Um velho fantasma voltou a assombrar o Hospital Municipal São José, em Joinville, há pouco mais de uma semana: a superlotação. Na manhã desta terça-feira, a Prefeitura se antecipou ao ato de paralisação realizado pelos servidores do pronto-socorro entre às 11h30 e 13h30 e apresentou duas medidas para amenizar o problema.

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Uma delas é a suspensão temporária das cirurgias eletivas – casos em que não há urgência e emergência de o paciente ser operado – e outra é a transferência de oito pacientes estáveis para outros hospitais. Pelo menos quatro, iriam nesta terça para o Bethesda, em Pirabeiraba, na zona Norte.

Até a tarde desta terça-feira, segundo a direção do São José, havia 102 pacientes internados no pronto-socorro, apesar de o setor contar com 47 leitos.

Descontente com as propostas, o Sindicato dos Servidores Públicos dos Municípios de Joinville, Garuva e Itapoá (Sinsej) aproveitou a paralisação feita pelos servidores para ouvi-los quanto aos gargalos do hospital.

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Das sugestões feitas pelos funcionários, surgiram cinco propostas:

– contratação de médicos hospitalistas – médicos que atuam como facilitadores transitando por todos os setores do hospital, que podem agilizar altas médicas e autorizações de exames, procedimentos que os residentes não têm autonomia para fazer

– presença de dois anestesistas e de equipe técnica em número suficiente para a utilização do centro cirúrgico geral e do centro cirúrgico ambulatorial 24 horas por dia – hoje o Sinsej afirma que as salas são utilizadas apenas durante o dia, até às 16 horas

– ampliação da oferta de exames de alto custo realizados fora do hospital, como a ressonância magnética, que é necessária para liberar pacientes que sofreram AVC, por exemplo

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– identificação e assistência social para pacientes que receberam alta, mas ainda estão na unidade porque a família não vai buscar

– manutenção da suspensão temporária das cirurgias eletivas.

Essas propostas serão apresentadas ao prefeito Udo Döhler e à direção do hospital em reunião marcada para as 10 horas desta quarta-feira.

A direção do São José reconhece que a situação está complicada e atribui a superlotação aos pacientes de alta complexidade atendidos pelas áreas em que o hospital é referência – ortopedia e traumatologia, neurocirurgia, oncologia e transplante de órgãos – que necessitam de um tratamento mais longo e, portanto, ocupam leitos por mais tempo.

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O aumento no trânsito nesta época do ano, aliado à maior ingestão de álcool, já que muitas pessoas estão aproveitando as férias e viajando mais, colaboram para o aumento no número de acidentes, segundo o secretário Municipal de Saúde, Armando Dias Pereira Junior.

Isso impacta diretamente na demanda do pronto-socorro do hospital, responsável pelo atendimento de toda a região Norte do Estado, cerca de 1,3 milhão de pessoas. Além disso, de acordo com o diretor do São José, Marcos Luiz Krelling, houve um aumento de 24% para 26% no número de atendimentos de pacientes da região em relação ao ano passado.

Sinsej denuncia reflexos no atendimento

A superlotação está causando desconforto para os pacientes e servidores do pronto-socorro do Hospital São José. Para o enfermeiro Ignaldo Galvão Lima, que trabalha há três anos no hospital, erros podem ocorrer a qualquer momento.

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-Estamos expondo os pacientes a riscos. A gente não consegue nem transitar pelo pronto-socorro-, desabafa Ignaldo.

Segundo ele, os pacientes estão dispostos a uma distância de 30 centímetros um do outro e um mesmo suporte de soro está atendendo até quatro pacientes ao mesmo tempo. O Sinsej também denuncia que cada técnico em enfermagem está atendendo hoje, em média, dez pacientes ao mesmo tempo, quando o ideal seriam seis.

A demanda em excesso também está, conforme o Sinsej, comprometendo a qualidade do atendimento aos pacientes. Nem todos estariam tomando banho, sendo alimentados e tendo os curativos trocados com frequência devido à falta de tempo dos profissionais. Dessa forma, estariam apenas recebendo a medicação.

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A refrigeração do pronto-socorro também está sendo prejudicada pela superpopulação e tem a situação piorada ainda mais nos momentos de visita.

O técnico em informática Djonathan Tamanini, 28 anos, deu entrada na emergência na manhã desta terça-feira por causa de pedras nos rins e permaneceu no setor até o início da tarde.

-Está cheio, parece uma cena de guerra, tem maca por tudo quanto é canto.

Confira vídeo gravado por médico que mostra a superlotação no hospital:

Contraponto – Prefeitura

O secretário Municipal de Saúde, Armando Dias Pereira Junior, afirma que a Prefeitura está investindo no Hospital Municipal São José. Cita os 49 leitos entregues no fim do ano passado e a contratação de 35 novos profissionais entre enfermeiros e técnicos.

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Armando também destaca os R$ 14 milhões repassados pelo governo do Estado para a ampliação dos leitos de UTI, que, segundo ele, devem saltar de 14 para 35 até o fim deste ano.

Ele reconhece que a superlotação atrapalha todo o funcionamento do pronto-socorro, comprometendo desde o trabalho dos médicos, dos enfermeiros, dos técnicos em enfermagem ao pessoal da limpeza. Além de exigir mais de todos os profissionais.

— Estamos com dificuldades, mas estamos atendendo todo mundo que entra aqui. Acontece que a saúde é inesperada. Você nunca sabe o que vai acontecer-, afirma Armando.

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Contraponto – Sinsej

Conforme o vice-presidente do Sindicato dos Servidores Públicos dos Municípios de Joinville, Garuva e Itapoá (Sinsej), Tarcísio Tomazoni Junior, a intenção dos servidores

não é cruzar os braços, mas sim encontrar uma solução.

O Sinsej atribui a superlotação no Hospital Municipal São José à falta de prioridade na política municipal, mas também ao descaso do governo do Estado que, de acordo com a entidade, abandonou completamente o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt e, por causa disso, demandas crescentes começaram a recair sobre o São José, que, apesar de municipal, faz as vezes de regional.