Depois da condenação pedagógica que a Justiça de Ibirubá aplicou em seis acusados de adulterar leite com ureia e formol, as expectativas agora se voltam para os julgamentos que ocorrem em outros municípios do norte gaúcho. Os processos se referem a irregularidades em Três de Maio, Horizontina, Ronda Alta, Guaporé, Boa Vista do Buricá e cidades vizinhas.
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Na quinta-feira, o juiz da comarca de Ibirubá, Ralph Moraes Langanke, condenou seis acusados a penas que chegam a 18 anos e seis meses de cadeia, mais multas diárias. É uma sentença de primeira instância, portanto os réus poderão recorrer ao Tribunal de Justiça do Estado e a cortes superiores. Ontem, o promotor público Mauro Rockenbach anunciou que mais julgamentos estão a caminho.
– Respondem pelos mesmos crimes, de adulteração de alimento, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro – ressaltou Rockenbach.
A sentença de Ibirubá é a primeira desde que foi lançada a operação Leite Compen$ado, em 8 de maio, pelo Ministério Público Estadual (MPE) e o Ministério da Agricultura. O promotor acredita que a próxima também virá da Justiça de Ibirubá. Ela se refere a cinco acusados que respondem em liberdade.
Eles se envolveram no mesmo esquema de adulteração do grupo recém-condenado. O processo foi dividido em dois, ambos a cargo do juiz Langanke.
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Um dos julgamentos que levará mais tempo, por ser recente, é o de Três de Maio, resultado da terceira fase da operação Leite Compen$ado. Em novembro, Rockenbach e sua equipe descobriram que o transportador Airton Jacó Reidel teria adulterado o alimento num galpão com três resfriadores, próximo ao centro da cidade. Era ajudado pela mulher, Rejane Dias, e pelos sobrinhos Roberto Carlos e Laércio Baumgarten.
O núcleo de Três de Maio não teria ligações com os fraudadores que se utilizavam de ureia e formol. A estratégia de Airton Reidel, para aumentar o volume do leite e lucrar mais na venda, segundo o MPE, era adicionar bicarbonato de sódio e água oxigenada.
Onde o MPE detectou adulteração no alimento
Núcleo de Ibirubá
Grupo 1
Daniel Riet Villanova, veterinário e líder do grupo
João Cristiano Pranke Marx, transportador
Alexandre Caponi, transportador
Angelica Caponi Marx, mulher de João Cristiano
João Irio Marx, dono do galpão onde ocorriam as adulterações e pai de João Cristiano
Paulo Cesar Chiesa, transportador
Acusação: adicionavam ureia, água e formol no leite, que depois era transportado para o Paraná
Situação: condenados na quinta-feira a penas que chegam a 18 anos e seis meses de reclusão, mas podem recorrer
Grupo 2
Rosilei Geller, funcionária de Daniel Villanova
Natalia Junges, informante dos transportadores
Cleomar Canal, motorista
Egon Bender, produtor rural que cedia a conta bancária para lavagem de dinheiro
Senald Wachter, produtor rural que adicionava ureia no leite
Acusação: participavam do mesmo esquema que misturava ureia e formol ao leite
Situação: aguardam julgamento em liberdade
Núcleos de Ronda Alta, Boa Vista do Buricá, Horizontina e Guaporé
Processados: Larri Lauri Jappe, empresário e vereador, e Leandro Vincenzi, empresário
Denunciados pelo MPE: Antenor Pedro Signor* e Paulo Rogério Schultz, transportadores
*Aceitou delação premiada (segue no processo, mas a pena é reduzida pela metade)
Acusação: misturavam ureia e formol no leite e tinham a fórmula para adulterar o alimento
Situação: em julgamento
Núcleo de Três de Maio
Airton Jacó Reidel, transportador
Rejane Dias, mulher de Airton
Roberto Carlos Baumgarten, sobrinho de Airton
Laércio Rodrigo Baumgarten, sobrinho de Airton
Acusação: adicionavam água oxigenada e bicarbonato de sódio ao leite
Situação: em julgamento
Indústrias acionadas pelo Ministério Público Estadual
BRF (leite Batavo)
LBR (leite Líder e Bom Gosto)
Goiasminas (leite Italac)
VRS (leite Latvida, também envasava Hollmann, Goolac e Só Milk)
Vonpar (leite Mu-Mu)
Situação: todas as empresas foram chamadas para assinar um termo de ajustamento de conduta (TAC). Apenas Vonpar e VRS recusaram. O MPE move ação civil pública contra a Vonpar. A VRS foi interditada pela Secretaria da Agricultura em agosto, e a Santa Rita Laticínios arrendou a indústria de Estrela em dezembro.
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