Os portões do Presídio Regional de Joinville se abriram e tudo que o presidiário Pedro Paulo Cunha, de 64 anos, quis fazer foi voltar para a cela. No segundo dia do regime semiaberto, ele não resistiu à liberdade e retornou à prisão.
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Pedro não tinha para onde ir e decidiu escrever uma carta para o juiz da Vara de Execuções Penais de Joinville, João Marcos Buch. No manuscrito, ele solicita a suspensão do restante das portarias por não ter local fixo para ficar nas saídas temporárias. A história foi contada no domingo à noite, no programa Estúdio Santa Catarina, da RBS TV.
– Ele teve consciência de voltar. Muitos ficariam perdidos e foragidos – salientou Buch.
No regime semiaberto, a pessoa pode sair da prisão durante sete dias, cinco vezes ao ano. Pedro recusou mais de um mês de liberdade a cada ano de detenção, diante dos quatro que já passou encarcerado. O crime de estupro o levou para o outro lado das grades, de onde escreveu, há mais de dois meses, a carta que se tornou combustível de crítica à sociedade nas mãos do juiz.
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Para o magistrado, é preciso haver uma casa do egresso em Santa Catarina, o que tornaria menos impactante o momento de passagem da prisão à liberdade. Buch afirma que os detentos perdem o contato com mundo na prisão e não sabem onde estão postos de saúde ou como devem pegar um ônibus. Muitos não têm nem para onde ir.
Buch define pessoas como Pedro de “prisionalisadas”, que desaprenderam a viver em liberdade e temem ser estigmatizadas na saída, além de perder o vínculo familiar. Por isso, a recusa à liberdade ou saída temporária. Buch analisou a situação de Pedro e lamentou a falência do sistema.
Cartas expressam sentimentos
Enquanto o manuscrito de Pedro Paulo Cunha levou o juiz João Marcos Buch à indignação, a resenha enviada por Claudineia de Fátima dos Santos, que ficou oito anos presa e hoje está em liberdade, despertou a emoção.
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A mulher foi condenada por tráfico de drogas e participou do projeto de leitura voltado aos detentos da Penitenciária de Joinville. Ela leu o livro O Menino do Pijama Listrado, que conta a história de um menino alemão que se torna amigo de um judeu e acaba separado dele pela cerca de um campo de concentração.
Em Joinville, o detento que ler um livro em 20 dias e resumi-lo em dez reduz a pena em quatro dias. A resenha é enviada a estudantes da Univille, que reconhecem ou não a leitura dos textos. Depois, o juiz recebe o material e decide pela aprovação da diminuição de dias na pena.
Nas cartas, os presos expressam pedidos de trabalho, de informação sobre a família e de melhores condições de saúde.
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