A pavimentação vive praticamente uma década perdida em Joinville, com avanços mínimos para reduzir uma das maiores deficiências em infraestrutura básica da cidade, ao lado do tratamento do esgoto. Mas enquanto o saneamento tem recebido investimentos pesados, com perspectiva de multiplicar a cobertura nos próximos anos, o drama dos 722 quilômetros de vias sem asfalto ainda não tem data para acabar.
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Em um recuo histórico não muito distante, Joinville viveu um certo boom do asfalto entre a metade dos anos 1990 e o final da década passada. Nesse intervalo de 15 anos, foram quase 530 quilômetros pavimentados. Na conta, não estão incluídos os recapeamentos.
No período, foi feita praticamente a metade da pavimentação da cidade. Zerar o déficit não parecia tão distante assim. Só que nos últimos anos, um misto de queda na capacidade de investimentos, aliada à maior dificuldade de conquistar dinheiro fora, fez despencar a velocidade da pavimentação, circunstância que não deve se alterar tão cedo.
A atual administração, com primeiro mandato iniciado em 2013, tinha a meta inicial de pavimentar 300 quilômetros em quatro anos, marca jamais atingida em um mandato só (o máximo em quatro anos foram os 203 quilômetros entre 1995 e 1998). Além de não ter sido atingida, a marca ficou bem abaixo da de governos anteriores. Em levantamento de maio passado, a cidade ganhou apenas 37,7 quilômetros de pavimentação nova (asfalto e lajotas) desde 2013. No balanço, estão incluídas as obras realizadas pelo governo do Estado. Os recapes chegaram perto de 40 quilômetros.
A alegação do governo Udo Döhler para o desempenho foi o mantra habitual para qualquer cobrança não atendida, de “priorizar o pagamento em dia dos salários dos servidores”, além de “manter investimentos em saúde e educação”. Nesse cenário, sobrou para a pavimentação ficar com uma fatia mínima de investimentos.
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Os planos de pavimentação da prefeitura mapearam trechos de mais de 70 ruas distribuídas em oito licitações já concluídas. Uma parte do roteiro já foi cumprida, mas devido à falta de dinheiro há ruas na fila desde 2015. Só que ainda aguardam por liberação de recursos. Ou seja, um dia serão feitas, só não se sabe quando.
A aposta comunitária
A pavimentação comunitária é uma das ações em andamento para enfrentar o déficit de pavimentação de Joinville. Pelas regras do programa, se os moradores aceitarem, a prefeitura se encarrega da drenagem e sub-base, e a comunidade banca a cobertura. Na maioria dos casos, a opção é pelo revestimento com lajotas, afinal, se tratam de trechos de ruas sem grande movimento (não são linhas do transporte coletivo) ou se localizam em área de aclives. Há partes em andamento. Desse trabalho mais fragmentado, espalhado pelos bairros, é o que há de mais consistente para ampliar a cobertura da pavimentação.
Só 60% moram em vias com infraestrutura
O último Censo do IBGE mostrou, por meio da comparação com outras cidades, a dimensão da deficiência de falta de pavimentação em Joinville. Na cidade, apenas 60% da população mora em vias pavimentadas. Ainda que o asfaltamento não tenha avançado de forma consistente nos últimos anos, o índice de pessoas residindo em locais com ruas com revestimento aumentou depois do Censo 2010 por causa da verticalização, com a construção de mais prédios em áreas com mais infraestrutura. Ainda assim, a condição de Joinville é comparativamente deficiente.
Entre os 5,5 mil municípios do país, Joinville ficou em 4.118o lugar na proporção de população com pavimentação. Florianópolis chegou perto de 90% e Blumenau marcou 80%. As cidades brasileiras com população equivalente a Joinville, Londrina e Juiz de Fora, aproximam-se dos 100%, uma marca utópica para o município mais populoso de Santa Catarina.
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Sem prazo para deslanchar
Um dos programas mais ambiciosos da prefeitura de Joinville em mobilidade, com investimentos também em pavimentação, acabou não deslanchando. Assinado no início de 2015, o financiamento de R$ 100 milhões pelo PAC só teve uma das obras previstas, a revitalização da rua São Paulo, uma das ligações da zona Sul com o Centro. Com a demora para o lançamento das demais concorrências, os projetos ficaram com os custos desatualizados e agora estão sendo refeitos. Além disso, o pacote está sendo renegociado porque a prefeitura está com dificuldades para bancar a sua parte, a contrapartida. Portanto, as obras ainda vão levar um tempo para sair da prancheta.
Nada de usina
Um dos temas da campanha eleitoral, a ativação de uma usina de produção de asfalto (foto acima), é descartada pela prefeitura de Joinville. Haveria necessidade de um fluxo contínuo de recursos para manter a estrutura em funcionamento, com risco de paralisação em caso de falta de dinheiro – mas o custo para manter a estação, como a despesa com pessoal, manteria-se. Joinville já contou com usina própria, desativada nos anos 1990 por causa de questões ambientais. O imóvel foi vendido há 20 anos para o Ipreville, o instituto de previdência municipal e, em troca, a prefeitura paga aluguel mensal de R$ 27 mil para usar a área. Mesmo que não seja produzida um grama de asfalto.
Pedidos na Câmara
Um dos termômetros da demanda por revestimento nas ruas de Joinville aparece na Câmara de Vereadores. Só neste ano, são 530 pedidos envolvendo pavimentação, desde asfaltamento de ruas de chão batido até reparos onde já há cobertura. Tais demandas se repetiam em anos anteriores. Quase a metade da demanda da cidade está nos bairros da zona Sul, com a área de abrangência das duas subprefeituras da região com 342 quilômetros de ruas de saibro. Mesmo nas áreas mais urbanizadas da cidade, no Centro e bairros da região Norte, a cobertura do asfalto e dos paralelepípedos não chega a 90% das ruas.
O desafio dos buracos
Mesmo a manutenção dos pouco mais de mil quilômetros com calçamento em Joinville é um desafio para a prefeitura. As maiores dificuldades ocorrem no período de chuvas, com a impossibilidade das operações tapa-buracos – rodovias estaduais que cruzam o município também enfrentam o mesmo problema. Além do clima, a falta de recursos impede a oferta de um número maior de equipes de conserto nas ruas. A atual administração garante ter contratado um número maior de funcionários terceirizados, mas os buracos continuam provocando queixas. São 1,06 mil km pavimentados em Joinville, quase 900 com asfalto.
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