Com fortes dores na cabeça e falta de apetite, o aposentado Matias Boegr Rohling, 57 anos, foi informado, na manhã de segunda-feira, que não havia clínico-geral para atendê-lo no Pronto-atendimento Norte, no bairro Costa e Silva, em Joinville. Como seu caso não era de urgência nem emergência, ele seria atendido pelo médico que chegaria às 13 horas.

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Resolveu esperar por lá mesmo. Enquanto isso, reparou que os trabalhos de limpeza, que seriam realizados com jatos de água, estavam paralisados. Por quê? Porque não tinha água no hidrante de incêndio e a pressão das demais torneiras do PA estavam baixas.

– Como pode isso? É uma vergonha um pronto-atendimento sem o fornecimento ideal ao menos de água. Se já não bastasse a falta de médicos…-, lamentou.

Nas poucas horas que o aposentado ficou no PA Norte, foram constatadas três falhas: a falta de médico, problema no fornecimento de água e a falta de estrutura – problemas como mofo e sujeira que precisam de limpeza. A denúncia sobre os problemas estruturais foi mostrada em “A Notícia” ainda no começo de maio, quando funcionários dos PAs mostraram maçanetas quebradas, rachaduras na parede e até medicamentos vencidos.

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A pedido da própria Secretaria de Saúde de Joinville, a Vigilância Sanitária realizou em maio uma vistoria nos PAs e notificou estes problemas. No fim do mês, a Prefeitura pediu mais 30 dias para consertar as falhas. O prazo pedido à Vigilância se encerra dia 23 deste mês. Mas não deve ser cumprido porque será preciso lançar editais.

– Houve fogo de palha para arrumar a situação assim que chegou a notificação. Mas passaram-se duas semanas e tudo voltou a ser como antes -, observou um médico que atua nos PAs Norte e Leste.

Mudanças

De acordo com a Secretaria de Saúde, desde a notificação, alguns pontos foram modificados. Os equipamentos utilizados nos atendimentos estão sendo guardados em locais ideais. No PA Sul, por exemplo, os materiais foram flagrados expostos em uma pia.

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– Agora, durante a desinfecção desses equipamentos, temos verificado até o uso de roupas especiais -, informou o médico denunciante.

Outra medida tomada pela secretaria foi criar uma portaria que proíbe a entrada de representantes de empresas farmacêuticas nos PAs. Amostras grátis de medicamentos não podem ser deixadas no PAs. Essas amostras é que estariam vencidas, segundo a Prefeitura.

Reforma só depois de 60 dias

Para consertar os problemas mais sérios, como rachaduras, mofo e pinturas, um edital de licitação precisa ser aberto.

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– Isso pode levar de 60 a 90 dias para sair -, explicou o diretor dos PAs Norte e Leste, Álvaro Cesar Ricardo Júnior.

– Essa providência é necessária. O PA Norte já existe há dez anos, e nunca passou por uma reforma -, complementou o médico.

Para a manutenção e troca de ralos e maçanetas, também é preciso lançar uma carta-convite.

Para o presidente do Conselho Municipal de Saúde de Joinville, Valmor Machado, a situação dos PAs já foi debatida com o prefeito Udo Döhler, assim como o atendimento no São José, por exemplo.

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– Eles nos pedem um voto de confiança, dizem que não têm dinheiro em caixa, pedem mais tempo para arrumar as coisas. Mas a população que necessita do serviço não pode esperar -, salientou o presidente.

Na reunião que ocorre com a diretoria do conselho nesta terça, o assunto será mais uma vez debatido.

Sobre as queixas do aposentado Matias contra o PA Norte, Álvaro comentou que não existe defasagem no plantão dos clínicos-gerais.

– Mas ocorrem imprevistos. O médico até foi trabalhar, mas estava doente, com faringite, e precisou pegar atestado.

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Sobre a falta de água, o hidrante já teria sido consertado.

PA Leste perto de virar UPA

A indicação e a pintura com o símbolo do governo federal já fazem parte do cenário do PA Leste de Joinville. No entanto, a unidade ainda não ganha o repasse mensal de R$ 300 mil e espera a assinatura da presidente Dilma Rouseff sobre a criação da Unidade de Pronto-atendimento (UPA). Apesar da burocracia, o PA já está apto a ser transformado em UPA – unidade que realizará atendimentos pré-hospitalares de urgência e emergência.

Segundo Álvaro Cesar Ricardo Júnior, poucas coisas precisaram ser modificadas para atender às exigências do Ministério da Saúde. Foi instalado um novo gerador de energia, foi criado mais um leito de emergência – que totalizam três leitos, além dos 12 leitos de observação para adultos, 12 de observação pediátrica e um de isolamento.

A novidade é que desde segunda-feira o serviço de raio x passou a ser 24 horas. Antes, o atendimento era oferecido das 7 às 23 horas.

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– No começo, poderá ter alguma defasagem porque estamos arrumando os horários dos técnicos -, já avisou o médico responsável.

Outro ponto que prejudica é a falta de pediatras, uma exigência do Ministério da Saúde.

– Hoje, não temos pediatras no PA Leste da meia-noite às 7 horas. Mas como este é um problema nacional, inclusive a rede privada está sentindo a falta de pediatras, o Ministério da Saúde deve autorizar a criação da UPA mesmo assim -, disse Álvaro.

A expectativa é de que em 60 dias o PA Leste, oficialmente, passe a ser chamado de UPA. A unidade atende a cerca de 400 pessoas por dia.

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O PA Sul, o mais movimentado da cidade, também deve virar UPA. Mas seu processo de transformação será mais complexo. A unidade terá de passar por uma reforma completa, que terá uma contrapartida de R$ 1 milhão do governo federal e mais R$ 1,2 milhão da Prefeitura. O PA será ampliado e, por enquanto, não receberá reformas pontuais.