O prefeito de Araquari, João pedro Woitexem, decretou situação de emergência no município do Litoral Norte do Estado na manhã desta quinta-feira por causa da falta de água. Um dos bairros mais afetados é o Itinga, que fica na divisa da cidade com Joinville. No local falta água há mais de dez dias.

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Revoltados com a situação, os moradores do Itinga fecharam na manhã desta quinta a via de acesso à BR-280, que leva as praias de Barra do Sul, São Francisco do Sul e Joinville. A manifestação, que começou por volta das 6h30 só terminou às 8h30 desta quinta. Com a interrupção da via, houve congestionamentos nos dois sentidos da rua Waldomiro José Borges, que liga Joinville a Araquari.

Na tarde de quarta-feira, o prefeito de Araquari se reuniu com o superintendente regional da Casan, César Luis Cunha, e juntos foram ao bairro Itinga para definir uma ação de emergência e resolver a situação.

Como medida paliativa, a Casan está comprando caixas de água de 25 mil litros que vão ser instaladas em vários pontos do bairro para abastecer as casas. Quatro caminhões pipa também vão reforçar o abastecimento, passando nas residências e enchendo as caixas dos moradores.

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– Já de imediato a Casan está licitando a construção de poços no bairro, iniciando com três e seguindo com mais, se for necessário – informa Woitexem.

A Casan não vai cobrar as faturas emitidas durante o período de falta de água para os moradores que não tiveram suas casas abastecidas. Para informações sobre como isentar a conta de água nesse período, os moradores devem ligar para a unidade de Araquari no telefone (47) 3423 1602.

“A demanda é maior que a produção”, diz Casan

A Notícia – Por que está faltando água no bairro Itinga?

César Luis Cunha (superintendente da Casan na região Norte) – A demanda é maior que a produção, o consumo é muito grande. A água abastece primeiro Joinville, depois o que sobra vai para o Itinga. Como o consumo aumentou, quase toda a água é consumida em Joinville e não sobra para nós. O relógio não consegue manter 20 litros por segundo, que é o que compramos.

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AN – Quantas pessoas estão sendo afetadas pela falta de água?

César – Cerca de quatro mil pessoas do bairro Itinga. No bairro também há os loteamentos Santa Mônica, São Benedito e Santo Antônio. Mas não é todo o loteamento, por exemplo, que não tem água, é a parte mais alta. Como está vindo pouca água pelas redes de distribuição, a quantidade não é suficiente para fazer pressão e levar o líquido até os pontos mais altos.

AN – Moradores do Itinga alegam que há anos falta água durante o verão, mas que em anos anteriores eram abastecidos durante a madrugada. Neste ano, nem isso. A Casan fez investimentos para evitar esse desabastecimento?

César – É que para esta região do Itinga compramos água da Águas de Joinville, não é um investimento nosso. Existe um projeto para começar a captar água do rio Piraí. O orçamento de R$ 4,3 milhões já foi aprovado. Ele contempla desde captação, a estação de tratamento próxima ao rio, a rede de distribuição e o reservatório no Itinga. Encaminhamos para licitação e a obra deve começar no primeiro semestre deste ano.

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AN – Qual será a capacidade de abastecimento após o início da captação no rio Piraí?

César – Essa estação vai ter capacidade para 50 litros por segundo, inicialmente, o suficiente para abastecer 20 mil pessoas, o dobro da população da região do Itinga, que hoje é de cerca de 10 mil pessoas.

AN – Vários moradores denunciaram mal atendimento por parte dos funcionários da Casan. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

César – Já tinha conhecimento disso, gostaria de acreditar que não fosse verdade, mas como várias pessoas falaram acredito que seja. Tenho só uma mulher que trabalha no atendimento e até já conversei com ela. Vou afastá-la dali. Colocá-la em outro setor, porque ela não pode ficar no atendimento, se ela não está bem.

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“Vamos perfurar poços artesianos”, diz prefeito

AN – Captar água do rio Piraí será a solução definitiva?

