A manhã de julgamento dos três acusados de assassinar a golpes de pé de cabra o pedreiro Gelson Aparecido de Souza e os dois filhos de 5 e 9 anos, Gean e Victor, em janeiro de 2012, foi marcada pelo depoimento dos dois policiais que investigaram o caso desde o ano passado.

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Rogério Vas de Souza, Everaldo Rosa Nunes e Jeferson Nunes são suspeitos de homicídio triplamente qualificado, corrupção de menores (pelo envolvimento de três adolescentes) e furto. O crime teria sido motivado por uma câmera de segurança, instalada na residência de Gelson, e que teria atrapalhado os “negócios” de Everaldo, conhecido como Lalau, traficante de drogas no Bairro Bom Viver, em São José.

Os suspeitos chegaram ao Fórum por volta das 9h30 com escolta da Polícia Militar, e em seguida a juíza Carolina Ranzolin Nerbass Fretta deu início ao procedimento de sorteio dos sete jurados que devem auxiliar na decisão.

Um médico legista do IML que realizou o exame de corpo e delito em Rogério Vas de Souza foi chamado como a primeira testemunha de defesa, por volta das 10h. A defesa do réu afirmou que o acusado foi agredido e teria confessado o crime sob coação da polícia. O depoimento durou cerca de 20 minutos, e a conclusão da testemunha foi de que não seria possível definir se os machucados encontrados no réu classificariam tortura, conforme intencionava a defesa, e nem há quanto tempo teriam acontecido.

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Em seguida, o delegado Attílio Guaspari Filho, responsável pelo inquérito, foi chamado para ser a primeira testemunha de acusação. O policial negou a tortura, e ao fim do depoimento de 40 minutos, afirmou que este foi um dos crimes mais chocantes que já viu em sua carreira.

Nunca, na minha carreira, havia visto um crime tão hediondo. Acabou com uma família , afirmou o delegado.

A segunda testemunha da acusação, o investigador Gabriel Palma, foi chamada para depor por volta das 11h15. Palma acompanhou a investigação e foi questionado pela defesa sobre o celular do qual o réu Rogério Vas de Souza é acusado de ter furtado, junto com a carteira e o relógio de Gelson. Nenhum dos itens foi encontrado pela polícia, mas o rastreamento das últimas ligações apontou para uma loja de materiais de construção, um restaurante e a própria esposa da vítima.

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Acredito que quem pegou o celular o destruiu ou o jogou fora , afirmou o investigador.

Entenda o julgamento:

O julgamento – Rogério Vas da Silva, Everaldo Rosa Nunes e Jeferson Nunes começaram a ser julgados nesta quinta, às 9h30, no Fórum da Comarca de Palhoça _ Rua Vereador Bernardino M Machado, na Praia de Fora _, acusados por homicídio triplamente qualificado, corrupção de menores e furto (somente Rogério Vas da Silva), na morte do pedreiro Gelson Aparecido de Souza e dos filhos Gean e Victor.

O crime – Gelson era pedreiro e trabalhava como mestre de obras no galpão onde foi assassinado no segundo piso a golpes de pé de cabra, às 11h do dia 9 de janeiro de 2012, na área industrial do Bairro Bela Vista, em Palhoça. Os dois meninos, um com 9 e outro com cinco anos, morreram em seguida, com a mesma ferramenta, no pátio inferior do galpão. O motivo teria sido uma câmera de segurança instalada na residência de Gelson, para controlar entrada e saída de clientes do salão da esposa, e que estaria atrapalhando os “negócios” de Everaldo Rosa Nunes, traficante do Bairro Bem Viver, em São José.

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Gelson Aparecido de Souza, então com 32 anos, era o segundo de quatro irmãos, natural de Lages-SC, e morava no Bairro Morar Bem, em São José. Estava no terceiro casamento e era pai de Gean, 9, e Victor, 5, ambos mortos minutos depois, no mesmo local. Era tido como uma pessoa honesta, trabalhadora e prestativo para ajudar os demais. “Vivia pelos dois filhos”, disse o irmão mais velho, Geso Aparecido.

Gean Victor dos Santos de Souza e Victor Henrique Pereira, filhos de Gelson com mães diferentes, estavam sob os cuidados do pai durante as férias escolares. Brincavam próximo ao galpão, a espera do almoço, quando foram atacados por Rogério Vas da Silva, ajudado por um adolescente. Na confissão, após ter sido detido no dia 13 de janeiro de 2012, o assassino teria justificado a morte dos dois garotos para não ser reconhecido mais tarde.

Rogério Vas da Silva, 22 anos, teria recebido R$ 350,00 de Everaldo Rosa Nunes, o Lalau, para ajudar a matar o pedreiro Gelson e os dois filhos. Enquanto Everaldo Rosa Nunes, Jeferson Nunes e mais dois adolescentes davam fim a vida de Gelson, no segundo andar do galpão, Rogério matou os dois garotos, com a ajuda de mais um adolescente. Em seguida, subiu até o segundo andar, onde teria furtado a carteira e o celular da vítima. Se condenado, pode pegar, no mínimo, 12 anos de prisão.

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Everaldo Rosa Nunes, o Lalau, 32 anos, tinha passagens por tráfico de drogas e outros crimes e era vizinho da vítima. A ideia de matar Gelson teria partido de Lalau, segundo inquérito policial. Reconhecido por venda de drogas no Bairro Morar Bem, em São José, ficou incomodado pelo fato de Gelson ter colocado uma câmera de segurança na entrada de casa. “Estaria atrapalhando os negócios”. Depois de ter feito uma ameaça e o pedreiro ter se negado a retirar o aparelho _ utilizado para controlar entrada e saída de clientes do salão de Lenice dos Santos, 31 anos _ planejou o assassinato. Pode pegar mais de 12 anos de prisão.

Jeferson Nunes, 22 anos, era servente de pedreiro e participou diretamente da morte de Gelson, no andar superior do galpão. Por homicídio triplamente qualificado e corrupção de menores, pode pegar, no mínimo, 12 anos, caso seja condenado hoje.

Juíza Carolina Ranzolin Nerbass Fretta – Vai ser responsável pela sentença ou absolvição dos acusados.

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Acusação – Está sendo representada pelo promotor Alexandre Carrinho Muniz, da 7ª Promotoria de Justiça da Comarca de Palhoça. A denúncia do Ministério Público foi apresentada no dia 22 de fevereiro de 2012 à partir de inquérito policial contra os três réus e mais três adolescentes, que foram sentenciados em 1º Grau em 29 de fevereiro do ano passado.

Defesa – O advogado Celso Souza Lins representa Rogério Vas da Silva e tem como estratégia, baseado em depoimento do acusado, de que ele teria sido forçado a confessar o crime. Ele alega também não estar no local no momento do crime. No caso de Everaldo e Jeferson, o advogado Marcelo Madeira Cunha defende que ambos não estavam no local do crime e não quis dar mais detalhes.