O pinhão catarinense deixou de lado o entrevero e a paçoca para se aventurar em outro Estado, num novo tipo de consumo gastronômico: a cerveja. Uma cervejaria do Paraná, a Insana, resolveu aproveitar o sabor e o aroma da semente típica dessa época do ano, e da Região Sul. E fez tudo isso de forma sustentável.
Continua depois da publicidade
Operação investiga corrupção na realização da Festa Nacional do Pinhão
A experiência já tinha sido feita ano passado, com pinhões coletados no próprio Paraná. Neste ano, pela primeira vez, os produtos vêm da Serra catarinense, dos municípios de Urubici e Urupema. Foram comprados 800 kg de três famílias de agricultores que vivem dessa produção de forma sustentável. Por causa da iniciativa, foram preservados 40 hectares de florestas de araucárias e mais um hectare completamente preservado – sem nem mesmo a coleta das pinhas que caem naturalmente das árvores.

Foto: Vani Boza / Agência RBS
Continua depois da publicidade
Os agricultores fazem parte do projeto Araucária+. E para tal, têm que seguir uma série de regras: a retirada do gado da área vinculada à produção sustentável, pois o pisoteio desses animais prejudica o crescimento de novas plantas, impedindo a regeneração da floresta; não realizar queimadas e nem utilizar agrotóxicos.
Em contrapartida, os produtores receberam R$ 4 pelo quilo do pinhão. Mais do que o preço médio da safra de 2015, na casa dos R$2,50 pelo mesmo peso.
– Não é pagar mais caro. É pagar mais correto – diz o mestre cervejeiro e sócio da cervejaria Insana, Pedro Reis.
Continua depois da publicidade
A bebida é produzida sazonalmente, apenas quando a extração do pinhão é autorizada. Para 2015 foram envasadas 45 mil garrafas, que têm como destino principalmente os mercados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O produto deve chegar às prateleiras dos supermercados ainda nesta semana.
– É uma cerveja extremamente complexa, do tipo Barley Wine, como um vinho de cevada. Densa e licorosa. Lembra pinhão cozido e mel, com um final amargo do lúpulo – explica Reis, para quem se interessar.

Foto: Divulgação
POTENCIAL NA GASTRONOMIA
A ideia da cervejaria é criar um processo industrial, dentro de um manejo sustentável, para o pinhão. Uma pequena porta de entrada para o alimento em uma gastronomia mais universal, apesar de ele ser quase onipresente na culinária regional.
Continua depois da publicidade
Pinhão está na lista dos produtos brasileiros ameaçados de extinção
Para se ter uma ideia, o primo europeu do pinhão, que vem do pinheiro europeu, chega ao Brasil custando R$ 100 o quilo. Por aqui, o preço no supermercado está próximo dos R$ 5. E o produto dificilmente chega a outras partes do próprio país.
PROJETO DE PRESERVAÇÃO
O projeto Araucária+ é uma parceria entre a Fundação CERTI e a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Ele surgiu em 2012 após um estudo que propôs um modelo de conservação e de valorização da floresta de Araucária, um ecossistema ameaçado de extinção – tem hoje 3% da área que tinha antes da colonização do país.
– Pagamos 40% a mais por esses produtos diferenciados. E dois dos produtores também receberam pelo trabalho de descascar o pinhão, feito em uma cooperativa – explicou o coordenador do projeto, Rafael Kanke, do Centro de Economia Verde da CERTI.
Continua depois da publicidade
No ano passado, um outro projeto ajudou a preservar 64 hectares dessas matas. O produto nativo, no entanto, era outro: a erva-mate. Usando critérios parecidos de sustentabilidade, foram exportadas para os EUA 20 toneladas do principal produto do chimarrão gaúcho e do chá-mate. Para quem não sabe, ele também é natural dessa floresta.

Foto: Adriana Franciosi / Agência RBS