Depois de longas discussões na Assembleia Legislativa de Santa Catarina e nos tribunais – inclusive em Brasília -, a polêmica que envolve a atuação dos bombeiros militares e dos bombeiros voluntários está de volta onde mais interessa à população: no atendimento nas ruas.
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Nesta segunda-feira, uma decisão do prefeito de Araquari, João Pedro Woitexem (PMDB), pode reacender os ânimos entre as corporações. Por causa da chegada da BMW e de outras indústrias à cidade, o comando dos bombeiros militares decidiu instalar um quartel na região, com capacidade para fiscalizar, combater incêndios e fazer atendimentos de emergência, incluindo resgate de vítimas no trânsito.
O convênio é considerado pelos bombeiros voluntários como uma ameaça à existência da corporação.
– Eu não decidi nada ainda. Quero conversar com todo mundo na segunda. Vou ouvir, acima de tudo, a população da nossa cidade – diz o prefeito, consciente do peso da decisão que lhe caberá a partir desta semana.
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No encontro, marcado para as 14 horas na Prefeitura, devem participar o comando dos bombeiros voluntários, representantes dos bombeiros militares no Norte do Estado e representantes de entidades de Araquari.
A ideia é buscar um entendimento para que a cidade ganhe uma nova unidade dos bombeiros militares, sem deixar de garantir o funcionamento dos bombeiros voluntários – como ocorre em outras cidades, como São Francisco do Sul e Jaraguá do Sul.
Desta vez, não são só as vistorias que estão em jogo, mas o atendimento de emergência que vai da região do Itinga, em Joinville, passando pela ajuda à Autopista Litoral Sul na BR-101, quase todos os atendimentos de trânsito na BR-280 entre a BR-101 e o canal do Linguado, até afogamentos em rios da região.
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Prefeito quer corporações atuando em parceria
Se o convênio for aprovado, os bombeiros militares podem se instalar em um galpão na entrada da cidade. A expectativa é de que sejam instalados todos os serviços básicos, como ambulância, caminhão contra incêndio, carros de apoio e resgate no trânsito.
Em março, em entrevista ao “AN”, o comandante do Corpo de Bombeiros Militar de SC, Marcos de Oliveira, disse que não havia interesse em criar conflitos ou desativar bombeiros voluntários no Estado. Na sexta-feira, ele não atendeu aos telefonemas da reportagem para falar sobre a reunião. O entendimento entre as corporações é pouco provável.
Hoje, militares e voluntários têm parcerias para fazer as vistorias. Até pouco tempo, o trabalho em Araquari era feito por uma engenheira e parte dos recursos ficava com a corporação de voluntários.
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Segundo o prefeito, a expectativa é de que as duas corporações atuem na cidade sem prejuízo à população, à segurança e aos interessados em promover novos investimentos. Para garantir esse entendimento, ele conta com o apoio de vereadores, empresários e do deputado Darci de Matos.
As dificuldades dos voluntários na região
Embora estejam do mesmo lado que o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville na polêmica, as corporações de voluntários da região, especialmente Araquari, Balneário Barra do Sul e São Francisco do Sul, vivem momentos distintos. A dificuldade para atuar com equipamentos modernos e a falta de dinheiro para suprir necessidades básicas como combustível e viaturas em bom funcionamento são constantes.
Há duas semanas, a falta de um equipamento de proteção respiratória (conhecido como EPR), que custa entre R$ 5 mil e R$ 6 mil, pode ter atrapalhado o salvamento de um menino de dois anos em um incêndio em Balneário Barra do Sul. Ele acabou morrendo e os bombeiros voluntários terão de explicar a atuação durante o inquérito aberto pela Polícia Civil para apurar a morte.
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O ideal é que cada corporação tenha pelo menos dois EPRs, um para o bombeiro que precisa entrar na área atingida pelo fogo e a fumaça, e outro para um segundo homem, que fica de prontidão para agir. Mas claro que, quanto mais equipamentos, melhor.
Embora tenha passado por dificuldades na última década, ficando, inclusive, sem ambulância e viatura para socorro durante vários meses, os bombeiros de Araquari estão em um dos melhores momentos – em se tratando de infraestrutura.
A corporação é considerada modelo para múltiplos atendimentos – acidentes de trânsito, afogamentos, incêndios e os mais diversos atendimentos clínicos.
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Por causa da localização estratégica de Araquari, é comum ver a corporação atuando nas BRs 101 e 280, nos rios da região, na praia e até em bairros de Guaramirim, Barra Velha e na zona Sul de Joinville.
A corporação tem dois caminhões, um deles que nem sempre pega na primeira tentativa, e três ambulâncias consideradas de meia vida, ou seja, usadas e sem grandes recursos médicos ou tecnológicos.
– Não é uma disputa para fazer o atendimento. Quanto mais bombeiros salvarem vidas, melhor para todo mundo. O problema é que um convênio assim, só com os militares, pode acabar com um trabalho comunitário de 11 anos. O que vou dizer para estas pessoas que foram salvas ou que ajudaram a manter os bombeiros voluntários nesses anos? – diz o professor José Antônio Vázquez Jorge, que preside a corporação voluntária em Araquari.
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