Os editores Marco Vasques e Rubens da Cunha lançam na terça-feira o Caixa de Pont[o] _ Jornal Brasileiro de Teatro, em versão impressa com distribuição gratuita de 3 mil exemplares.

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A iniciativa vem sendo esperada com entusiasmo pelo meio teatral, sedento por um oásis de produção de conhecimento acessível em meio ao terreno árido da cena teatral local. Mas a pergunta que não quer calar ao ler o primeiro número do jornal é: para quem?

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Definitivamente não se dirige ao público, mesmo porque cada vez menos gente vê teatro, e as pessoas comuns não têm as ferramentas adequadas para se envolver com textos especializados e muito longos, em um formato de característica ágil como o jornal. Poderia ser para os artistas e produtores se tivesse algo mais de reflexão sobre a experiência contemporânea, caminho apontado na entrevista com o artista que abre a edição e nas páginas de dramaturgia. Aos acadêmicos e estudantes, é o que parece mais acertado. O projeto tem mais a linha editorial de uma revista de estudos, só que impressa em papel jornal.

Seria lindo se fosse uma publicação para todos, mas a leitura desse primeiro número diz que não é assim e soa tão reverente ao passado que deixou em mim um tom melancólico. O nome do projeto já faz referência a uma coisa extinta: uma caixa no proscênio, na qual um membro da companhia – o ponto – ficava ditando textos aos atores em cena. É interessante para quem é de teatro, pois nos lembra de uma tradição que já acabou. Um fóssil de uma era jurássica do teatro literário de representação.

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Penso que o jornal poderia usar seu potencial latente para falar com o mundo real e apontar para o futuro, mesmo que o que esteja por vir nem seja mais teatro. Precisamos impedir que nosso trabalho vire um ritual de anciãos. O anacronismo vai contra o próprio sentido da expressão teatral na sociedade, depõe contra sua gênese atual, presente e efêmera.

Não me admira que um jovem ache teatro chato. Não podemos culpá-lo, para ele tudo aquilo é velho, falso e empolado. Acho que poderíamos pensar um teatro que seja ao mesmo tempo popular e íntimo, que dialogue com o nosso tempo, que dê um descanso aos mortos e ar- risque linguagens que despertem mil coisas em quem vê. Estamos todos órfãos do público, falando para nós mesmos, numa espiral ególatra que termina nessa nossa profunda solidão. Temos de voltar a ser relevantes se quisermos sobreviver. Penso nisso todos os dias quando acordo.

Seguirei a longa história que Caixa de Pont[o] terá. Acho que um veículo assim tem condições de difundir conhecimento e gerar movimento conectando- se à tradição, mas com aquela vocação juvenil de superá-la que faz as coisas se transformarem. E então refletir o tempo presente, olhar em frente e iluminar o cenário urgente que nos aguarda. Vou torcer para que ele se torne, como me faz acreditar as belas palavras do editorial do primeiro número, um documento sobre as coisas do nosso tempo.

Periodicidade

Neste ano serão lançados dois números. A partir de 2016, a tiragem será trimestral. Além dos exemplares impressos, após o lançamento, o periódico estará disponível no site

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Agende-se

O quê: lançamento de Caixa de Pont[o] _ Jornal Brasileiro de Teatro e do livro de poemas Curral, de Rubens da Cunha

Quando: terça-feira, às 19h

Onde: Bar Kibelândia (Rua Victor Meirelles, 98, Centro, Florianópolis)

Quanto: o livro custará R$ 15, e o jornal será distribuído gratuitamente