A população carcerária catarinense divide-se quase que igualmente entre as unidades prisionais e as ruas. Dados divulgados ontem pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que 16,3 mil detentos estão nas cadeias e 14,4 mil no regime aberto ou em prisão domiciliar, o que representa 47% do total de 30.838 detidos.
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As estatísticas colocam Santa Catarina como quinto no ranking dos Estados com maior número de presos no Brasil. Na classificação dos detentos que estão fora dos presídios, o Estado fica em segundo lugar, apenas atrás de São Paulo, que tem 92.150 do outro lado das grades.
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O estudo do CNJ revela um panorama até então desconhecido pelos catarinenses, acuados nos últimos dois anos por ações criminosas que partiram de dentro dos presídios. Esta é a primeira vez que o conselho apresenta na estatística os dados incluindo o regime aberto e a prisão domiciliar.
Estão incluídos nesses quesitos, segundo o juiz auxiliar Alexandre Takaschima, da Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Estado, detentos que tiveram progressão de regime do fechado para o semiaberto e depois para o aberto. Também contam pessoas que cometeram crimes de menor potencial ofensivo e que cumpriam pena em cadeias mas apresentavam problemas de saúde ou estavam em idade avançada. No caso do regime aberto e da prisão domiciliar, a pessoa tem restrição de direitos.
Dados do CNJ (clique para ampliar):

O alto número de detentos do lado de fora das grades, que causou surpresa aos especialistas ouvidos pelo Diário Catarinense, é creditado por Takaschima à ação da Justiça catarinense nas sentenças dos crimes. Segundo ele, a política do regime aberto está no projeto da nova lei de execução penal que tramita no Senado:
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– Isso revela que, na verdade, Santa Catarina está fazendo um rigoroso filtro de quem deve permanecer preso. Esse rigor, além de cumprir as leis de execuções penais, alia-se à necessidade de se evitar que o déficit nas unidades prisionais catarinenses se agrave. Atualmente faltam 4,7 mil vagas no Estado – conclui o juiz.
A alta quantidade de pessoas nas ruas cumprindo medidas em regime aberto e prisão domiciliar segue a nova tendência do sistema prisional catarinense. Tanto a Justiça como o Departamento de Administração Prisional (Deap) apostam em penas e ações que evitem o ingresso nas cadeias. Por isso, ganharam força nos últimos anos as centrais de penas alternativas.
– Acho extremamente inteligente que se adotem outros meios para penalizar quem comete crimes. Não precisamos colocar dentro da cadeia aqueles que cometeram crimes de menor potencial ofensivo – defende o diretor do Deap, Leandro Soares Lima.
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Índice de espera por sentença está entre os menores
Santa Catarina se destaca no ranking do CNJ quando o quesito é o número de presos provisórios – ou seja, que aguardam sentença. Apenas 16% dos 30,8 mil ainda esperam por decisões judiciais. Quando os números se referem aos 16 mil presos que estão nas cadeias, o percentual é de 30%, ainda abaixo da média nacional, que é 41%.
– O índice de 30% é positivo. Passa a impressão de que estão respeitando a lei, evitando a prisão cautelar – opinou o presidente da Comissão de Assuntos Prisionais da Ordem dos Advogados do Brasil de Santa Catarina (OAB-SC), Victor Fontes.

A Justiça trabalha para que os detentos só entrem no sistema prisional depois de terem recebido a condenação. Somente em casos graves é que os presos devem aguardar sentença dentro dos presídios.
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Por isso, o Estado pretende, até o fim deste ano, reduzir para menos de 2 mil o déficit de vagas nas cadeias e, em 2015, colocar todos os presos condenados em penitenciárias e os que aguardam sentença em presídios.
Para o mestre em Ciência Jurídica e professor da Univali Alceu de Oliveira Pinto Júnior, a quinta colocação de Santa Catarina nas estatísticas de maior número de presos, aponta para um trabalho eficiente das forças de segurança:
– Mérito da polícia, que tem atuado bastante. Temos uma atuação destacada na segurança pública, que tem fama de resolutividade de crimes – elogiou.
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Apesar disso, pondera o especialista, o índice revela um alto número de crimes. A taxa é acentuada diante da constatação de que, em grande parte dos fatos ocorridos, não é feito registro de ocorrência.
16.366
é o número de detentos nas cadeias catarinenses
14.472
é o número de presos que estão em regime aberto ou prisão domiciliar
30.838
é o número total de presos em Santa Catarina
Fonte: Conselho Nacional de Justiça, dados de março de 2014