Nascido dentro do Estádio Hercílio Luz, em Itajaí, Sérgio Roberto Boemer, 44 anos, é hoje zelador do Marcílio DIas. Ele mora ali com a irmã e o cunhado, e desde sempre tem outra companhia certa no campo e nas arquibancadas.

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Convivendo diariamente com os quero-queros que fazem do estádio um lar, seu Sérgio se tornou um amigo e protetor desses pássaros e seus filhotes. O que ele não esperava é que a presença das aves fosse virar, literalmente, um caso de polícia, como o que aconteceu sábado à tarde.

O jogo era válido pela terceira divisão do Campeonato Catarinense, entre o Navegantes Esporte Clube (NEC), que manda as partidas em Itajaí, e o Pinheiros de Garopaba. Ainda no primeiro tempo, o trio de arbitragem tirou do campo um ninho de quero-quero e espantou os animais para fora do gramado, para não prejudicar o andamento do jogo e garantir a segurança dos próprios pássaros.

No final da partida, os policiais militares que atuavam na segurança do estádio foram até a arbitragem e informaram que a atitude caracterizava um crime de menor potencial ofensivo, conforme legislação ambiental. Resultado: árbitro, bandeirinhas, o delegado do jogo e um gandula precisaram assinar um Termo Circunstanciado e vão responder judicialmente pela retirada do ninho.

– Aqui sempre teve quero-quero e nunca deu problema, essa foi a primeira vez. Até eu quase fui preso, porque fui buscar os ovos onde o juiz tinha deixado – lembra o zelador.

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Árbitro do duelo entre NEC e Pinheiros, Cinezio Mendes Junior apitava pela primeira vez em Itajaí, e também conta que nunca tinha passado por situação parecida. Ele afirma que retirou o ninho porque ele estava dentro de campo, e diz que fez isso para preservar os quero-queros de acidentes no gramado.

– Alguém ia acabar pisando nos ovos ou batendo nos quero-queros. Não não tinha conhecimento dessa lei e acho que a PM podia ter avisado a gente, e não ter falado só no fim do jogo – considera.

Inusitado

Outra cena inusitada envolvendo quero-queros no Hercílio Luz aconteceu na última quarta-feira, quando NEC e Inter de Lages se enfrentavam no estádio, também pela terceira divisão do Catarinense.

A certa altura do duelo, dois pássaros começaram a atacar o assistente Maycon Vieira, 22 anos, que se esquivou por várias vezes da “fúria” das aves e chegou a ser atingido por algumas bicadas nas costas. Segundo ele, a “perseguição” aconteceu durante toda a partida.

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– É complicado, tem que prestar atenção no jogo e nos quero-queros. O problema é que eles vêm em cima mesmo e beliscam. Já no primeiro minuto do jogo eu me assustei quando eles me atacaram – diz o bandeirinha.

Hoje existem pelo menos cinco quero-queros vivendo no Hercílio Luz, além dos três ovos que estão sendo chocados – isso quando os jogos de futebol deixam em paz os futuros pais de asas.

Fama de mau

l Os quero-queros são aves típicas da região Sul e gostam de campos abertos para fazerem seus ninhos. Por isto, não é surpresa encontrá-los chocando seus ovos em estádios

l A fama de malvados não foi conquistada à toa: dotados de esporões nas asas, eles partem para cima se identificam alguma possível ameaça à cria, e podem machucar

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l Para evitar stress entre os pássaros – e para quem está em volta – os ninhos até podem ser removidos, mas é preciso que isto seja feito com cuidado, e a transferência seja para um local que leve em conta o bem-estar do animal

l Como são animais silvestres, os quero-queros estão protegidos por lei. Maus-tratos às aves são considerados crime ambiental