Quando as finanças estão apertadas, até mesmo a solidariedade é testada. O terceiro setor é mais um dos afetados pela crise econômica enfrentada pelo país. Com as pessoas doando menos e os fundos públicos em queda livre na arrecadação, o trabalho desenvolvido pelas entidades assistenciais e ONGs de Blumenau também sofre com os efeitos da recessão. Demissão de funcionários e readequação das atividades oferecidas são algumas das alternativas encontradas para que as contas fechem no fim do mês.

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A queda nas doações espontâneas é a principal responsável pelo impacto negativo nas receitas do terceiro setor. A Associação Blumenauense de Amparo aos Menores (Abam) estima que as doações minguaram cerca de 20% nos últimos meses. Os projetos de captação de recursos, como feijoadas e pedágios, também sentem os efeitos da crise:

– Antes vendíamos 10 feijoadas para uma empresa. Hoje ela compra apenas uma para ajudar – explica o presidente da Abam, Pedro Prim.

::: Saiba como ajudar entidades assistenciais de Blumenau

A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Blumenau teve que demitir 16 funcionários nos últimos meses e não repôs as quatro vagas de ex-colaboradores que pediram demissão. Com 20 trabalhadores a menos no quadro funcional da entidade que atende 442 alunos de zero a 65 anos, a presidente Lorena Starke Schmidt garante que precisou remodelar o trabalho das equipes para não prejudicar o atendimento.

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– Ninguém mais tem dinheiro de sobra e as entidades sofrem com isso. Tivemos que enxugar a máquina pela saúde financeira da casa – constata Lorena.

O secretário de Desenvolvimento Social de Blumenau, Marcelo Althoff, garante que acompanha a situação de cada entidade. Técnicos da pasta visitam periodicamente as ONGs e auxiliam na resolução de problemas. Além disso, há um setor da secretaria que fiscaliza se as entidades estão cumprindo com as atividades acordadas nos convênios.

Para minimizar o impacto da crise financeira, Althoff diz que publicará em breve os editais que permitem que as entidades acessem os recursos do Fundo para Infância e Adolescência (FIA), mantido pelas empresas que optam por repassar parte do Imposto de Renda.

– Estamos acompanhando e preocupados, mas as entidades também precisam fazer o dever de casa de adequação. Acho que a maioria delas está fazendo – disse.

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Na avaliação do secretário, Blumenau possui casas que oferecem serviços específicos, como o auxílio aos deficientes visuais e auditivos. Por isso, afirma que também é interesse do poder público que as entidades ampliem o atendimento, o que poderá gerar aumento no repasse do incentivo.

O desafio de fechar as contas

Em alguns casos mais críticos, as entidades assistenciais dizem não ter recursos para demitir os funcionários, o que geraria um gasto extra com o pagamento dos direitos trabalhistas. É o caso enfrentado pela ONG São Roque e a Associação Blumenauense de Amigos dos Deficientes Auditivos (Abada), que alega já ter recorrido a bancos para sair do vermelho no fim do mês.

– Estamos bem longe de fechar as contas para manter os profissionais. Até o fim do ano estamos passando por um período de adequação. Se não conseguirmos seguir em frente até meados de julho, teremos que repensar toda a estrutura da Abada – projeta Nilva Gorete Fermollen, presidente da associação.

Para fechar as contas na Casa da Esperança a equipe diminuiu e uma cozinheira e dois professores foram demitidos desde o início do ano passado, quando a situação começou a piorar, de acordo com a presidente Elizabeth Rebellato. Segundo ela, as doações diminuíram entre 30% e 40% neste ano:

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– Percebo empresas e população receosas em fazer doações. Antes tínhamos mais grupos que ajudavam com a arrecadação de alimentos e isso reduziu, como reflexo da crise que estamos vivendo. Em geral, as pessoas preferem doar aquilo que têm em casa e não precisam comprar – avalia.