A estrutura da fábrica da BMW ainda ganha forma em Araquari, mas o trabalho de pelo menos 180 profissionais que vão atuar na unidade, de onde sairão os primeiros automóveis de luxo da montadora alemã fabricados no País, já começou. Na central de distribuição da BMW no Brasil, que fica no Perini Business Park, em Joinville, um galpão de 800 m² foi transformado em uma réplica da linha de montagem, com a mesma aparelhagem e controle de qualidade de outras filiais pelo mundo.

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É nesse espaço que acontece o “intercâmbio profissional” dos novos funcionários da BMW com instrutores alemães que, movidos a muito diálogo e troca de experiências, alinham os procedimentos para, todos os dias, montarem, estudarem e desmontarem 96 carros da marca disponíveis na unidade.

A rígida capacitação é uma solução encontrada pela montadora para compensar a pouca oferta de mão de obra especializada no setor automotivo na região, explica a diretora de recursos humanos da BMW no Brasil, Betina Kraus.

– Só assim teremos um profissional totalmente apto a entrar na linha de montagem e alcançar o nível de excelência exigido pela companhia – conta.

Como funciona

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No módulo de treinamento, uma equipe de cerca de cem pessoas se espalha entre as carrocerias dos veículos nas mais diversas funções. Dessa equipe, 80 profissionais estão sendo preparados para assumir a função de supervisores. Eles vão ter os papéis mais importantes quando a fábrica entrar de vez em operação, pois irão liderar seus próprios grupos dentro do processo de montagem. Para orientar esses futuros líderes, dez instrutores alemães acompanham passo a passo a construção de cada automóvel.

– Esses treinadores são as pessoas com maior experiência na engenharia dos veículos. São eles que definem quando, onde e como cada uma das etapas deve acontecer, e passam isso para os aprendizes – explica Betina.

O processo, dividido em mais de 50 estações de trabalho, começa apenas com o chassi e a carroceria dos veículos, que ao longo do dia vão ganhando forma e design. As portas dos carros são removidas logo no começo da montagem para facilitar o acesso dos técnicos ao interior do veículo durante o trabalho e evitar o desgaste das dobradiças. Elas só voltam para o carro nas últimas etapas.

Nesse meio tempo, a carcaça recebe o bloco do motor, as rodas, toda a parte interna do veículo, o cockpit – que envolve o painel frontal -, o chamado “chicote elétrico” – onde todos os componentes eletrônicos são instalados – até, finalmente, passar pelo startup, quando o motor ronca pela primeira vez desde o começo da montagem.

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Neste estágio, as mais de dez mil peças utilizadas no processo, que chegaram ao País pelos portos de Navegantes e Itapoá, já se transformaram em um BMW CL3 ou X1, os dois primeiros modelos que serão produzidos em Araquari. Depois, eles ganham os últimos retoques antes de, finalizados, irem para o estacionamento e entrarem na fila para a desmontagem no dia seguinte.

Comunicação e organização

Neste primeiro momento, o foco da BMW é a qualidade, não a quantidade. Não existe uma cobrança quanto ao número de carros montados e desmontados, já que o importante é o aprimoramento da experiência do funcionário e da comunicação com as equipes, explica Betina.

– A BMW está fazendo um investimento alto para garantir que a montadora de Araquari tenha o mesmo padrão de qualidade do resto do mundo. A ideia é garantir que essas pessoas estejam plenamente capacitadas para entrar na linha de produção quando a fábrica ficar pronta – lembra ela.

Para quebrar a barreira de comunicação entre alemães e brasileiros, a empresa recrutou intérprete.

– Assim, cada um dos dez treinadores tem o suporte de um tradutor. A maioria é professor de alemão. Há, também, pessoas com conhecimento do idioma – explica.

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Rompido o obstáculo da língua, o próximo desafio foi organizar as equipes e funcionários entre as várias funções. Dessa forma, foi estipulada a diferenciação na cor dos uniformes, separando as equipes entre profissionais de logística, montadores, responsáveis pela carroceria, controle de qualidade, tradutores e treinadores.

Planejamento a longo prazo

Com 180 funcionários já contratados e mais 740 previstos até o final de 2014, a BMW pretende ter um quadro de pelo menos 1,3 mil profissionais no primeiro trimestre de 2015, quando a montadora vai estar com a planta operando com 100% de sua capacidade.

No mundo inteiro, a BMW tem 110 mil colaboradores. Para Betina, referência do grupo no Brasil na relação com os funcionários, estes são números que estão alinhados com a política de trabalho da BMW, que tem por princípio pensar em um relacionamento de longo prazo.

– Globalmente, a empresa se caracteriza pelo baixo turnover. Não gostamos de contratar e demitir por causa da sazonalidade, por isso dimensionamos o quadro para aguentar a alta e a baixa demanda, uma questão de planejamento – explica a diretora de recursos humanos.

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Nascida na Alemanha, Betina diz que já conhece o Brasil o suficiente para ter boas projeções para o futuro da empresa no País.

– O brasileiro é naturalmente entusiasta e propenso ao diálogo. É uma cultura que tem paixão por fazer. O alemão é planejador por natureza e, assim como o brasileiro, tem sede por mudanças. Acho que vamos conseguir juntar o melhor das duas culturas aqui em Santa Catarina e fazer da BMW um ambiente apaixonante de se trabalhar.

Obras a todo vapor

Quem passa pelas margens do km 66 da BR-101 em Araquari já se depara com boa parte da estrutura da fábrica da BMW de pé em um terreno de 1,5 milhão de m². No local, é intenso o movimento de tratores e máquinas. A obra, segundo a montadora, ficará pronta em setembro.

A planta terá capacidade para produzir até 32 mil veículos por ano – volume que pode aumentar, dependendo da demanda do mercado. O investimento é de 200 milhões de euros.

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