A tarde do segundo dia do julgamento dos três acusados de matar o pedreiro Gelson Aparecido de Souza e os filhos, então com cinco e nove anos, em janeiro de 2012, deu sequência aos debates entre acusação e defesa.

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O primeiro advogado a falar, na defesa de Everaldo Rosa Nunes (o Lalau) e Jeferson Nunes, foi Marcelo Madeira Cunha. Ele concordou que Gelson e os filhos teriam sido assassinados no dia 9 de janeiro de 2012, mas recusou a denúncia de que seus clientes estivessem no local do fato, no momento do crime bárbaro que chocou Palhoça.

O principal argumento é de que Lalau, que na denúncia aparece como condutor de um veículo vermelho que teria conduzido os assassinos até o galpão no Bairro Bela Vista, para depois dar fim às três pessoas, não sabia dirigir e nem tinha carro. O carro seria do dono do restaurante, que levava as marmitas para o pedreiro Gelson, sempre no horário do almoço.

Disse também, a partir de depoimentos coletados pela polícia civil dias após o crime, que o único que estaria no local, naquele horário, por trabalhar com Gelson, era um adolescente contratado recentemente.

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O promotor Alexandre Carrinho Muniz rebateu, questionando se a defesa estava incriminando outras pessoas.

– Eu só sei que Everaldo e Jeferson não estavam no local e tudo pode ser possível. A desavença entre Lalau e Gelson, que teria causado o crime, foi quatro meses antes daquela segunda-feira – defendeu.

Foi na mesma linha o segundo advogado de Jeferson e Everaldo, o defensor José Nilo. De forma enérgica, chegando a discutir acaloradamente com o promotor, sendo ambos contidos pela juíza Carolina Ranzolin Nerbass Fretta.

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– Não há provas de que os réus estavam no local do crime, mas vários depoimentos divergentes de pessoas sem credibilidade – concluiu, referindo-se ao inquérito policial e a investigação do Ministério Público.

O último a ter a palavra foi o advogado de Rogério Vas de Souza, Celso Souza Lins. Ele defendeu que o acusado de ter matado as duas crianças no dia do crime é “pobre, pobre, pobre” e não tinha motivação para o assassinato.

– Ele convivia com a vítima, era grato por ter sido ajudado pelo Gelson em várias vezes. Não há provas que colocam ele na cena do crime. Ele é um coitado e se diz inocente – disse o advogado, que estudou o caso, mas ouviu Rogério apenas duas vezes antes do júri.

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A sessão foi suspensa às 15h20min.

Promotor pediu a “pena de morte”

Durante sua fala, o promotor Alexandre Carrinho Muniz pediu a pena máxima para Rogério Vas de Souza, Everaldo Rosa Nunes (o Lalau) e Jeferson Nunes, acusados de homicídio triplamente qualificado, corrupção de menores (pelo envolvimento de três adolescentes) e furto.

– Se eu pudesse, pedia a pena de morte para estes três, pois eles não mataram só aquelas crianças, mataram as nossas crianças – argumentou, diante dos jurados.

Entre as evidências exibidas pelo promotor estavam as fotografias dos cadáveres, feitas no local do crime. As imagens geraram comoção entre os familiares, e a irmã de Gelson, Josi Aparecido dos Santos, teve que sair da sessão para se recuperar. Uma jurada também chorou, e a exibição de mais fotos foi cancelada em seguida pelo próprio promotor para evitar mais desconforto.

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O crime teria sido motivado por uma câmera de segurança, instalada na residência de Gelson, e que teria atrapalhado o tráfico de drogas de Everaldo no Bairro Bom Viver, em São José. As vítimas foram mortas com golpes de pé de cabra no local de trabalho do pedreiro, um Galpão em construção no Bairro Bela Vista, em Palhoça, às margens da BR-282.

Para o promotor, há provas suficientes para incriminá-los. Os jurados tiveram contato com trechos da acariação feita pela Polícia Civil e imagens da reconstituição, além de partes de depoimentos prestados pelos adolescentes.

– Os maiores foram os autores do crime e os adolescentes foram coadjuvantes – constatou o promotor.

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A partir das provas, a acusação buscou desconstruir a hipótese dos advogados de defesa de que as confissões coletadas pelos envolvidos – Everaldo e Jeferson não se manifestaram – teria sido obtidas por tortura.

– Querem jogar o trabalho da Polícia do lixo.

1º Dia de Julgamento

Durante o dia de ontem, as testemunhas de acusação e defesa foram ouvidas e os acusados foram interrogados. Os réus Rogério Vas de Souza, Jeferson Nunes e Everaldo Rosa Nunes negaram o crime. O traficante argumentou que o verdadeiro culpado está solto. Já Rogério disse que confirmou na época sob tortura uma versão inventada pela Polícia Civil.

Um médico legista prestou esclarecimento no júri e disse que os ferimentos encontrados em Rogério poderiam ter ocorrido em qualquer circunstância e que não havia como provar se coincidiam com a data da suposta agressão. As acusações de tortura foram refutadas pelos investigadores e quando o delegado Attilio Guaspari Filho contou como os corpos foram encontrados os familiares choraram bastante.

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Outro momento de emoção para quem conhecia Gelson e os filhos foi no depoimento da viúva Elenice dos Santos. Diversas vezes ela interrompeu sua fala, sem poder segurar as lágrimas.

Parentes e amigos dos acusados também se fizeram presentes. Durante o interrogatório de Rogério Vas de Souza, sua mãe Osmarina Rosa não se conteve e se retirou do plenário. Ele foi o último a se defender. Às 21h40 minutos, a juíza Carolina Ranzolin Nerbass Fretta suspendeu a sessão.

Réus declararam-se inocentes

No interrogatório de quinta-feira, os três réus foram interrogados. Cada um foi questionado pela juíza, o promotor e os advogados de defesa Marcelo Madeira Cunha e Celso Souza Lins por cerca de 40 minutos, e todos negaram participação nos crimes. Everaldo Alves de Nunes, o Lalau, contesta a acusação de que ele seria o mandante do crime e negou ser traficante, conforme aponta a investigação.

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– Se eu fosse culpado, eu ia dizer a verdade. Não posso falar uma coisa que não fiz, enquanto a pessoa que fez está solta – disse, sem apontar qualquer outra pessoa.

Já Rogério, que trabalhava com Gelson, frequentava a casa da vítima e era próximo dos dois filhos assassinados, nega a acusação de ter matado as duas crianças com golpes de pé de cabra.

– Ele sempre me deu de tudo. O Gelson eu conhecia, me ajudava, era humilde, mandava carne assada lá pra casa. Era como um pai pra mim. Eu gostava de brincar com as crianças.

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A defesa de Rogério afirma que ele tenha sido coagido a confessar o crime e apontar os outros dois culpados, mas a tese não foi confirmada pelo médico legista do IML que prestou depoimento ontem. Segundo o especialista, não seria possível definir se os machucados encontrados no réu classificariam tortura, e nem há quanto tempo teriam acontecido.

Jeferson Nunes, 22 anos, sobrinho de Lalau, também afirmou ter sido torturado. Assim com o tio, manteve-se em silencio até o julgamento. No crime, ele teria participado diretamente na armação do crime e na morte de Gelson, no segundo piso do galpão. Confessou no júri ser usuário de maconha, mas negou vender drogas a mando de Lalau.

– Não fui eu. Não sei porque me acusaram. A família (das vítimas) falou para os policiais que o Lalau tinha uma desavença. Nunca vendi drogas. Só usava. Fui agredido. O policial torceu meu pé, me deu choque e começaram a me torturar.

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