O bioma da Mata Atlântica é composto não só pela fauna e pela flora, mas também por rios, córregos e lagos. Atenta à importância da preservação ambiental desses componentes, que impacta diretamente na qualidade de vida das cidades, a Fundação SOS Mata Atlântica divulgou nesta semana o estudo Observando os Rios 2018 – O retrato da qualidade da água nas bacias da Mata Atlântica. Em Santa Catarina, a qualidade do curso hídrico foi monitorada em 13 pontos, sendo que em 12 o resultado foi regular e em um foi ruim.

Continua depois da publicidade

O levantamento, cuja divulgação coincide com a Semana Mundial da Água, foi realizado nos municípios de Florianópolis e São José, entre março de 2017 e fevereiro de 2018. Os dados foram obtidos por meio de coletas e análises mensais de água realizadas por 10 grupos de voluntários do programa Observando os Rios, com supervisão técnica da Fundação SOS Mata Atlântica.

De acordo com a ONG ambiental brasileira, a qualidade da água avaliada no Estado catarinense não é boa e está longe do que a sociedade quer para os rios. Nenhum dos pontos analisados foi avaliado como bom ou ótimo. No geral, a condição regular obtida com base nos dados das análises nos dois ciclos de monitoramento permaneceu estável.

— Um único ponto de coleta, localizado na Lagoinha do Norte, apresentou perda de qualidade e passou de regular para ruim — afirma Gustavo Veronesi, coordenador técnico do programa Observando os Rios, da Fundação SOS Mata Atlântica.

O presidente da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), Alexandre Waltrick, diz que costuma acompanhar esse tipo de estudo. O levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica demonstra resultado semelhante às análises feitas recentemente pela agência reguladora estadual, que entrega essas informações às prefeituras e à Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) para posterior planejamento de ações reparadoras.

Continua depois da publicidade

— As cidades crescem na beira dos rios, porque precisam de água, mas sem planejamento. Há muita ligação de esgoto irregular. Só na vistoria que fizemos no rio do Braz, das 700 casas, 500 não eram ligadas corretamente à rede de saneamento básico, o que é um contrassenso, porque a população paga por isso — comenta.

Waltrick também lembra que, na semana passada, a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável concluiu e entregou à sociedade a Política Estadual de Recursos Hídricos, que até então o Estado não dispunha. O estudo, realizado ao longo de anos, indica, por exemplo, o que os rios catarinenses ainda podem ou não podem mais comportar e também define critérios de qualidade das águas.

Cenário nacional

Neste ciclo, foram avaliados 230 rios, córregos e lagos de bacias hidrográficas do bioma. Apenas 4,1% (12) dos 294 pontos de coleta avaliados possuem qualidade de água boa, enquanto 75,5% (222) estão em situação regular e 20,4% (60) com qualidade ruim ou péssima. O levantamento foi realizado em 102 municípios dos 17 estados da Mata Atlântica, além do Distrito Federal, entre março de 2017 e fevereiro de 2018.

Para Marcia Hirota, diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, esse levantamento é uma contribuição da sociedade, representada pelos voluntários do projeto engajados pela melhora dos rios de onde vivem e ao aprimoramento de políticas públicas que impactam na gestão da água limpa para todos.

Continua depois da publicidade

— Ao reconhecer os rios como espelhos da qualidade ambiental das cidades, regiões hidrográficas e países, conseguimos identificar rapidamente os valores da sua comunidade, a condição de saúde na bacia e de desenvolvimento — completa.

— Para que os indicadores reunidos nesse estudo possam se traduzir em metas progressivas de qualidade da água nos milhares de rios e mananciais das nossas bacias hidrográficas, é fundamental que a Política Nacional de Recursos Hídricos seja implementada em todo território nacional, de forma descentralizada e participativa, e que a norma que trata do enquadramento dos corpos d’água seja aprimorada, excluindo os rios de classe 4 [ruim] da legislação brasileira — conclui Malu Ribeiro, coordenadora do estudo e especialista em Água da Fundação SOS Mata Atlântica.

A classe 4 na prática permite a existência de rios mortos por ser extremamente permissiva em relação a poluentes e mantém muitos em condição de qualidade péssima ou ruim, indisponíveis para usos, segundo a fundação.

Os rios avaliados em Santa Catarina

De acordo com o levantamento, 92,3% dos rios analisados têm qualidade da água regular e 7,7% ruins. Veja:

Continua depois da publicidade

Município – Grupo – Corpo d’água – IQA (índice de qualidade da água) 2018

Florianópolis – Foz do Rio do Noca/Riozinho do Campeche – Campeche – Regular

Florianópolis – Tavares 1 – Tavares – Regular

Florianópolis – Tavares 2 – Tavares – Regular

Florianópolis – Itacorubi – Itacorubi – Regular

Florianópolis – EE Paulo Fontes e EE Virgílio Várzea – Papaquara – Regular

Florianópolis – Capivari – Capivari – Regular

Florianópolis – Santinho – Rio da Lagoa do Jacaré – Regular

Florianópolis – Rio do Bráz – Brás – Regular

Florianópolis – IEATA 1 – Lagoinha do Norte – Ruim

Florianópolis – IEATA 2 – Rio do Mangue – Regular

Florianópolis – Sangradouro – Sangradouro – Regular

São José – Escola do Meio Ambiente de São José 1 – Forquilhas – Regular

São José – Escola do Meio Ambiente de São José 2 – Afluente do Forquilhas – Regular

Legenda

Regular: Aproveitável para harmonia paisagística, navegação, dessedentação de animais, irrigação, pesca e recreação de contato secundário. Abastecimento para consumo humano só é possível após tratamento convencional ou avançado.

Ruim: Aproveitável apenas para navegação e harmonia paisagística.

Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica

Leia também:

UFSC recruta voluntários para estudo com exercício físico supervisionado

Enem 2018 terá 30 minutos a mais para prova de exatas

“Tem que estar relacionado ao projeto pedagógico”, diz Deschamps sobre aulas à distância no ensino médio