“Era a minha fantasia de vida que virou meu pesadelo”, desabafa o homem de 82 que planejou e mandou construir o iate Casablanca. Imponente pelo seus 50 metros de comprimento, a embarcação brilhava pela Ilha de Santa Catarina com luzes coloridas e piscantes durante eventos de muita badalação nas noites de Florianópolis.
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No auge, entre os anos 2006 e 2009, uma vaga no iate era disputadíssima. Seu idealizador e apaixonado por barcos, Ony J. de Carvalho, sonhava desde menino com o barco. Natural de Florianópolis, aos oito anos de idade já navegava em uma canoa na Praia de Fora, atual Beira Mar Norte. A fantasia acabou quando o iate Casablanca foi embargado após uma decisão judicial, em 2009.
Atualmente, Carvalho olha o Casablanca apenas pela janela do seu hotel. Há quatro anos não entra na embarcação; não consegue suportar as lembranças. Ele mostra um quadro na parede com a foto do iate em plena atividade e sorri. Tem saudade.
Da vista da janela do Hotel Veleiros da Ilha é impossível não notar a gigante embarcação atracada. A pintura azul e branca já desgastadas pelas marcas do tempo, alguns reparos no casco, mas continua majestoso.
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Por dentro não tem mais o mesmo luxo da época do auge, algumas cadeiras descascadas aos cantos do salão central e no teto algumas tabuas estão penduradas. O piso do primeiro andar, de madeira escura, era onde dançarinos faziam a alegria dos visitantes com o badalado “Clube das Mulheres”, famoso na época.
No iate, com três andares também ocorriam casamentos e festas fechadas rodeadas de luxo e com as estrelas e o mar como testemunhas. A algazarra dos mais animados durante os embarques e desembarques, na madrugada, foi o que contrariou moradores e levou a ação do Ministério Público Estadual, em 2006.
Um sonho realizado
Em 2003 Carvalho idealizava seu iate. Era proprietário de uma Scuna para passeios turísticos e queria um barco maior e confortável para os passageiros. Em Navegantes, a 90 km da Capital, montou um estaleiro exclusivamente para construção do barco. Contratou engenheiros e mandou trazer as peças. Ele acompanhou tudo, conforme tinha planejado. Passo a passo, a construção do iate levou três anos e quando chegou à Florianópolis, em 2006, foi um grande sucesso.
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– A maior lotação foi na noite do Gala Gay, em um fim de ano. Apareceram 590 pessoas (lotação máxima) e ainda ficaram 100 querendo entrar. – lembra ele, com orgulho.
Carvalho conta que os idosos também eram um público sempre presente. Com um dia especial para eles servia chá e biscoitos aos tripulantes, que até hoje ligam para o hotel pedindo o retorno das festas promovidas.
Cerca de 30 funcionários trabalhavam na embarcação. Carvalho estava sempre presente. Apreciava ver o iate na ativa. Tinha uma suíte particular que descansava por algumas horas. No meio da noite, em alto mar, gostava de ligar as luzes e holofotes que deixava o Casablanca ainda mais reluzente sobre as águas.
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O fim da fantasia
Com as constantes reclamações de moradores em relação ao barulho, a tripulação tentou tomar algumas medidas como desligar os motores antes de chegar na orla e liberar grupos pequenos de 20 pessoas para evitar o barulho. Carvalho lamenta que nada adiantou em fevereiro de 2009 uma decisão judicial determinou que o Casablanca não poderia embarcar e desembarcar no trapiche do Iate Clube Veleiros da Ilha, no Bairro Prainha.
– Tive um prejuízo sem tamanho. Não tive apoio da Prefeitura, do Estado e de ninguém. Todo mundo contra e os turistas pedindo. Não dormi durante muitas noites.
Para a construção do seu sonho, fez um empréstimo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a dívida ainda está sendo paga em parcelas que terminam em 2017. Hoje, o dono quer vender seu barco, não quer mais lembrar e se livrar do passado.
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-Não tem nada igual a ele no litoral brasileiro. Mas aqui o pouco venceu o muito. 5% das pessoas reclamavam e outras 95% adoravam, mas não tive apoio. Tinha todos os alvarás, normas de segurança, enfermaria, coletes salva vidas, fazíamos demonstrações de emergência. Quando saiu a decisão tentei de tudo. Estava desesperado, tinha 25 eventos agendados, inclusive casamentos com convite no exterior-lembra.