, SC utilizou as vagas do RDD. Na época, a direção do Deap era outra. Foram transferidos 40 líderes do PGC para fora do Estado, entre eles o traficante Rodrigo de Oliveira, o Rodrigo da Pedra. A volta dos criminosos para SC começou na metade do ano passado.

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Isso aconteceu, conforme advogados, porque o período máximo do RDD é de 365 dias e a sua renovação só acontece se for constatado nesse período mau comportamento ou se o Estado de origem fizer novo pedido com a devida justificativa, o que não foi feito.

Não à ajuda federal

Não é só o sistema prisional que deu as costas à ajuda federal. O governo catarinense descarta o apoio oferecido pelo Ministério da Justiça desde de novembro de 2012, durante a primeira onda de atentados.

Além de vagas para transferência de presos, o Estado recusou a vinda da Força Nacional de Segurança, tropa de elite de policias especializados em atuar em situações de crises, responsável por mudar o quadro de conflito nos morros do Rio de Janeiro.

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A chegada poderia amenizar o crônico déficit de efetivo nas polícias Militar e Civil de Santa Catarina. Também reduziria as queixas de falta de equipamentos, como coletes e armamento pesado.

A resposta negativa também foi dada para a oferta da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT), de ajuda no setor de inteligência e compartilhamento de dados.

O governo catarinense justifica que as forças estaduais poderiam controlar a situação. Nos bastidores, o cenário político estadual seria um dos motivos. O governador Raimundo Colombo é de outro partido, o PSD. E Ideli foi adversária dele na eleição de 2010. Embora não admitam, as decisões podem influenciar na corrida eleitoral ao governo do Estado em 2014.

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A vinda de tropas federais também poderia ser caracterizada como uma falta de capacidade do governo em gerenciar as crises.

Relembre os ataques mais recentes:

Os ataques recomeçaram às 22h de quarta-feira, em Balneário Camboriú, também com um ônibus como alvo. Dois homens armados renderam o motorista, na Rua Dom Henrique, e atearam fogo ao veículo. Os bandidos usavam máscaras do filme Pânico. Um suspeito foi baleado, mas fugiu. O outro foi preso.

Uma hora depois, um ônibus da empresa Rodovel foi incendiado no Bairro Bela Vista, em Gaspar. Vinte minutos depois, no Bairro Figueira, outro veículo foi alvo dos criminosos.

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Quase no mesmo horário, em Itajaí, um bar e mercearia localizado no Bairro Cordeiros, em Itajaí, também pode ter sido alvo. De acordo com testemunhas, garotos de bicicleta passaram pelo local na noite de quarta-feira, jogaram garrafas pet com gasolina e depois atearam fogo.

Confira o mapa das ações criminosas desde quarta-feira:

Visualizar Atentados em SC – 2013 em um mapa maior

Ainda em Itajaí, uma viatura da Coordenadoria de Trânsito da prefeitura foi incendiado por volta de 1h30min. O veículo estava no pátio da Secretaria Municipal de Segurança, na Rua Blumenau, quando alguém passou de carro e jogou um coquetel molotov.

Segunda noite de ataques

A delegacia de Camboriú foi atacada e o local isolado depois que uma granada caseira, feita com cano de PVC, foi arremessada. O objeto, que não chegou a explodir, foi encontrado em frente ao muro da delegacia. O fato ocorreu por volta das 23h30.

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Cerca de uma hora antes, o incêndio criminoso de um ônibus no Bairro João Paulo, às 22h30min de quinta-feira colocou Florianópolis no cenário da retomada dos atentados terroristas em Santa Catarina. Dois rapazes fugiram em uma moto. Suspeitos de terem participado do crime foram detidos ainda durante a madrugada pela PM. Um deles tinha 23 anos e o outro era um menor, de 17 anos.

::: Confira a galeria de fotos dos atentados em Santa Catarina

Passava das 23h30 quando dois ônibus foram atacados em Palhoça. Um deles era da APAE de Balneário Camboriú que aguardava adesivagem e teve os pneus queimados. O outro, um veículo de turismo, foi queimado próximo a garagem da empresa Jotur.

No Norte da Ilha, dois ônibus da empresa Canasvieiras também foram incendiados por volta de 23h40min. Um atentado aconteceu na estrada Dário Manoel Cardoso, na praia dos Ingleses – onde um rapaz sofreu queimaduras de segundo grau – e outro foi na Rodovia João Gualberto Soares, na localidade do Canto do Lamim. O rapaz de 19 anos foi levado para o Hospital Celso Ramos em estado grave.

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A madrugada de ataques terminou por volta das 5h quando uma base da Polícia Militar, em Canasvieiras, foi incendiada. De acordo com testemunhas, quatro rapazes teriam praticado o crime.

Órgãos de Segurança Pública passaram a sexta-feira em reuniões para tentar controlar a nova onda de atentados. As empresas de ônibus reduziram algumas linhas.

Transferências de líderes da facção pode estar por trás da série de ataques. O Comando Geral da Polícia Militar nega qualquer relação com ocorrido em novembro de 2012 ou com o PGC.

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Clima de tensão na Capital

Pela Avenida Beira-Mar Norte, a principal da Capital, veículos com sirene aberta passavam de um lado a outro, a toda velocidade, com giroflex acionados. O voo do helicóptero por sobre os prédios também compunha o cenário que confirmava o reinício da onda de ataques do crime organizado.

Uma das barreiras foi montada

na Avenida Mauro Ramos

Foto: Cristiano Estrela/Agência RBS

Em pelo menos quatro pontos da cidade havia fiscalização militar na Capital na madrugada de sexta-feira. Embora não admitam que é uma estrategia para responder mais rapidamente a atentados em Florianópolis, os PMs realizaram, quatro barreiras na cidade, na ponte Pedro Ivo Campos, na Prainha, no bairro Agronômica e na Avenida Mauro Ramos.

Prisões

Até as 21h desta sexta-feira, pelo menos 11 pessoas foram detidas, suspeitas de envolvimento nos ataques. Destes, sete são menores de idade. No celular de um dos presos foi encontrada uma mensagem que autorizava os atentados.

Transporte público

Em uma reunião na tarde desta sexta, Setuf (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros da Grande Florianópolis) e Polícia Militar decidiram que, por medida de segurança, os ônibus devem circular normalmente só até às 19h30 desta sexta-feira . Depois deste horário, apenas algumas linhas devem cumprir seus itinerários com escolta policial. No sábado e no domingo, o esquema continua e os ônibus devem circular até às 21h.