Um bairro inteiro de Araquari, no Norte do Estado, não recebe água potável há pelo menos sete dias. Em algumas casas, localizadas nos pontos mais altos, a água não chegou ainda em 2014. É o loteamento Santa Mônica, um dos bairros mais populosos de Araquari, com cerca de cinco mil pessoas, e o maior colégio eleitoral da cidade.
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Nas quatro principais ruas do bairro – Santa Fé, Santa Mônica, Santa Felicidade e Helena Soares – é comum encontrar baldes, galões e caixas d’água em frente das casas, à espera dos caminhões-pipa que estão abastecendo emergencialmente a região.
Na última sexta-feira, a Polícia Militar foi chamada para intervir porque os moradores exigiam que o caminhão pipa subisse uma das ruas que não era abastecida há mais de uma semana. Como a rua não estava na rota prevista pela Casan, o motorista só foi liberado depois que policiais militares intermediaram a divisão da água.
Para garantir o banho das crianças e água para lavar roupas, a família Ferreira improvisou um curioso sistema. Na ponta da calha do telhado, eles instalaram um pedaço de tecido que serve de coador, impedindo que folhas e pequenos insetos desçam até um galão que capta a água da chuva.
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No recipiente, Lucinéia e o marido, Vanderson, colocaram outro pano que faz uma segunda “purificada” na água. Depois, eles despejam tudo em uma piscina nos fundos da casa. Essa água abastece a família de quatro pessoas e vários vizinhos, que buscam o líquido em baldes ou litros de refrigerante.
-A gente não sabe mais para quem apelar. O problema é que se não fizerem uma caixa d’água aqui em cima, todo ano vai ser assim. A gente paga a água em dia-, diz Lucinéia, que tem a responsabilidade de economizar o que pode na limpeza da casa e das roupas.
A prioridade são os filhos: Peterson, de sete anos, e a pequena Taís, com apenas 15 dias. Nesta terça-feira, de tanto insistir pelo telefone, ela conseguiu sensibilizar a Casan e os motoristas do caminhão-pipa, que levaram os últimos 200 litros da viagem da tarde para a caixa d’água da família.
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O problema
A falta de água, segundo os moradores, é constante desde o final dos ano 1990, quando o bairro começou a crescer rapidamente, mas o problema nunca foi tão grave. Apesar de pertencer à cidade de Araquari, o bairro é abastecido pela Companhia Águas de Joinville.
A Casan tem um contrato que prevê a entrega de 20 mil litros por segundo, mas nos últimos dias o volume tem ficado em torno de sete mil litros por segundo. Há cinco anos, um terreno chegou a ser comprado para a construção de uma caixa d’água, mas o projeto não avançou. Alguns moradores chegaram a abrir poços nos terrenos, mas muitos deles também secam nessa época do ano.
No próximo dia 4, às 18 horas, os moradores devem lotar pelo menos dois ônibus para ir até a Câmara de Vereadores, na sessão de abertura do ano Legislativo. A ideia é sensibilizá-los para conseguir os recursos necessários para a construção do reservatório no alto do bairro antes do fim do ano.
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Contraponto da Águas de Joinville
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Companhia Águas de Joinville, admite que, por causa do alto consumo desta época do ano, alguns pontos da região Sul estão com o abastecimento comprometido.
Segundo a companhia, isso ocorre não apenas para os moradores de Araquari, mas para bairros de Joinville também. Como a região do Santa Mônica é mais distante e mais alta, a água realmente não chega com a pressão suficiente para abastecer o bairro.
A solução viável, de acordo com a Águas de Joinville, é a inauguração de uma nova adutora no rio Piraí, prevista para março deste ano.
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Contraponto da Prefeitura
O prefeito João Pedro Woitexen (PMDB), disse que vai intermediar alguma solução emergencial entre a Casan e a Águas de Joinville. Segundo ele, uma alternativa é a autorização para a perfuração de poços artesianos de emergência, em locais estratégicos do loteamento.
-O povo está sofrendo mesmo. Infelizmente, eles têm razão. Amanhã vou tentar esse acordo com a Casan para perfurar os poços artesianos. É uma situação de emergência para aquelas pessoas.
Contraponto da Casan
O superintendente da Casan para o Norte do Estado, Cesar Luis Cunha, disse que virá à região nesta quarta-feira para buscar uma solução com a Águas de Joinville e a própria equipe da estatal na cidade.
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A superintendência que atende toda a região fica em Rio do Sul, no Vale do Itajaí. Segundo ele, o volume de água fornecido pela Águas de Joinville está muito abaixo do estipulado no contrato.
-Se a Águas de Joinville conseguisse manter os 20 mil litros por segundo, seria suficiente para abastecer a região, mas isso não está acontecendo.
Quanto a uma solução definitiva, Cunha diz que a melhor opção é a nova adutora do Piraí, mas que, enquanto ela não for inaugurada, estuda a transferência de parte da água do Centro ou do Porto Grande para a região do Santa Mônica. Esta é uma das alternativas que serão discutidas nesta quarta.
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