Há um receio, com toda a razão, por qualquer promessa do poder público. O cidadão não acredita quase em mais nada que venha dos políticos e dos governos. São obras inacabadas e com preços estratosféricos, o exemplo maior é a ponte Hercílio Luz. Maquetes, projetos apresentados em coquetéis com data-show, power point de marinas, de revitalização do aterro, de metrô de superfície e BRT. Até teleférico já foi lançado em Florianópolis. Nada disso saiu do papel.

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E por que agora seria diferente? Sou otimista e explico.

Primeiro, em função de já ter verba carimbada para a revitalização do centro histórico. Segundo porque o movimento Floripa Sustentável bancará parte do custo do contrato de consultoria com o escritório do dinamarquês Jan Gehl. Terceiro porque percebi um entusiasmo entre arquitetos, engenheiros, lideranças empresariais e servidores públicos de fazer com que a cidade cresça de forma ordenada, com menos burocracia e com desenvolvimento econômico.

Mas, para que tudo funcione, é fundamental que haja uma articulação eficiente entre governos, moradores, legislativo, órgãos de controle e entidades. O que se viu no parque temático daquilo que se considera o estado de bem-estar social dinamarquês, é que o interesse público está em primeiro lugar. É uma sociedade pactuada.

O empreendedor pode empreender, até dentro da água, se for o caso. Mas é o esquema ganha/ganha que prevalece. O empreendimento é fundamental para movimentar a economia, gerar emprego e renda. Mas precisa estar envolvido num contexto acordado com governo e sociedade.

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Essa é a diferença para o Brasil. Aqui, a romaria de carimbos, licenças e autorizações trazem um custo enorme no negócio. Em países desenvolvidos, o processo é o inverso. O pilar central é a confiança. As regras são claras. Há liberdade para fazer. Se não fizer certo, aí, certamente, haverá punição.

É preciso, entretanto, convencer as pessoas. Em Copenhague, nos anos 80, houve resistência quando começaram a restringir o uso dos carros em determinadas ruas. Nos anos 70 ninguém andava de bicicleta na cidade, segundo Helle Søholt – CEO do escritório Gehl de arquitetura.

Nos últimos 40 anos, a cada ano, 3 % dos estacionamentos somem na cidade e mais gente usa bicicleta ou transporte coletivo. Em 2019, 17 novas estações de metrô serão inauguradas. As escolas têm aula de como andar de bike. A polícia vai nos bairros para testar se as crianças já sabem se comportar no trânsito.

Florianópolis não vai ser Copenhague. A cidade escandinava tem mais densidade demográfica, é mais compactada e plana. Mas, usando o conceito de priorizar o contato com a água, o pedestre e o transporte coletivo, podemos, adaptando à nossa realidade regional, perseguir um modelo que deu certo.

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E pode dar aqui, por que não?

Modelo dinamarquês servirá de exemplo para revitalização do Centro da Capital