Quem corta o cabelo consegue um novo look, uma nova moldura para o rosto, mas quem recebe a doação das madeixas ganha mais que uma peruca. As mulheres que procuram a Rede Feminina de Combate ao Câncer de Blumenauem busca do acessório, disponível para pacientes de toda a comunidade, se sentem renovadas ao sair com a autoestima lá no alto.

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— Muitas dizem que o cabelo era a identidade delas. Faz uma grande diferença, elas saem outra pessoa. Já vi paciente em que o marido acompanhou e quando ela apareceu com a peruca, ele não a reconheceu — conta Romy Machado, coordenadora do setor de Apoio a Pacientes Mastectomizadas da Rede.

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Histórias emocionantes de mulheres que saem da Rede empoderadas não faltam. A voluntária Sueli Roberti Cristofolin ainda se comove ao lembrar da história de uma senhora com mais de 60 anos beneficiada pela doação:

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— Ela soube que era gratuito e veio até aqui sozinha. Escolheu a peruca e ligou para alguém, no telefone dizia: “eu tô tão feliz, tô tão linda, tão linda”. Eu não consegui segurar, saí dali e chorei. Foi muito chocante, ela rejuvenesceu uns 20 anos.

A vice-presidente da Rede Feminina, Cléia Rosana Nebelung, ressalta que nem toda paciente com câncer opta pela peruca. Muitas preferem usar turbantes, toucas, apenas uma franja ou um acessório com cabelo embutido e até mesmo optam por assumir a queda dos fios, caso da maioria das atendidas pela Rede.

— Certa vez atendi uma senhora que queria uma peruca para ir especialmente na formatura do filho. Foi uma emoção imensa quando ela se viu no espelho. Você não consegue imaginar, só vendo. Fiquei quatro anos no setor e muitas pessoas passaram por lá, quando as perucas ainda eram sintéticas. Hoje todas são naturais.

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Doações aumentam a cada ano

O projeto nasceu em 2014, mas ganhou força a partir de 2015. Nos primeiros anos, as doações foram tímidas e aos poucos, com a divulgação, os cabelos começaram a aparecer cada vez mais — levados por mulheres e crianças até a recepção da Rede. Aliás, um caso especial chamou a atenção das voluntárias há menos de dois meses. Uma menina de 11 anos iria iniciar o tratamento contra o câncer e buscou a Rede, queria transformar o cabelo dela em uma peruca, que usaria assim que os fios ficassem ralinhos e caíssem.

— Ficamos todos comovidos e perguntamos para a cabeleireira Maria Gracinda Custódio, que voluntariamente confecciona as perucas para nós, se era possível. Ela fez e quando entregamos, a menina não queria mais largar. Os pais ficaram emocionados e depois disso, mensalmente a Maria produz ao menos uma peruca infantil, deixada no Hospital Santo Antônio.

As doações de cabelos vindos de todo o país aumentam a cada ano. Em 2015 a Rede Feminina recebeu 264 mechas, em 2016 foram 387 e até semana passada o número já chegava a 341 em 2017. Se em 2015 e 2016 foram feitas 54 perucas, disponibilizadas gratuitamente para as mulheres, neste ano a expectativa é ainda maior, pois 28 já foram feitas. Além da cabeleireira Maria Gracinda, responsável pela confecção das peças, a profissional Dorly Schoeninger faz o design das perucas.

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A Rede destaca que as perucas são emprestadas gratuitamente, mas devem ser devolvidas no fim de cada tratamento para que outras mulheres também possam usá-las.

— Ver a reação das mulheres faz toda a diferença. Cada dia a gente recebe algo delas, que dinheiro algum paga — conta Juçá Vargas, mestre em finalizar os penteados das pacientes.

SAIBA COMO DOAR

=> Para a confecção das perucas são aceitos cabelos de todos os tons, repicados ou retos, mesmo danificados, com tintura ou química. Para fazer uma peruca é necessário, no mínimo, 300 gramas.

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=> Para doar, peça ao cabeleireiro para amarrar os fios com elástico e secar antes do corte, que deve ter entre 10 e 15 centímetros. Depois leve pessoalmente à Rede Feminina (Rua Itajaí,150, Blumenau). Informações: 3322-8882.