Eduardo Penido e Renato Araújo fizeram história na vela. Foram os primeiros brasileiros a disputar a Regata Jacques Vabre, entre a França e Itajaí. Mesmo pioneiros, preferem ser chamados de incentivadores. Em entrevista ontem, após concluírem a travessia transatlântica, os dois afirmaram que querem ser exemplo para que mais jovens se interessem pelo esporte e para que haja incentivo aos competidores deste tipo de regata.
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– A gente não queria fazer história, o que a gente queria fazer é empolgar outras tripulações, outros grupos para apoiar velejadores jovens. É um esporte diferente, que não é comum no Brasil, mas que é muito empolgante. Com a travessia, a gente quer mostrar que é viável e que dá retorno para os apoiadores – afirma o campeão olímpico, Eduardo Penido.
VÍDEO: Velejadores falam sobre os desafios durante a travessia
Para Penido, a parceria com Renato era o que faltava para que o sonho de disputar a Jacques Vabre se tornasse realidade. Ele confessa que ficou com receio de não ter uma equipe boa, porém o colega superou as expectativas durante o trajeto.
– Apesar do nosso pouco treino, a gente se adaptou bem ao barco e fizemos mais do que eu esperava. O começo da regata foi muito difícil, a gente tinha receio do barco quebrar, o vento era muito forte. Passando isso, a gente voltou a correr, se preocupou em passar os outros e em defender a posição. O Renato me ajudou bastante. Acho que foi fantástico, estou louco para gente fazer uma nova prova – conta.
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O sexto lugar na Class40 foi mais que uma conquista para a dupla. Eduardo e Renato enfrentaram ondas gigantes, condições meteorológicas extremas, ventos fortes, duas velas quebradas e um joelho infeccionado.
– Foram 28 dias de prova, competindo 24 horas contra os melhores velejadores internacionais, tentando andar no ritmo deles. O objetivo era terminar e fomos muito além das nossas expectativas. A descida do Golfo de Gascoigne foi um desafio muito maior porque tinham tempestades muito fortes na região. E a técnica para enfrentar essas tempestades é ir em direção ao centro dela e a gente fez isso três vezes. Nos primeiros 10 dias era questão de sobrevivência e manter o barco inteiro, o que nem todo mundo conseguiu fazer, porque as condições eram duras- comenta Renato.
Lazer que virou coisa séria
Para o empresário do ramo de TI foi um desafio extra participar da Jacques Vabre. Renato começou a velejar em 2007, apenas como hobby. Quando aceitou patrocinar o barco que leva o nome de sua empresa, a Zetra, precisou superar diversos obstáculos. Um deles foi a adaptação à comida:
– Já tinha feito teste com a comida e não tinha me adaptado muito bem. O problema maior é a adrenalina do momento, aí não desce nada. Eu fiquei 10 dias comendo pão e sardinha, que era só o que o estômago aceitava – explica Renato.
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Passados os perrengues no mar, os dois se emocionaram na chegada ao Brasil. Em Itajaí foram recebidos com festa, frutas e caipirinha. A dupla conta que ainda não tem planos para o futuro, mas pretende manter a parceria. A partir de agora trabalharão na divulgação do projeto Zetra em outros centros de vela e planejando um calendário para 2016.
Amor a bordo
Enquanto o velejador Renato Araújo saiu do barco direto para um restaurante, a primeira coisa de Eduardo Penido fez depois da travessia da Regata Jacques Vabre foi dar um beijo na mulher, Inge Penido. Casados há 30 anos, os dois se conheceram na época em que Penido foi campeão olímpico em Moscou. Inge também competia em algumas provas de vela e os dois acabaram se apaixonando através do esporte. A parceria os levou para uma viagem de barco que durou um ano. Só depois é que veio o casamento.
– O mais difícil nessa regata foi a falta de comunicação com ele. Eu só conseguia acompanhar algumas coisas pela internet e dava uma agonia, fiquei muito preocupada, mas deu tudo certo. Era o sonho dele competir na Jacques Vabre e ele conseguiu – conta Inge.
