Se um dia você precisar usar quatro vagas do estacionamento do Terminal Rodoviário Harold Nielson, em Joinville, não vai conseguir. É que há pelo menos seis anos quatro carros foram abandonados pelos seus proprietários no estacionamento da rodoviária e permanecem lá desde então.

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O tempo exato de permanência de cada veículo é incerto porque a empresa que prestava atendimento no local fechou e houve perda de dados. O que se sabe é que eles estão lá no mínimo há seis anos.

O primeiro a ser deixado no local foi um Fiat Palio Fire com placas de Balneário Camboriú. Depois vieram um Chevrolet Monza, de Corupá; outro Fiat Palio, de Joinville; e um Ford Mondeo, com placas do Rio de Janeiro.

Os quatro veículos estão em processo adiantado de deterioração, com pneus murchos, lataria empoeirada, rabiscos nos vidros e placas amassadas, além de muitas partes enferrujadas. O curioso é que os proprietários desses veículos sequer foram identificados ou manifestaram interesse em voltar ao estacionamento para recuperá-los.

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O estacionamento da rodoviária de Joinville é pago e, se um carro é deixado no local durante um ano inteiro, o valor cobrado é de R$ 4.745. Isso significa que se o abandono já dura seis anos, o proprietário do veículo terá de desembolsar R$ 28.470 para reaver o bem. Essa quantia é apenas uma projeção, podendo ser bem maior, dependendo do tempo de permanência no local.

O agente administrativo da rodoviária, Murilo Grun, explica que a inoperância do sistema dificulta a localização. A solução foi retomar o processo manual de registro, mas a administração da rodoviária não conseguiu recuperar as informações dos proprietários. Segundo Murilo, recentemente o dono de um Gol esteve no estacionamento para buscar o carro que havia esquecido por mais de dois meses. Ele pagou R$ 1.027 pela estadia.

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Ação extrajudicial é alternativa

Para o advogado do Detrans, André Mafra, o estacionamento privado obedece ao contrato previsto no Código Civil brasileiro, que diz que quando se paga pelo estacionamento, o mesmo tem o dever de guardar o veículo.

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Se os donos não retirarem os carros após notificação, cabe ação extrajudicial que, em geral, encaminha os carros a leilão popular. Um dos veículos, o Palio, de Balneário Camboriú, está em processo judicial desde 2011.

Donos precisam ser avisados sobre a retirada

Segundo Saliba Nader, gerente de engenharia e projetos e atual administrador da rodoviária, foi solicitado ao Departamento de Trânsito (Detrans) de Joinville o fornecimento de dados dos donos dos carros para solicitar a retirada imediata dos veículos.

Ele explica que não pode simplesmente tirar os veículos sem comunicar os donos. Saliba afirma que fez uma consulta junto à Polícia Militar e constatou que os carros não são roubados.

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– Não posso simplesmente retirar os carros do estacionamento. Preciso entender o caso, saber o que aconteceu e ver se a pessoa planeja pegar o veículo – explica.

Romualdo França, coordenador de transporte da Seinfra, informa que contatos estão sendo feitos desde setembro do ano passado e que, se os carros não forem retirados, os proprietários serão notificados. França afirma que os quatro veículos estão com documentos atrasados e multas.

– A princípio, os carros não estão abandonados, pois é um estacionamento pago, mas só podemos tomar alguma decisão depois de sabermos o que aconteceu.

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Família ficou assustada com o valor

A monitora de fluxo do estacionamento da rodoviária, Vanessa Crespim, conta que é comum carros serem deixados no estacionamento da rodoviária por períodos longos. Os motivos mais comuns são viagens de ônibus e mudanças para outras cidades. Ela diz que um dos quatro veículos que são mantidos ali tem uma história diferente.

A família do dono do Palio, de Balneário Camboriú, entrou em contato com Vanessa em julho deste ano. Ela conta que, segundo a família, o dono do carro foi ao enterro da esposa em outra cidade e acabou morrendo. O valor do estacionamento, que chegava a quase R$ 30 mil, assustou os familiares do antigo dono do carro. Assim, é provável que o veículo permaneça estacionado no local por tempo indeterminado.

– Eles até apareceram, deram uma olhada no carro, mas como ele estava há muito tempo parado, a chave reserva já não abria mais a porta. Depois desse contato, eles nunca mais apareceram.

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Em fevereiro deste ano, outro fato curioso ocorreu no estacionamento da rodoviária. Um carro roubado foi deixado no local e, três dias depois, o dono o encontrou. Ele carregava consigo a chave reserva e mal acreditou quando passou em frente à rodoviária e viu o próprio veículo.

– Ele pagou os R$ 37 de estadia e levou o carro embora na hora – diz Vanessa.