João Pedro Woitexem (prefeito de Araquari) – É uma obra importante e necessária, mas é de médio prazo. Agora, precisamos de uma solução pontual. Temos pessoas que estão há 15 dias sem água. Entendemos que a situação é terrível. Por isso, estamos levando para as regiões mais altas caixas de água de 25 mil litros, que vamos conectar à rede de distribuição e abastecer com caminhão-pipa. Às vezes, o caminhão-pipa passa e não tem gente em casa e aquelas pessoas ficam sem água. Em paralelo, vamos perfurar poços artesianos para ter mais uma alternativa.

AN – O decreto de emergência é para facilitar a execução das obras?

Woitexem – Com o decreto, a Casan vai poder comprar imediatamente novas caixas de água e contratar empresas para perfurar poços.

AN – O que provocou a falta de água na região Norte de Araquari?

Woitexem – A Águas de Joinville estava mandando sete litros por segundo, oito litros por segundo, quando tinha de mandar 20 litros por segundo e alegava que havia vazamentos. Fizemos vários contatos e a Casan afirmava que resolveria. Nós jamais imaginamos que fecharam o registro porque não tinha mais água. Estamos pagando uma conta alta, talvez pela ingenuidade.

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AN – Vocês pretendem romper o contrato com a Águas de Joinville?

Woitexem – Não tenho esse tipo de poder. Cabe à Casan tomar uma medida. Não precisa parar de comprar, é só cobrar o contrato judicialmente. Não posso fazer nada quanto a isso porque a responsabilidade é da Casan.

AN – Com a vinda da BMW e de outras empresas para Araquari, como a Prefeitura pretende atender a essa demanda crescente?

Woitexem – Temos um projeto a longo prazo. A Casan deve construir no rio Itapocu, em Guaramirim, a maior ETA (estação de tratamento) do Estado. Essa ETA vai abastecer Araquari, Barra Velha, Jaraguá do Sul, Guaramirim e até Joinville. Eles (Casan) querem inverter: ao invés de comprar água da Águas de Joinville, querem vender. Isso é a longo prazo.No primeiro semestre, a estação do rio Piraí começa a ser construída. A outra é para 2015. A conclusão não sei te dizer, porque é algo grande. Também está saindo uma ETA mais modesta no rio Pernambuco, no Centro da cidade.

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O que diz a Águas de Joinville

A Companhia Águas de Joinville negou que não esteja mandando água para Araquari. O presidente da Companhia, Roberto Luiz Carneiro, admite que durante o dia há momentos que são enviados sete litros por segundo, quando o contrato prevê 20 litros por segundo, mas atribui isso ao excesso de consumo, que diminui a pressão da água e, por causa disso, o líquido não chega aos pontos mais altos da zona Sul de Joinville.

No entanto, a Águas de Joinville informa que durante a noite, quando o consumo diminui, a pressão alcança picos de 37 litros por segundo.

-Estou chateado com essas coisas que estão falando, que o problema é da Águas de Joinville. Se a Casan tivesse construído mais reservatórios em Araquari nos últimos anos, com o pico de 37 litros por segundo que eu mando à noite, não estaria faltando água-, afirma o presidente.

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O outro motivo, segundo a companhia, são os vazamentos. Somente na madrugada de quinta-feira, a Águas de Joinville informou que os técnicos encontraram 40 vazamentos, entre ocultos e visíveis, no Itinga.

Os funcionários trabalham de madrugada porque é o momento que a pressão da água aumenta e fica mais fácil identificar as falhas, explica Roberto. Além disso, no período noturno o movimento de carros diminui consideravelmente, o que permite o trabalho da equipe da companhia.

-Um dos nossos técnicos suspeita de um grande vazamento na Monsenhor Gercino, que vai ser checado nesta madrugada (sexta-feira)-, conta Roberto.

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O presidente da Companhia também critica a instalação de duas caixas de água de 25 mil litros que a Casan pretende fazer no Itinga para restabeler o abastecimento. Segundo Roberto, uma caixa de água de 25 mil litros tem capacidade para abastecer 25 famílias.