O escritório do arquiteto dinamarquês Jan Gehl vai desenvolver um projeto-piloto para a revitalização da área leste do centro histórico de Florianópolis. A contratação foi alinhada após visita técnica da missão liderada pelo movimento “Floripa Sustentável à Copenhague”, Dinamarca, que terminou na terça-feira.
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O urbanista é referência mundial em intervenções para tornar as cidades mais voltadas às pessoas. A lógica de seus trabalhos é priorizar o pedestre, o ciclista e o transporte coletivo. Restringir o espaço para os carros e ampliar calçadas permitindo a livre circulação de pedestres estão entre as ações propostas. Gehl trabalhou para a prefeitura de Copenhague e realizou projetos em Nova Iorque, Singapura, Londres, Melbourne e Estocolmo, entre outras metrópoles.
A consultoria custa 200 mil euros, cerca de R$ 1 milhão. A forma de pagamento ainda não está definida. O governo federal, via ministério do turismo, já empenhou R$ 2,3 milhões para o projeto Sapiens Centro, mas o dinheiro ainda não foi liberado devido à lei eleitoral. Deste recurso, 70% são para obras, restando assim, cerca de R$ 400 mil para consultoria.
O complemento seria bancado pelos empresários e entidades ligadas ao movimento Floripa Sustentável. A prefeitura da Capital também foi convidada a contribuir financeiramente, mas, em contrapartida, cederá os técnicos do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf).
O prazo para realização do projeto e sua execução é de 18 meses. A ideia é dar vida ao local, com ocupação do espaço, atração de startups e incentivo para jovens residirem na região.
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— Vamos começar com uma praça para se tornar um co-working aberto (escritório compartilhado), a sinalização digital e o fortalecimento do Cocreation Lab (pré-incubadora de economia criativa) que já existe no museu da escola catarinense — afirma o coordenador do Sapiens Centro, professor de design da UFSC, Salomão Ribas Gomes.
O diretor metropolitano do Ipuf, Michel Mittmann, explica que equipes locais serão mobilizadas para realizar atividades em conjunto com o escritório do Jan Ghel.
— É um trabalho de transferência de conhecimento feito com muitas mãos. Com equipes e arquitetos locais também, com o nosso olhar. O centro da capital tem boa infraestrutura, porém, pouca diversidade de uso. Existem os edifícios históricos, há potencial para a economia criativa, temos bares e restaurantes. Temos que ativar aquele lugar e reproduzir o modelo para outras regiões — conclui.
Renato Igor: reflexões de um viajante
Copenhague antes e depois da mudança
– Veja o que mudou na capital da Dinamarca após a implementação da política de priorizar pedestres, ciclistas e transporte coletivo, entre 1995 a 2017;
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– Emprego + 17%;
– População +19%;
– Deslocamentos internos +25%;
– Uso do carro -38%.
Modelo a ser seguido
O movimento Floripa Sustentável liderou uma missão técnica para Copenhague que terminou na última terça-feira. São arquitetos, engenheiros, empresários, lideranças de entidades e profissionais liberais que viajaram com o objetivo de conhecer um modelo de mobilidade urbana e desenvolvimento econômico que é referência mundial. Várias oficinas foram realizadas no escritório do urbanista dinamarquês Jan Gehl . A ideia é tornar Florianópolis mais amigável aos pedestres e ciclistas.
A seguir, um comparativo entre as realidades de Copenhague e Florianópolis:
Marinas
Copenhague – A cidade tem mais de 50 marinas. Elas estão espalhadas por seus canais naturais ou artificiais. O sistema aquaviário é utilizado tanto pelos barcos particulares de lazer como, também, para passeios turísticos e transporte coletivo.
Florianópolis – A capital possui 27 marinas e garagens náuticas, 18 estão legalizadas e nove em processo de legalização. Segundo o presidente da Associação Náutica Brasileira (Acatmar), Mané Ferrari, a legislação e a burocracia são as principais barreiras para construir e legalizar marinas. O projeto de uma grande marina na beira-mar norte com praça pública e restaurantes, lançado há dois anos, ainda não saiu do papel.
Ciclovias
Copenhague – Hoje, 55% da população do Copenhague usa a bicicleta ao menos uma vez ao dia. A cidade de 1, 2 milhão de habitantes raramente tem congestionamentos.
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Florianópolis – A grande dificuldade para o ciclista em Florianópolis é a falta de ciclovias e, consequentemente, o risco de circular entre os veículos.
Calçadões
Copenhague – Dezenas de ruas tiveram restrição para uso do carro. Estacionamentos viraram praças ou parques.
Florianópolis – O arquiteto e urbanista André Lima acredita que fora dos horários de pico as ruas Rafael Bandeira e Luis Delfino poderiam ter outro tipo de uso, com prioridade para pedestres e ciclistas. A prefeitura, com o projeto +Pedal, estima ampliar em dois anos, as ciclovias na cidade, dos atuais 90 quilômetros para 230 quilômetros.
Uso da Orla
Copenhague – É uma cidade voltada para o mar e seus canais naturais e artificiais, que cortam a cidade. Pode-se morar em casas flutuantes e colocar comércio sobre as águas, com equilíbrio, respeito às regras e interesse público.
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Florianópolis – A insegurança jurídica e a burocracia são os maiores empecilhos para se empreender ou construir na orla da capital, seja mar ou lagoa.